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Ativa Clima: “Jovens são um grupo importante para a luta climática”

Já está no ar o Ativa Clima, um projeto que visa motivar os jovens a envolverem-se na luta climática. Islene Façanha explica-nos como funciona.

Texto de Isabel Patrício

Fotografia cortesia de Associação Zero.

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Ainda que a luta contra as alterações climáticas venha conquistando um sentido reforçado de urgência, a participação dos jovens portugueses ainda está “muito aquém do esperado”. Quem o diz é Islene Façanha, especialista em políticas sobre energia e clima e responsável pelo Ativa Clima, um projeto europeu que visa envolver as camadas mais novas da população na questão em causa e que, em Portugal, está a ser desenvolvido pela Associação Zero.

Numa conversa por Zoom, Islene Façanha pinta-nos o retrato da consciencialização dos portugueses para a ação climática e explica-nos que ferramentas e iniciativas fazem parte deste novo projeto, que quer também criar alianças com mais organizações e entidades, em prol do futuro do planeta.

Gerador (G.) – O Ativa Clima foi para o ar em maio. Como é que surgiu este projeto e que objetivos tem?

Islene Façanha (I. F.) – Este projeto tem âmbito europeu, [uma vez que] somos 20 organizações de diversos países, como França, Espanha e Hungria. O objetivo é fomentar a consciencialização dos jovens para a luta climática. Por exemplo, no âmbito nacional, ainda vemos que a participação dos jovens está muito aquém daquilo que é esperado. Este projeto visa, assim, trazer motivação aos jovens para participarem na luta climática.

G. – Porquê especificamente os jovens e não o público mais geral? Há um afastamento em relação à luta climática particularmente entre as camadas mais novas da população?

I. F. – O projeto é para toda a gente, mas [focamo-nos nos] jovens, porque queremos despertar o bichinho [da luta climática]. Como no futuro esses jovens poderão ser os decisores políticos, terão influência no âmbito das políticas. Por outro lado, os jovens também influenciam muito as suas famílias. Então, a partir dos jovens, podemos alcançar todas as gerações. [Os jovens] são um grupo importante para a luta climática.

G. – Além do site, têm workshops e exposições. Que iniciativas compõem o Ativa Clima?

I. F. – O projeto implicou um trabalho de um ano a criar conteúdos, porque a linguagem das alterações climáticas ainda é, muitas vezes, científica. Tive uma formação sobre a comunicação das alterações climáticas em âmbito nacional. Também fizemos muita investigação com os jovens. Fiz um grupo focal no ano passado para estudar as melhores narrativas e a forma como comunicar com os jovens. Foi um trabalho muito detalhado sobre como passar a mensagem aos jovens em Portugal. É diferente passar a mensagem aos jovens que estão em Portugal e aos jovens que estão na Alemanha ou em Espanha. Este projeto foi desenhado para atingir os jovens que estão em Portugal. Temos várias iniciativas, como uma exposição itinerante. O projeto vai à comunidade, às escolas. Também temos documentários e debates. A intenção do projeto é construir pontes. Falta ainda muito a cultura de coordenação e articulação em Portugal entre as organizações e as diversas entidades. É um projeto que quer criar alianças, porque a luta climática é de todos nós.

G. – Sente que há influência efetiva dos jovens sobre o comportamento das suas famílias?

I. F. – Sim, principalmente os mais pequeninos. Já vi testemunhos de pessoas que têm filhos pequenos e que dizem que os filhos voltaram da escola e disseram para não usarem o carro, mas, antes, a bicicleta. [As crianças] influenciam muito os pais. Estes pequenos exemplos podem contar muito para o futuro. Com pequenos grandes passos, conseguimos avançar imenso. Os jovens também influenciam muito os pais a alterarem os hábitos diários praticados em casa. Os jovens influenciam muito os avós, os pais, os irmãos. É um ciclo de mudança. 

G. – Disse, numa entrevista recente, que os jovens se sentem, contudo, perdidos, no sentido em que não sabem que ferramentas têm à disposição para a luta climática. Como é que este projeto pode mitigar esse sentimento?

I. F. – Foi uma das conclusões dos grupos focais. Vários jovens disseram que querem muito participar da ação climática, mas não têm ferramentas, não têm um guia. Na página do Ativa Clima, temos imensa informação, que é direta e visualmente apelativa. Não é uma mensagem [numa linguagem] científica. Muitos dos jovens também sentem um determinado medo de encontrar informação errada sobre o assunto. Nesta página, têm muito conteúdo, muitas ferramentas e recomendações, além de um guia para o jovem que quiser, por exemplo, iniciar a ação climática com os colegas da escola, os vizinhos ou os amigos. É uma página muito completa e, além disso, temos um quiz, que pode ser adotado pelas escolas e universidades, e que pode desafiar o conhecimento dos jovens sobre as alterações climáticas.

G. – Nos últimos anos, as redes sociais têm servido também como plataformas para o ativismo. Entende que a luta feita no mundo digital é importante ou tem poucos efeitos práticos?

I. F. – Os ativistas influenciam muitos jovens, porque estes vivem hoje muito no mundo digital. Os ativistas que surgiram nas plataformas digitais impulsionaram muito o ativismo dos jovens, mas ainda precisamos de mais esforços. Temos imensas ferramentas já para trabalhar com jovens e os jovens têm todas as ferramentas para começarem a ação climática. É mais uma questão de motivação.

G. – Por outro lado, a ecoansiedade tem conquistado atenção, nos últimos tempos. O Ativa Clima aborda esta questão, de algum modo?

I. F. – Não diretamente, mas é um tema que pode surgir, por exemplo, nas conversas que temos nas comunidades que visitamos. Quando vamos às comunidades, temos convidados e podemos convidar organizações ou até ativistas que trabalhem com a ecoansiedade, porque vemos cada vez mais jovens a sofrerem com esse problema. Não só os jovens, todas as pessoas que trabalham com as alterações climáticas estão a sofrer cada vez mais [com ecoansidedade].

G. – Ainda assim, sei que defende que temos de manter a esperança viva e ser, de certo modo, otimistas. Como manter esse sentimento, perante o atual cenário e todos os alertas que vão sendo emitidos?

I. F. – Por exemplo, quando vamos a uma escola e vemos alguns alunos a falarem com tanta propriedade [sobre a luta climática], esses são os sinais de que preciso para ter motivação e para continuar minha luta. Nestes jovens, com os quais faço um trabalho diário, vejo uma esperança. E até nalguns pequenos avanços legislativos, como a Lei de Bases do Clima, que foi aprovada no ano passado em Portugal. A partir desses pequenos grandes avanços, há motivação para nossa luta também diária. Precisamos avançar cada vez mais com um sentido de urgência, porque the clock is ticking [o tempo está a passar, numa tradução livre].

G. – Como é que a pandemia afetou a luta climática?

I. F. – A pandemia chamou muita atenção [para a questão climática], porque as futuras pandemias também são um retrato das alterações climáticas. As projeções que temos indicam que [as pandemias] acontecerão cada vez mais, porque a alteração do clima provoca mudanças na biodiversidade e isso afeta muito a saúde humana.

G. – Mas isso terá levado as pessoas a ficarem mais sensíveis à luta climática e mais motivadas para fazerem algo em prol do planeta?

I. F. – Vi muito no meu trabalho a questão da ecoansiedade e a ligação que as pessoas começaram a fazer [entre a pandemia] e as alterações climáticas. Isso gerou pânico e as pessoas começaram a ficar um tanto preocupadas. O problema bateu à nossa porta, e isso fez com que as pessoas ficassem mais ativas na luta climática.

G. – E a guerra em curso na Ucrânia, que impacto tem tido nesta luta? A subida dos preços dos combustíveis deu um ânimo especial a essa luta?

I. F. – A guerra veio trazer um impulso para começarmos a transição [energética], que já deveria ter começado há muito tempo. Temos de ser mais ambiciosos, cada vez mais ambiciosos. A guerra foi mesmo um motor para essas mudanças, mas temos de ter ambição nessa transição [energética] ou será tarde demais.

G. – Dito isto, quais serão os próximos passos do Ativa Clima? Que iniciativas se seguem?

I. F. – Já levamos a exposição itinerante para uma escola nas Caldas da Rainha e foi um sucesso. Mais de 230 alunos participaram na exposição e gostaram muito. O feedback foi que a exposição trouxe muita informação, consciencialização e também um sentido de emergência climática. Agora estamos no final do ano letivo, mas no próximo ano teremos muitas viagens pelo território nacional para levar o projeto a vários pontos do país, principalmente àqueles em que as iniciativas não chegam com tanta frequência. Muitas vezes, as informações estão concentradas ainda em grandes cidades, como Lisboa, Porto e Coimbra. Queremos levar o projeto para pontos do país aos quais a informação ainda não chega com tanta frequência.  E firmar parcerias com organizações locais. É muito importante a participação de todas as organizações em território nacional. 

G. – De olhos no futuro, quais deveriam ser as prioridades do país na luta contra as alterações climáticas?
I. F. – A transição para uma maior eficiência energética nos transportes e nos edifícios [é muito importante]. Temos também de ter muita atenção à questão da pobreza energética no país, porque temos um parque edificado obsoleto e devemos dar prioridade a esta questão. Depois, há também a questão do financiamento e do apoio para que as medidas avancem. É uma questão muito importante. Também é preciso ter metas mais ambiciosas. Portugal tem toda a capacidade de liderar nesta questão da transição climática. Já temos bons exemplos, como a eliminação do carvão.

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