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Arte, Literatura e Comércio Local nos 25 anos do Grande Prémio de Literatura dst

Há 25 anos que o dstgroup organiza o seu Grande Prémio de Literatura e premeia,…

Opinião de Helena Mendes Pereira

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Há 25 anos que o dstgroup organiza o seu Grande Prémio de Literatura e premeia, alternadamente, escritores com obras de prosa ou poesia. Em 2019 teve lugar, inclusive, em parceria com o Instituto Camões, a primeira edição do Prémio de Literatura dstangola. A história deste quarto de século, de valorização da leitura, dos livros e dos seus autores, escrever-se-ia, de resto, em muitas páginas mas, no tempo e no espaço plenos desta curva da história que estamos a viver, decidimos celebrar a efeméride num roteiro que une Arte, Literatura e Comércio Local, na persecução de alguns objetivos que têm marcado a práxis do dstgroup e da zet gallery.

O primeiro destes objetivos é o da promoção de projetos multidisciplinares em que se cruzem diferentes disciplinas artísticas, mas também outros setores da nossa vida económica e social, combatendo o engavetamento dos saberes e as lógicas compartimentadas de experimentação e vivência do quotidiano. Lançamos o desafio a 25 artistas plásticos e visuais para que tomassem esta nossa aventura literária como exemplo e inspiração e produzissem uma obra de arte que tivesse como ponto de partida um livro e um autor, vencedores de uma das edições do Grande Prémio de Literatura dst: o Nuno Fonseca (n.1976) criou a partir de “Presságios do Sul” (1995) de José Manuel Mendes (n.1948); Rafael Oliveira (n.1996) de “A Porta Fechada” (1996) de Orlando de Albuquerque (n.1925); Sérgio Pimenta (n.1991) de “A Noite Dividida” (1997) de Sebastião Alba (1940-2000); Elizabeth Leite (n.1982) da “Geografia do Medo” (1998) de Francisco Duarte Mangas (n.1960); Francisco Ferro (n.1954) de “Um Segredo Guarda o Mundo” (1999) de Firmino Mendes (n.1949); Maria Emauz (n.1964) de “Vidas Vencidas” (2000) de Maria Ondina Braga (1932-2003); João Teixeira (n.1982) de “A Imposição das Mãos” (2001) de Vergílio Alberto Vieira (n.1950); Mariana Mizarela (n.1987) de “Fluviais” (2002) de José Leon Machado (n.1965); Raquel Gralheiro (n.1969) de “O Voo da Serpente” (2003) de Vergílio Alberto Vieira (n.1950); BeckenFilipe (n.1983) de “Fantasia para Dois Coronéis” (2004) de Mário de Carvalho (n.1944); Alvarenga Marques (n.1965) de “Repercussão” (2005) de Gastão Cruz (n.1941); Carla Cabral (n.1971) de “A Sopa” (2006) de Filomena Marona Beja (n.1944); Pedro Espanhol (n.1980) de “Geometria Variável” (2007) de Nuno Júdice (n.1949); Ludgero Almeida (n.1989) de “O Cónego” (2008) de A. M. Pires Cabral (n.1941); Lígia Fernandes (n.1985) de “A Terceira Mão” (2009) de Manuel Gusmão (n.1945); Florisa Novo Rodrigues (n.1991) de “Myra” (2010) de Maria Velho da Costa (1938-2020); Manecas Camelo (n.1964) de “O Verdadeiro Ator” (2012) de Jacinto Lucas Pires (n.1974); Joana de Carvalho e Silva (n.1988) de “De Amore” (2013/2014) de Armando Silva Carvalho (1938-2017); Nuno Raminhos (n.1971) de “Cláudio e Constantino” (2015) de Luísa Costa Gomes (n.1954); Do Carmo Vieira (n.1956) de “Bairro Ocidental” (2016) de Manuel Alegre (n.1936); Xana Abreu (n.1975) de “Astronomia”  (2017) de Mário Cláudio (n.1941); Juan Domingues (n.1981) de “Oblívio” (2018) de Daniel Jonas (n.1973); Gustavo Fernandes (n.1964) de “Estuário” (2019) de Lídia Jorge (n.1946)  e Manuela Pimentel (n.1979) de “Junto à Pedra” (2020) de Fernando Guimarães (n.1928) que brevemente receberá o prémio. Além destes 24, convidamos, ainda, o Pedro Figueiredo (n.1974), escultor, contrariando a regra dos acima mencionados e que trabalham maioritariamente nos campos da pintura e do desenho, para homenagear a poesia, género premiado em 2020. Presenteou-nos com “Calíope”, para suspender nos céus. À cidade, a Braga, oferecemos, a título perene, uma obra de arte para espaço público que encomendamos ao JAS, João Alexandrino (n.1981), e em que se conta a história destes 25 anos. O multi painel de azulejos marcará o Largo de São João de Souto onde, há um par de anos, a Feira do Livro de Braga regressou.

A partir do Largo de São João de Souto traçamos, então, um circuito de descoberta e valorização do comércio local. As 25 obras de arte estarão em exposição em 25 estabelecimentos comerciais emblemáticos da urbe: Café Vianna, Torrefação Bracarense, Casa dos Terços, Pereira das Violas, Centésima Página, Barbearia Vasconcelos, Livraria Bracara, Ferreira Capa, Frigideiras do Cantinho, Cardoso da Saudade, Franco Oculista, Remy Cabeleireiro, Cabeleireiro José Ayres, Bloom Flores e Eventos, Tubitek, Lavandaria Confiança, A Negrita, Chave D’ouro, Casa das Velas, Loja Janes Espaço Mulher, Retrokitchen, Brasileira Café, Vintage Alternative Store, Queijaria Central e Mercado de São João (Casa Centenária). Na extensão da cidade e do seu centro histórico, atravessado por algumas lojas com mais de um século de história, gerações de artistas plásticos e visuais e de escritores, são o exemplo de como, em sociedade, juntos somos mais fortes e de como a cultura é um campo complexo, mas o único com um potencial de transformação da espuma dos dias em bolas de sabão e paraíso.

O espaço público, e aqui desemboca o nosso segundo objetivo, tem feito parte das nossas reflexões e ações atuantes sobre o tempo e o espaço em que somos vida. Como escreveu Carlos Almeida Marques, “A hegemonia da cultura de rua sobre outro tipo de cultura mais institucional como a que está exposta nos museus, centros de artes, teatros e auditórios é hoje um fenómeno urbano incontornável. Não porque estas instituições tenham perdido importância enquanto centros focais de exposição da cultura e da arte, mas porque o espaço público vem a superar as insuficiências do modelo funcionalista para recuperar uma visão estruturalista da dimensão social e o sentido do lugar e as cidades voltaram a ser procuradas e identificadas pela vida urbana que oferecem.”[1] A experiência de intervenção no espaço público que, ao longo de décadas temos adquirido, quer através da implementação de obras de arte, da forma como pensamos a arquitetura dos edifícios que construímos e os eventos culturais que promovemos e ou apoiamos, enriquece-nos e aguça-nos a vontade para o papel que queremos ter, para a mudança que queremos ajudar a construir, numa sociedade em que a cultura une, educa e prepara cidadãos para decisões livres, democráticas e responsáveis. E é por isso que quando pensamos no nosso campus empresarial, na nossa galeria de arte, nos auditórios e museus do nosso futuro, os projetamos como grandes praças abertas a todos, ágoras da nossa pólis, onde queremos pensar o mundo, discutir o contemporâneo, tomando a Arte como mote e motivo, forma única de sermos eternos.

Por fim, um terceiro objetivo que esta iniciativa persegue: o reforço da importância do setor cultural e artístico como parte integrante da economia e da sociedade. Não um complemento, mas parte dos problemas e das soluções. Continuamos, durante este tempo pandémico, como sempre e como nas páginas do futuro que vamos escrever pelas nossas próprias mãos, a criar projetos e contextos de trabalho para os artistas de todas as áreas da criação. Não são apoios, não é aquela ajudinha e aquela palmadinha nas costas. Não. Vamos continuar a convidá-los para serem nossos parceiros e para fazerem parte dos nossos sonhos e de toda esta nossa utopia: mudar o mundo. 25 anos não são 25 dias e, ainda que sejam uma parte muito pequena do que virá, queremos assinalá-los com toda a dignidade que o momento merece.


[1] MARQUES, Carlos Almeida – “Espaço Público, Comércio e Arte Pública” in VÁRIOS – Arte Pública e Cidadania. Lisboa: Caleidoscópio, 2019 (2ª edição). Página 140.

-Sobre Helena Mendes Pereira-

É curadora e investigadora em práticas artísticas e culturais contemporâneas. Amiúde, aventura-se pela dramaturgia e colabora, como produtora, em projetos ligados à música e ao teatro, onde tem muitas das suas raízes profissionais. É licenciada em História da Arte (FLUP); frequentou a especialização em Museologia (FLUP), a pós-graduação em Gestão das Artes (UCP); é mestre em Comunicação, Arte e Cultura (ICS-UMinho) e doutoranda em Ciências da Comunicação, com uma tese sobre a Curadoria enquanto processo de comunicação da Arte Contemporânea. Atualmente, é diretora geral e curadora da zet gallery (Braga) e integra a equipa da Fundação Bienal de Arte de Cerveira como curadora, tendo sido com esta entidade que iniciou o seu percurso profissional no verão de 2007. Integra, desde o ano letivo de 2018/2019 o corpo docente da Universidade do Minho como assistente convidada. É formadora sénior e consultora nas áreas da gestão e programação cultural. Com mais de 12 anos de experiência profissional é autora de mais de 80 projetos de curadoria, tendo já trabalhado com mais de 200 artistas, nacionais e internacionais, onde se incluem nomes como Paula Rego (n.1935), Cruzeiro Seixas (n.1920), José Rodrigues (1936-2016), Jaime Isidoro (1924-2009), Pedro Tudela (n.1962), Miguel d’Alte (1954-2007), Silvestre Pestana (n.1949), Jaime Silva (n.1947), Vhils (n.1987), Joana Vasconcelos (n.1971), Helena Almeida (1934-2018), entre tantos outros. É membro fundados da Astronauta, associação cultural com sede e Guimarães e em 2019 publicou o seu primeiro livro de prosa poética, intitulado “Pequenos Delitos do Coração”.

Texto de Helena Mendes Pereira
Fotografia de Lauren Maganete

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