fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Associação SaMaNe apresenta o primeiro relatório técnico acerca das experiências de racismo obstétrico em Portugal

O questionário “Experiências das Mulheres Negras e Afrodescendentes durante a Gravidez, Parto e Pós-parto em Portugal” foi lançado a 8 de março de 2021 pela Associação SaMaNe – Saúde das Mães Negras e Racializadas em Portugal. No dia 9 de setembro, no Largo Residências, foram apresentados os primeiros resultados oficiais, com base nos dados obtidos até ao passado mês de agosto.

Texto de Mariana Moniz

Imagem de Mustafa Omar via Unsplash

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

No dia 1 de janeiro de 2023, o Gerador publicou uma reportagem intitulada “Racismo Obstétrico: qual a realidade das mães negras?”, na qual evidenciou algumas das experiências obstétricas vividas por mulheres negras e afrodescendentes no nosso país. Para tal, contou com a participação e ajuda da Associação SaMaNe - Saúde das Mãe Negras e Racializadas em Portugal, criada pela socióloga Carolina Coimbra em julho de 2020.  

Tal como nos explicou a socióloga, a Associação foi fundada com o objetivo de “combater o racismo vivido pelas mães negras e racializadas em durante a gravidez, parto e pós-parto”. Uma vez que não existiam dados estatísticos que evidenciassem esta realidade em Portugal, a Associação lançou um questionário a 8 de março de 2021, no qual as mulheres poderiam revelar, de forma anónima, as suas experiências de racismo obstétrico.

Mais de dois anos depois, a 9 de setembro de 2023, a SaMaNe conseguiu lançar o seu primeiro relatório técnico com base nas respostas que foi recebendo ao longo desse período. Esta apresentação ocorreu no Largo Residências, nos Anjos, em Lisboa.

Tal como se pode ler no relatório, de acordo com os dados adquiridos, “apesar de as mulheres negras e afrodescendentes terem tido experiências positivas durante a gravidez, parto e pós-parto de um modo geral, ainda existe uma quantidade significativa de mulheres que vivenciaram momentos negativos nessas mesmas fases, tanto físicos como emocionais. É para essas mulheres, e para que as próximas não tenham de relatar os seus medos e traumas, que este trabalho existe”.

Em entrevista ao Gerador, Carolina Coimbra explicou-nos que estes dois anos foram necessários para “recolher o maior número de respostas. Sabemos que é um tema muito delicado e que nem sempre há disposição emocional para responder. Estamos a investigar um tema que não é falado em Portugal e somos das primeiras organizações a fazê-lo. A publicação deste relatório é um orgulho, estamos muito contentes com o resultado, mas sabemos que é apenas o início”.

De acordo com o mesmo relatório, “mais de um quinto das mulheres negras e afrodescendentes em Portugal afirmou ter sofrido violência obstétrica ao longo da gravidez”. Quase um quarto dessas mulheres afirmou ter sofrido o mesmo tipo de violência durante parto, situação que, com base neste relatório, veio a revelar-se associada à raça, à idade e/ou à condição social das mulheres inquiridas (158).

Os dados do questionário mostraram que 10,7 % das mulheres não se sentiu respeitada pelos profissionais de saúde durante a sua gravidez; 33,5 % sentiu-se humilhada e 41,1 % sentiu-se negligenciada pelos mesmos. O relatório revelou ainda que 76,6 % das mulheres não foi questionada sobre a posição em que queria ter o seu bebé, “predominando a posição litotómica (deitada de costas)”; 84,4 % não teve um acompanhante da sua escolha durante o trabalho de parto; e 65,2 % das inquiridas não recebeu informações claras acerca dos procedimentos que poderiam vir a ser realizados ao longo mesmo.

“Não estamos paradas”, remata Carolina Coimbra na nossa entrevista. “O questionário é apenas uma das formas [de evidenciarmos a existência dos casos de racismo obstétrico em Portugal], já que, para quase tudo, precisamos de dados como ponto de partida. [Também] temos estado em contacto com algumas organizações para [obter] parcerias e avançarmos junto da comunidade [com ações de] sensibilização e esclarecimento acerca dos seus direitos durante a gravidez e o parto”.

A apresentação do relatório no Largo Residências contou com a presença de profissionais de saúde, como a psicóloga e fundadora do Coletivo Afropsis, Miriam Pires dos Santos, alguns representantes de organizações que colaboram com a Associação SaMaNe - ou que, futuramente, pensam vir a colaborar - estudantes da área da Investigação e algumas das mulheres que relataram as suas experiências obstétricas no questionário.

Por fim, Carolina Coimbra esclareceu-nos que, por enquanto, a Associação não tenciona apresentar estes dados a instituições, como o Instituto Nacional de Estatística (INE), mas sim a “partidos políticos que já mostraram interesse em saber o resultado do questionário, bem como a profissionais de saúde e outras organizações que querem trabalhar em colaboração com a nossa associação”. Para além disso, a socióloga disse-nos ainda que o questionário permanecerá em aberto para quem quiser revelar a sua história de violência obstétrica, deixando claro que, de um modo geral, “as mulheres já começam a exigir mais os seus direitos” e a reconhecer que esse é um momento que “deveria ser positivo, e não uma experiência traumática nas suas vidas”.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

1 Maio 2025

Literacia mediática digital além da sala de aula 

22 Abril 2025

“Pressão crescente das entidades municipais” obriga a “pausa criativa” dos Arroz Estúdios

17 Abril 2025

Estarão as escolas preparadas para os desafios apresentados pela IA? O caso de Portugal e da Bélgica 

17 Março 2025

Ao contrário dos EUA, em Portugal as empresas (ainda) mantêm políticas de diversidade

6 Janeiro 2025

Joana Meneses Fernandes: “Os projetos servem para desinquietar um bocadinho.”

23 Dezembro 2024

“FEMglocal”: um projeto de “investigação-ação” sobre os movimentos feministas glocais

18 Dezembro 2024

Portugal é o país onde mais cresceu o risco para o pluralismo mediático entre UE e candidatos

4 Dezembro 2024

Prémio Megatendências tem candidaturas abertas até 15 de dezembro

28 Novembro 2024

Reportagem do Gerador motiva alteração ao OE

27 Novembro 2024

“O trabalho está feito, e muito bem feito.” VALSA e CORAL coletivo vão fechar portas

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

3 MARÇO 2025

Onde a mina rasga a montanha

Há sete anos, ao mesmo tempo que se tornava Património Agrícola Mundial, pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), o Barroso viu-se no epicentro da corrida europeia pelo lítio, considerado um metal precioso no movimento de descarbonização das sociedades contemporâneas. “Onde a mina rasga a montanha” é uma investigação em 3 partes dedicada à problemática da exploração de lítio em Covas do Barroso.

20 JANEIRO 2025

A letra L da comunidade LGBTQIAP+: os desafios da visibilidade lésbica em Portugal

Para as lésbicas em Portugal, a sua visibilidade é um ato de resistência e de normalização das suas identidades. Contudo, o significado da palavra “lésbica” mudou nos últimos anos e continua a transformar-se.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0