Black Friday - o desastre ou a oportunidade ideal? Francisco Ferreira
Esperar pela Black Friday para fazer uma compra necessária, a um preço consideravelmente mais baixo é, acima de tudo, uma decisão inteligente, mas que pode vir armadilhada.
A estratégia das empresas baseia-se na atração fatal de muitos consumidores por ofertas, brindes e promoções, que afeta a sua capacidade de decisão, acabando por levá-los a comprar aquilo de que não precisam e a um preço que muitas vezes nem sequer é o mais conveniente.
As corridas às promoções são muitas vezes manipuladas e enganam os mais incautos ou distraídos, que acabam por assumir gastos que não podem suportar.
Também as compras eletrónicas vieram facilitar o ato de comprar e acelerar ainda mais o instinto consumidor de muitos, que no recato da sua casa, concentrados no ecrã, acabam por se entusiasmar e comprar bem mais do que pretendiam.
Como nesta altura grande parte das compras são de bens não-essenciais, como roupa, sapatos, bijuteria, perfumaria, cosmética, jogos, brinquedos e tecnologia, convém apostar na organização:
- planear com antecedência;
- estabelecer um orçamento (a não ultrapassar) e o respetivo plano de pagamento;
- fazer um levantamento do que existe no mercado;
- selecionar cuidadosamente as várias opções adequadas.
Assim, quando chegar a hora “negra” podemos ir à caça do produto que nos é mais favorável, sem correr riscos desnecessários.
Deste modo, garantimos que não compramos por impulso ou acima do preço, que não ultrapassamos o orçamento disponível e, sobretudo, que não compramos o supérfluo, o excessivo, o que tem gratuitamente (porque não necessitamos) impacto negativo no ambiente e no consumo de matérias-primas.
O objetivo da luta pela sustentabilidade não é regredir décadas, mas sim alcançar uma economia do bem-estar, focada nas pessoas e respeitando os limites do planeta, substituindo a atual economia focada no crescimento desenfreado, que tantos impactos negativos tem sobre o nosso ecossistema global.
Tecnologia? Claro! Mas precisamos mesmo do último grito do mercado assim que é lançado?
Moda? Porque não? Mas precisamos de 30 peças de roupa por estação?
Brinquedos? Óbvio! Mas precisamos de comprar tantos assim?
A simples diminuição da quantidade do que consumimos e do que desperdiçamos pode ter um impacto exponencial nos ecossistemas.
Foi por esta razão que apareceu o Dia Mundial sem Compras (Buy Nothing Day), o dia internacional de protesto contra o consumismo, realizado no último sábado de novembro.
Que tal trocar a Black Friday pelo Dia Sem Compras?
#DiaSemCompras
-Sobre Francisco Ferreira-
Francisco Ferreira é Professor Associado no Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-NOVA) e investigador do CENSE (Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade). É licenciado em Engenharia do Ambiente pela FCT-NOVA, mestre por Virginia Tech nos EUA e doutorado pela Universidade Nova de Lisboa. Tem um significativo conjunto de publicações nas áreas da qualidade do ar, alterações climáticas e desenvolvimento sustentável. Foi Presidente da Quercus de 1996 a 2001 e Vice-Presidente entre 2007 e 2011. Foi membro do Conselho Nacional da Água e do Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Atualmente é o Presidente da “ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável”, uma organização não-governamental de ambiente com atividade nacional.