fbpx
Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Bigorna: o olhar generoso de Julia Flamingo na democratização do acesso à arte contemporânea

Tudo começou em São Paulo, em 2018, pelas mãos da jornalista de arte Julia Flamingo….

Texto de Carolina Franco

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Tudo começou em São Paulo, em 2018, pelas mãos da jornalista de arte Julia Flamingo. Ao trabalhar como repórter e crítica na revista Veja São Paulo, entre 2015 e 2017, percebeu o papel que o jornalismo pode ter para desmistificar os códigos do universo da arte contemporânea e para conquistar novos públicos. Foi dessa vontade que nasceu Bigorna, o projeto que hoje alimenta a partir de Lisboa. 

À medida que ia fazendo o seu trabalho jornalístico surgiam questões recorrentes: “Como levar novos públicos aos espaços culturais? Como despertar o interesse de um público geral pela arte por meio do jornalismo? Como mostrar que a arte contemporânea não é um bicho de sete cabeças e está muito mais próximo da nossa realidade do que muitas pessoas imaginam?” Quando percebeu que conseguia respostas e ferramentas para as pôr em prática, decidiu criar o Bigorna, a plataforma que quer "ajudar a desmistificar a arte contemporânea e, ao mesmo tempo, ajudar as pessoas a criarem suas próprias opiniões sobre obras de arte, artistas, eventos polémicos, acontecimentos que são manchetes no mundo todo… mesmo que essa pessoa não tenha estudado anos de história da arte e não seja um frequentador assíduo de exposições”. 

O subtítulo escolhido por Júlia, “um olhar generoso sobre a arte atual”, reflete não só a visão do projeto mas também a gestão do seu conteúdo. "Meu grande foco é trazer o didatismo sem que ele venha acompanhado de um tom professoral e académico. Além disso, todo o conteúdo em texto, vídeo ou podcast está ligado a coisas que estão acontecendo, mas são atemporais. Então, mais do que a cobrir um evento como uma feira de arte, meu interesse é explicar o que é uma feira de arte e qual é a diferença entre uma feira e uma bienal, por exemplo. Mais do que noticiar a programação de um festival de videoarte, quero mostrar o que é a videoarte, para que ela serve e qual a diferença entre videoarte e cinema. O público-alvo é qualquer pessoa que se interessar”, explica Julia ao Gerador. 

https://www.facebook.com/bigorna.art.br/videos/281532266174451/?xts[0]=68.ARAr42AjEzZz7lq2izDatv4qijzUKCIVIGTpiB0lULNc2WDfHtesmqG6xLgNBHFA23Vhi0ywiY0kEwGULnmYRoJpGsHqbenm1O-OSh6bEuub9lnlMBmwKUti9nEZrLOm8NnF_Vfmq8qCJc4wg2ik29IeQijCGsRwnunlnyLj6rCL1yiRgbJxHuy0PjQzwcPXHSMNBvL5XkcBzQbVDibCjWV4SSOQv-K1PX8K3SdiDTleBdfnSJQ5xqCnX4n7Zq05hst7njVjkwGPVdDL_A1E0E9MyFyvie4dmza0cAgFIH59ym5nquVZybVJLBHnd9JM_S_KJpGm4e05kGl7_jqFL00zYABIDwgvIZuWKvCiS8_b&tn=-R
A partilha do Bigorna é feita não só pelo texto, mas também por outros meios como o vídeo

Se à partida Bigorna pode ser uma ponte entre o Brasil e Portugal através da arte, o objetivo do projeto acaba por ser “mais abrangente”: “criar conexões com o que está a ser produzido no mundo todo”. Agora a estudar Culture Studies, no mestrado da Universidade Católica de Lisboa, Julia conta que quando morava em São Paulo recebia “menos informação sobre o cenário da arte português” do que gostaria, mas agora que cá vive sente que “quanto mais puder levar a arte e os artistas portugueses para o Brasil, melhor”. Acaba por ser uma troca generosa entre o que vê e o que quer dar a ver. 

Por muito que os contextos artísticos de Portugal e do Brasil possam ser muito diferentes em Portugal e no Brasil - “no que concerne a oferta de eventos de arte nos dois países, a políticas culturais, ao ensino académico, à dificuldade em ganhar visibilidade enquanto artista ou curador, e também na formalidade do mercado” - há um ponto de convergência que Julia consegue apontar: “o facto de que nos dois países o cenário da arte contemporânea é muito fechado”.  "Quem circula pelos museus e galerias são sempre as mesmas pessoas, que são os profissionais do meio, os colecionadores ou os espectadores que já frequentam os espaços culturais há um bom tempo”, explica. Esse motivo é, na verdade, “o que dá cada vez mais fôlego” ao Bigorna. 

Para questionar e levar a arte contemporânea a novos públicos, Julia conta com uma equipa de quatro pessoas que se dividem entre São Paulo, Lisboa e Paris. Sofia Saleme, a diretora de arte - o seu braço direito e, por sinal, sua irmã - que, em São Paulo, produz vídeos, gere redes sociais, pensa em temas e “o que mais você imaginar”; Isabella Bianchin, a designer responsável pelo novo site, que também é brasileira, vive em Lisboa, e conheceu Julia numa das visitas guiadas do Bigorna; e finalmente as jornalistas Laura Rago, que escreve a partir de São Paulo, e Luana Ferrari, que comunica através de Paris.  

O Bigorna não vive apenas no online - a sua relação com o mundo físico até acaba por ser um dos seus trunfos - mas, neste momento, acaba por ter se de cingir ao seu site e às redes sociais. Julia conta que já antes do período de isolamento social “era um problema chamar a atenção do público para o conteúdo online” e que “agora, com todas as ofertas maravilhosas e criativas que existem na internet, ficou ainda mais concorrido”. Ainda assim, acredita que “todo mundo tem mais tempo para parar para ler e, mais do que isso, têm disponibilidade para construir um pensamento crítico, não aceitar tudo o que lê e assiste, e fazer sua própria curadoria do que vale a pena consumir, acreditar e tomar para si como válido”.

“O conteúdo do Bigorna está muito voltado a mostrar como a arte e os artistas nos apontam novas formas de viver. Queremos mostrar como muitas obras que estão sendo feitas hoje nos ajudam a olhar questões atuais como a Covid-19, a ascensão da direita, a crise de imigração, as crises climáticas, etc, de outra(s) maneira(s). O Bigorna mostra como a arte fala sobre a nossa realidade, sobre nossos medos e incertezas, e nos propõe novas maneiras de viver em sociedade”, remata Julia.

Com Bigorna, Julia Flamingo trabalha todos os dias para provar que a arte contemporânea não está apenas ao acesso de alguns e que pode ser uma ferramenta para fazermos leituras sobre os nossos tempos - e outros que já passaram. Podes saber mais sobre e acompanhar o Bigorna, aqui

Texto de Carolina Franco
Fotografia cedida por Julia Flamingo
Se queres ler mais notícias sobre a cultura em Portugal, clica aqui.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

16 Abril 2024

‘Psiquiatria Lenta’: Crónicas de João G. Pereira no Gerador editadas em livro

9 Abril 2024

Fernando Dacosta: “Baixou-se o nível das coisas que fomenta a infantilização das pessoas”

3 Abril 2024

Festival Bons Sons convida o público a viver a aldeia em toda a sua diversidade

2 Abril 2024

Mariana Vieira da Silva: Marcelo “será visto como alguém que contribuiu para a instabilidade”

26 Março 2024

Diana Andringa: “o jornalismo está a colaborar na criação de sociedades antidemocráticas”

19 Março 2024

Leonor Chicó: “no nosso quintal já se sentem os efeitos da crise climática” 

16 Março 2024

José Pacheco Pereira atribuiu nota 7 à probabilidade de uma guerra na Europa

12 Março 2024

A Open Food Facts quer empoderar os consumidores através da informação

5 Março 2024

Bolsa Amélia Rey Colaço abre candidaturas para 7ª edição

29 Fevereiro 2024

50 Abris: diferentes retratos da liberdade precisam de apoio para sair em livro

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Práticas de Escrita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação à Língua Gestual Portuguesa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Pensamento Crítico [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Narrativas animadas – iniciação à animação de personagens [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Soluções Criativas para Gestão de Organizações e Projetos [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Comunicação Digital: da estratégia à execução [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

O Parlamento Europeu: funções, composição e desafios [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online ou presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online e presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Produção de Eventos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

22 ABRIL 2024

A Madrinha: a correspondente que “marchou” na retaguarda da guerra

Ao longo de 15 anos, a troca de cartas integrava uma estratégia muito clara: legitimar a guerra. Mais conhecidas por madrinhas, alimentaram um programa oficioso, que partiu de um conceito apropriado pelo Estado Novo: mulheres a integrar o esforço nacional ao se corresponderem com militares na frente de combate.

1 ABRIL 2024

Abuso de poder no ensino superior em Portugal

As práticas de assédio moral e sexual são uma realidade conhecida dos estudantes, investigadores, docentes e quadros técnicos do ensino superior. Nos próximos meses lançamos a investigação Abuso de Poder no Ensino Superior, um trabalho jornalístico onde procuramos compreender as múltiplas dimensões de um problema estrutural.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0