A Realidade Aumentada é uma evolução da Realidade Virtual. Mas, enquanto nesta o real é substituído por uma imagem artificial, na versão aumentada trata-se de integrar elementos virtuais num ambiente real. Ou seja, sobrepondo ao mundo real um outro criado digitalmente, tridimensional, dinâmico e interativo.
A tecnologia é acessível através de vários dispositivos, sendo os mais comuns os óculos e os smartphones. O utilizador coloca os óculos ou aponta o smartphone para um ambiente e sobre este surgem informações ou objetos que acrescentam algo ao mundo real. Daí a noção de aumentado. Uma rua passa a revelar, em sobreposição, toda uma série de informações sobre locais, serviços e outras indicações úteis ou uma pintura num Museu torna-se tridimensional, oferecendo dados sobre a obra, o autor, etc…
O potencial desta tecnologia para a criação artística é evidente. Desde logo na exploração da imaginação que se abre a infinitas possibilidades combinatórias entre real e virtual. A Realidade Aumentada cria um novo tipo de objeto de arte, distinto da pintura ou da escultura, pois do objeto de arte separado, se passa à construção de uma experiência imersiva.
Por outro lado, a Realidade Aumentada diversifica a experiência da interação em tempo real. Ao contrário de outras formas lineares de interação, presentes na prática artística, neste caso nada é passivo ou estático. A interação torna-se dinâmica, determinada pelo próprio ambiente, pelos objetos virtuais que o passam a habitar e pela ação do utilizador. Ou seja, na Realidade Aumentada a interação transforma-se numa imersão, num mergulho. Neste sentido, a Realidade Aumentada altera o conceito de obra de arte, pois neste modo ela torna-se líquida, imersiva, interativa e combinatória. Aliás, a obra não existe sem a experiência. E, já agora, sem um utilizador, ele mesmo ampliado com uma prótese digital, tal cyborg.
Reforça-se assim a individualidade da fruição estética, oferecendo a cada utilizador uma experiência única e intransmissível.
A Realidade Aumentada altera também o espaço convencional da arte. A Galeria de Arte, o Museu, a praça com a sua estatuária ou a parede grafitada, deixam de fazer sentido enquanto locais designados de fruição estética, porque o espaço se torna total, ou seja, contempla o próprio mundo.
Acresce que o carácter virtual desta forma de arte tem o mérito de não acrescentar mais matéria a um ambiente já tão sobrecarregado e poluído. Veja-se, por exemplo, a praga dos grafitis, que em nome da arte, enchem as cidades de verdadeiro lixo. A Realidade Aumentada é uma alternativa limpa e bem mais interessante.
Em conclusão, podemos falar de um novo tipo de arte. Que promete tornar-se cada vez mais presente na criação artística e sua fruição. Tanto mais que a evolução da tecnologia, em breve com o 5G, tornará cada mais indistinto o real e o virtual e permitirá uma crescente utilização da inteligência artificial.
-Sobre Leonel Moura-
Leonel Moura é pioneiro na aplicação da Robótica e da Inteligência Artificial à arte. Desde o princípio do século criou vários robôs pintores. As primeiras pinturas realizadas em 2002 com um braço robótico foram capa da revista do MIT dedicada à Vida Artificial. RAP, Robotic Action Painter, foi criado em 2006 para o Museu de História Natural de Nova Iorque onde se encontra na exposição permanente. Outras obras incluem instalações interativas, pinturas e esculturas de “enxame”, a peça RUR de Karel Capek, estreada em São Paulo em 2010, esculturas em impressão 3D e Realidade Aumentada. É autor de vários textos e livros de reflexão, artística e filosófica, sobre a relação Arte e Ciência e as implicações, culturais e sociais, da Inteligência Artificial. Recentemente, esteve presente nas exposições “Artistes & Robots”, Astana, Cazaquistão, 2017, no Grand Palais, Paris, 2018, na exposição “Cérebro” na Gulbenkian, 2019 e no Museu UCCA de Pequim, 2020. Em 2009 foi nomeado Embaixador Europeu da Criatividade e Inovação pela Comissão Europeia.