Não há coração que perdure fora da sua pele
E o âmago das palavras orna-se de metáforas, prosopopeias, elipses, pois que a nudez absoluta não tem perdão
A carne, sanguínea, palpitante, precisa de cobrimento
A velatura sobre o rosto, uma espécie necessária, face ao sentido das coisas
De nenhuma planta brotam flores sem nome, na utopia de um paraíso onde a liberdade
a ruína e o verde caule
entre os dois se reparte o dia
o passo vacilante
o lugar da fortaleza
ora se derruba a casa
ou se abriga a fértil colheita
nunca termina a torre o seu cume
a terra a sepultura
de uma e de outra
subirão equídeos e vermes
que mais se pode desejar
das planícies e das montanhas?
que outro fruto
que outra árvore que encanto ainda?
desenfreado vai o animal
viçoso o prado a água
na noite próxima afio a lâmina
o gume o sangue irmão
estarei à altura de olhar
estarei à altura de cegar
nos dedos não há perene verdade
ou mentira eternamente doce
-Sobre Jorge Barreto Xavier-
Nasceu em Goa, Índia. Formação em Direito, Gestão das Artes, Ciência Política e Política Públicas. É professor convidado do ISCTE-IUL e diretor municipal de desenvolvimento social, educação e cultura da Câmara Municipal de Oeiras. Foi secretário de Estado da Cultura, diretor-geral das Artes, vereador da Cultura, coordenador da comissão interministerial Educação-Cultura, diretor da bienal de jovens criadores da Europa e do Mediterrâneo. Foi fundador do Clube Português de Artes e Ideias, do Lugar Comum – centro de experimentação artística, da bienal de jovens criadores dos países lusófonos, da MARE, rede de centros culturais do Mediterrâneo. Foi perito da agência europeia de Educação, Audiovisual e Cultura, consultor da Reitoria da Universidade de Lisboa, do Centro Cultural de Belém, da Fundação Calouste Gulbenkian, do ACIDI, da Casa Pia de Lisboa, do Intelligence on Culture, de Copenhaga, Capital Europeia da Cultura. Foi diretor e membro de diversas redes europeias e nacionais na área da Educação e da Cultura. Tem diversos livros e capítulos de livros publicados.