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Amor próprio

O mês de Junho é, em todo o mundo, o mês em que se celebra…

Opinião de Alexa Santos

©Lisboeta Italiano

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O mês de Junho é, em todo o mundo, o mês em que se celebra o Orgulho LGBTQIAP+ (lésbico, gay, bisexual, trans, queer, intersexo, asexual, pansexual e mais). Em Portugal é também quando acontecem muitas das marchas de orgulho. No entanto, ainda em Julho, rumámos a Beja para o primeiro Pride da cidade, para Barcelos para a 2ª Marcha de Orgulho que voltou a sair à rua e para Braga que pela nona vez gritou pelas ruas:

“Nem menos! Nem mais! Direitos Iguais!”

Neste mês de Julho, enquanto saímos à rua, sempre a responder a perguntas como: porque é que ainda é importante fazer uma marcha pelos direitos das pessoas LGBTQIAP+, foram várias as notícias que vieram a público de violência homofóbica e transfóbica.

O Francisco Soares, mais conhecido por KikoisHot, uma pessoa conhecida no meio LGBT pelo seu canal de Youtube mas também pela participação na série Casa do Cais e por vários posicionamentos relacionados com ser abertamente gay e ter uma expressão de género feminina, foi vítima de uma ataque homofóbico e transfóbico por parte de três locutores da Rádio AVfm, de Ovar, no programa "O Rei manda". (Ler mais aqui.)

Em Viseu, um grupo de dirigentes do partido Chega começou por insultar uma pessoa que passava junto a um café perto da sede do partido devido à sua expressão de género. Estes insultos acabaram em agressões físicas, perseguição e intimidação. (Ler mais aqui.)

Na Madeira, um jovem foi impedido de assistir a uma aula por ter as unhas pintadas de preto enquanto ouvia de um professor dizer que “não tolera homossexuais nas suas aulas”. A denúncia foi feita via Facebook por um familiar do jovem (como podem ler na imagem) e gerou uma onda de apoio que deu origem à campanha #UnhasSemGénero.

Depois destes relatos estarão a pensar porque é que o título do artigo hoje é AMOR PRÓPRIO!

Dificilmente pensamos no tamanho do amor próprio de cada pessoa que escolhe sair à rua igual a si mesma tem por si.

Dificilmente entendemos quão confiante é uma pessoa que, ao preparar-se para enfrentar a vida todos os dias, diz:

  • Hoje vou cortar o cabelo curto;
  • Hoje vou meter este batom;
  • Hoje vou para a escola de unhas pintadas;
  • Hoje vou sair à rua igual a mim. Independentemente do que possam dizer, do que possa acontecer. Independentemente do que a sociedade poderá pensar, da violência que vá receber.

Saber-se quem se é apesar de nos dizerem que é errado, que é uma doença é um ato de amor, de amor por si, de amor por se ter a certeza de se saber ser quem se é.

Dificilmente entendemos o caminho trilhado diariamente por pessoas LGBTI+ para serem quem são mas como diz Alok Vaid-Menon no podcast “The Man Enough” - Homem o suficiente (tradução livre) precisamos urgentemente de compaixão:

“Umas das coisas das quais não falamos o suficiente é que não sabemos como ver-nos mutuamente pelo que somos. Vemos a outra pessoa através do que pensamos que a outra pessoa deveria ser, (...) herdamos isso de dizer que a única forma das pessoas terem valor é se forem santas mas eu acredito que as pessoas têm valor por serem o oposto de santas e acredito realmente que existe uma dignidade apenas em sermos e não em fazermos. Ou seja, se acreditarmos que as pessoas têm dignidade por ser e não por fazer há uma certa misericórdia, um certo amor nutrido por todas as pessoas. Nós fomos condicionados/as/es a pensar que só podemos ser amados/as/es se seguirmos padrões que foram criados por outras pessoas. As pessoas nunca experienciaram o tipo de amor que eu ofereço porque o que eu digo aos homens é: “não tens de ser masculino, não tens de ser forte, não tens de ter resposta para tudo." O que estou a dizer aos homens é que têm a permissão para serem vulneráveis, que podem ser humanos e as pessoas não sabem receber esse amor. Eu acho que essa é a mudança de paradigma. Eu quero afastar-me das ideias do medo e o perigo porque estas fazem com que as pessoas não estejam prontas para receber amor. As pessoas foram ensinadas a recear as coisas que têm o potencial de as libertar. Isto não tem nada que ver com pessoas trans e não binárias, nunca foi sobre nós. Não é sobre a nossa aparência. É sobre o que as pessoas sentem e as pessoas não sabem sentir amor como aquele que temos. É por isso que comunidades marginalizadas são perseguidas. Não é por causa da nossa aparência, do que dizemos, das nossas identidades, dos nossos pronomes, das nossas nomenclaturas, da nossa linguagem, da nossa escolaridade, é por causa da presença de amor que as pessoas não podem/conseguem herdar nesta terra/vida. A razão pela qual há tanta violência dirigida contra nós é porque os homens não se amam a si próprios e por isso vêem o nosso amor-próprio (...) como um ataque. (Ver episódio completo aqui)

Dificilmente acreditamos na frase que ouvimos tantas vezes “a solução é o amor". Mas como diz Alok, a revolução será feita através de amar, de aceitar que há pessoas que se amam tanto que vão contra sociedades inteiras para serem iguais a si mesmas, para viver livremente e com dignidade simplesmente por serem e sendo quem são.

Hoje decidi falar de amor próprio porque temos de fazer o trabalho de amarmo-nos. Se nos amarmos a nós, amamos também os outros e a linha que me separa da outra pessoa fica cada vez mais ténue porque ela não é uma ameaça. O facto de ela ser quem é não diz nada acerca de mim, não me ataca, não me diminui. O desafio é este mesmo, entender que a diversidade é uma benção e que ser humano, com falhas, dúvidas, medos é aquilo que somos e tem tanto valor.

Amem-se!

-Sobre Alexa Santos-

Alexa Santos é formada em Serviço Social pela Universidade Católica de Lisboa, em Portugal, e Mestre em Género, Sexualidade e Teoria Queer pela Universidade de Leeds no Reino Unido. Trabalha em Serviço Social há mais de dez anos e é ativista pelos direitos de pessoas LGBTQIA+ e feminista anti-racista fazendo parte da direção do Instituto da Mulher Negra em Portugal e da associação pelos direitos das lésbicas, Clube Safo. Mais recentemente, integrou o projeto de investigação no Centro de Estudos da Universidade de Coimbra, Diversity and Childhood: transformar atitudes face à diversidade de género na infância no contexto europeu coordenado por Ana Cristina Santos e Mafalda Esteves.

Texto de Alexa Santos
Fotografia de Lisboeta Italiano

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