O Arquiteturas Film Festival volta ao Cinema São Jorge, em Lisboa, nos primeiros dias de junho, numa edição que vai discutir o colonialismo e que tem Angola como país convidado.
Este ano, sob o tema “Bodies Out of Space”, a iniciativa pretende “refletir sobre a construção social do espaço conectado a um fio que circula dentro de suas próprias narrativas de dominação. Narrativas também sobre identidade que muitas vezes é retirada ou forçada a representar o nosso corpo.” Segundo a organização, esta edição "é um pedido para pensar ativamente sobre a nossa responsabilidade como espectador, enquanto percorremos este labirinto de desigualdades como descendentes diretos da exploração do espaço e dos corpos."
O certame, que se realiza de 1 a 6 de junho, arranca com a exibição de Para Lá dos Meus Passos, de Kamy Lara e Paula Agostinho, seguindo cinco bailarinos de diferentes regiões do território angolano.
A programação inclui também a estreia em sala de Body-Buildings, do português Henrique Pina, que cruza dança, arquitetura e cinema no olhar para “seis retratos coreográficos em seis locais portugueses distintos”. Tânia Carvalho, Vera Mantero, Olga Roriz, Paulo Ribeiro, Victor Hugo Pontes e Jonas & Lander cruzam a dança com a arquitetura de Álvaro Siza, Eduardo Souto Moura, Aires Mateus, João Luís Carrilho da Graça e João Mendes Ribeiro.


Ao todo, serão exibidos 36 filmes, entre documentários, filmes de ficção, animação e obras experimentais, sempre com a marca da arquitetura contemporânea, com atribuição dos prémios Novos Talentos, Melhor Ficção, Melhor Filme Experimental e o Prémio do Público. A seleção, dividida em 22 sessões, inclui obras de países como Portugal, Itália, Israel, Alemanha, França, Bélgica, Países Baixos, Polónia, Ucrânia e Canadá.
A seleção oficial “discute questões como fronteiras ambientais, desigualdade racial, expansão urbana e a responsabilidade dos arquitetos em moldar não apenas os espaços, mas também as mentalidades”, é dito no website do certame. Já a secção de competição apresenta uma variedade de filmes experimentais, documentários e de ficção “que revelam como diferentes gerações de realizadores de todo o mundo retratam as condições do corpo humano no espaço”.
Além da mostra oficial e a competitiva, o evento debruça-se sobre Angola, onde "a confluência de tempos e regimes é visível na arquitetura, colonial, dos sobrados esclavagistas ao modernismo tropical, do Português suave ao neo-liberalismo, passando pelo arranha-céus asiático das novas centralidades", pode ler-se sobre o festival, que contará com uma "seleção de obras produzidas na história recente do país", com a curadoria da jornalista, escritora e produtora Marta Lança.
Ao lado da programação cinematográfica, o café do Cinema São Jorge recebe um ciclo de debates intitulado “África Habitat”, organizado em parceria com a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, e a exposição de instalações dos angolanos Lino Damião e Nelo Teixeira. Afonso Quintã organiza ainda uma mostra sobre os cineteatros de Angola, partindo de material do Cine-estúdio do Namibe, do arquiteto José Botelho Pereira.
Concebido pela Do You Mean Architecture e pelo Instituto, o Arquiteturas é uma coprodução com a EGEAC e o Cinema São Jorge, com vários outros parceiros e o apoio da Embaixada de Angola.