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Bitaites da Resistência: A Palestina vai libertar-nos a nós

Na Revista Gerador 43, na crónica Bitaites da Resistência, que agora partilhamos contigo, Carolina Pereira aborda a intersecção do antissionismo e da solidariedade internacional, destacando a resistência palestiniana contra o colonialismo e a opressão, cujo impacto transcende fronteiras e desafia estruturas de poder globalmente.

Opinião de Carolina Pereira

©Estúdio Manifesto

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A empatia e solidariedade não deviam de vir de um lugar utilitário.

Não é preciso que seja sobre nós. Não é preciso que seja sobre a nossa própria libertação. Embora eu acredite que a liberdade de todos os povos, de todas as pessoas, é também a nossa própria libertação e a única que faz sentido.

Neste caso, acredito com convicção que a Palestina vai, sim, libertar-nos a nós.

É importante, para contexto, deixar escrito que anti-sionismo não é a mesma coisa que anti-semitismo. A propaganda do Estado de Israel tenta muitas vezes colar ou misturar os dois conceitos. Ser anti-semita é o preconceito, hostilidade ou discriminação contra judeus. No entanto, o projecto sionista (implementação do Estado de Israel) não é sobre religião. É um projecto imperialista e capitalista.

Ser anti-sionista, na sua génese, nem sequer é ser anti-pessoa-israelita, mas sim contra o Estado de Israel. Parece complicado, mas historicamente, não é assim tanto. Há israelitas judeus anti-sionistas por reconhecerem como foi o surgimento do Estado de Israel e aquilo a que se deve o seu crescimento.

Não sou anti-semita, nem é aquilo que vejo na maioria dos movimentos anti-sionistas. A maioria das pessoas que falam em anti-sionismo falam sobre o Estado israelita (a propaganda do Estado, as políticas do Estado, etc.) e não sobre as pessoas israelitas, ou judeus, enquanto indivíduos.

Aliás, aqui entre nós: parece-me um bocado óbvio que a maioria destas pessoas (que lutam pela libertação de um povo) não são pessoas xenófobas, e que isto não é sobre religião. Podemos querer comprar esse discurso para as descredibilizar? Podemos, e é isso que a propaganda israelita tem feito.

Vivendo em autênticas prisões a céu aberto, sendo-lhes roubada a àgua para depois lhes ser cobrada, apagando os seus arquivos, limitando o acesso aos seus recursos naturais,  prendendo e torturando as suas pessoas sem critério, sendo subjugados a técnicas de humilhação, sem acesso às plantações que são suas só para que depois tenham de comprar - ao seu colonizador - aquilo que foi produzido nas suas terras.

«Não precisamos de falar do nosso direito de resistir, porque não é um direito, mas uma forma de ser e de sobreviver para os palestinianos. […] A resistência, em todas as suas manifestações e formas, não precisa da pré-aprovação de leis e códigos internacionais estáticos. Os oprimidos não precisam de reivindicar autoridade sobre a sua própria opressão, os acontecimentos contínuos da história – a nossa história – é o que nos permite essa autoridade. [...] É nosso dever registar este momento não como vítima, mas como as pessoas que o recordarão, registarão, sobreviverão e resistirão.» – Sindicato dos Professores e Funcionários da Universidade de Birzeit, Palestina Ocupada

Estes anos (2023/2024) vão ficar registados historicamente como as datas em que os palestinianos enfrentaram – corajosamente – o fascismo colonial e gritaram em defesa das suas casas, da sua humanidade e da sua vida. Fazem-no com a preocupação de que as suas histórias não sejam apagadas. Conseguiram, com muito sacrifício, amplificar as suas vozes ao mundo. Fazem-no para que possamos construir uma memória colectiva. E ao fazerem isso, fazem-no também por nós.

A perspectiva palestiniana é intersecional com todas as lutas que atravessamos. A resistência palestiniana põe em causa o real poder das organizações internacionais (como as Nações Unidas, ou o Tribunal Internacional de Justiça), a noção de respeito pelas leis e os contratos que construímos enquanto sociedade (como limites pelos direitos humanos em estratégias de guerra e a aplicação de sanções caso não sejam cumpridos), ou a real diplomacia e democracia quando dois ou três países têm o poder de vetar decisões globalmente votadas.

A brutalidade monstruosa de um genocidio que tenta apagar completamente a memória da existência de um povo: queimando e destruindo tudo o que são provas materiais, e - enquanto deixa que os mais velhos morram por consequente falta de acesso à saúde e comida - fazendo dos principais alvos médicos, hospitais, jornalistas, mulheres, e crianças para não permitir o crescimento de novas gerações… torna-nos, a nós (reforço propositado), todos, as suas únicas testemunhas.

A resistência palestiniana reforça que o feminismo só faz sentido se for anticolonial, que ser-se anti-racista é sobre a libertação de todos os povos, que não existe «orgulho» LGBTQIA+ sem o direito à autodeterminação, que a luta de classes é de mãos dadas com todos os trabalhadores imigrantes que fogem de opressão nos seus países.

As raízes de tudo o que está errado, na base de todas estas lutas, são denunciadas quando aprofundamos a história da resistência palestiniana, e – por outro lado – reforçadas por uma ocupação genocida que está a acontecer à vista de todos.

Um ativista no Egipto publicou recentemente nas redes sociais: «Não estamos a libertar a Palestina. A Palestina está a libertar-nos. Os protestos são completamente proibidos no Egipto. É graças ao povo da Palestina e de Gaza que podemos saborear este pouco de liberdade. Devemos-lhes tudo. Tudo.»

Palestina livre. Sempre.

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

-Sobre a Carolina Pereira-

É ativista na área dos direitos humanos, feminismo e media, tanto no terreno, como fazendo uso das histórias para motivar a mudança e organizar movimentos grassroot. É fundadora da HUMAN (dontskiphumanity.com) –, centrada em mobilizar e capacitar uma nova geração de ativistas através de impact storytelling, e co-directora da Sathyam Project (Índia) – trabalhando na educação de raparigas para quebrar ciclos de pobreza nas suas famílias.

Texto de Carolina Pereira
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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