Em virtude da atual situação pandémica que se vive no país e no mundo, a BoCA – Bienal de Artes Contemporâneas, cuja 3.ª edição está prevista para 2021, irá arrancar já a partir da próxima segunda-feira, dia 20 de abril, com o BoCA Online, um ciclo de programação adaptado às plataformas digitais e com uma duração em aberto.
Mais do que uma medida de recurso, que advêm da impossibilidade do cumprimento “normal” de uma agenda de actividades artísticas, o BoCA Online propõe um “programa construído de raiz que reflicta sobre o estado do mundo e sobre as arquitecturas do sensível que habitamos agora: o corpo, a casa e a câmara, elementos que são referências centrais da história da experimentação artística”.
Em entrevista ao Gerador, John Romão, diretor artística da BoCA, sublinha que o ciclo carrega consigo a “partilha do desconhecimento, ou seja, um questionamento sobre o nosso estado atual e a dúvida sobre o futuro”, e que no formato digital acaba por reforçar “alguns dos conceitos que estruturam a identidade” da bienal, convocando “personalidades de diferentes territórios” para se pensar “a relação que temos com o mundo, como a ecologia ou o design de moda”.
Mesmo em ano de paragem, a BoCA tinha programado algumas atividades entre os meses de abril e junho, no Funchal, Águeda e Lisboa, que acabaram por ser canceladas. “Perante esta impossibilidade surgiu a urgência de continuarmos ativos, em contacto com os artistas, as instituições parceiras e os públicos que nos seguem. Por outro lado, este contexto parece-me fundamental para repensar estratégias de comunicação e de produção artísticas, e também uma oportunidade para os diferentes agentes culturais se reunirem e reclamarem direitos que temos vindo a reclamar há anos. É nestes tempos de suspensão de vida que, muitas vezes, nos confrontamos com uma clara percepção das necessidades mais básicas que definem o humano. E a cultura é uma delas”, sustenta John Romão.
Seis atividades que dialogam com a incerteza do momento atual
Num diálogo entre o passado e o presente, o programa da BoCA Online foi pensado em seis actividades que terão palco nas redes sociais oficiais da BoCA. Numa primeira, intitulada Homework, a BoCA convida artistas a partilharem a cada segunda-feira partituras inéditas que desafiam o público a entrar também ele num campo de experimentação. A primeira sessão decorre segunda-feira, dia 20, às 13h30, com a participação da artista multidisciplinar Cecilia Bengolea, e pode ser vista na página de Instagram ou do Facebook da BoCA.
Existirá também uma área de Live Streaming de Performances, com transmissões em directo de performances de curta duração comissionadas pela BoCA. A primeira atividade está programada para o dia 25 de abril, pelas 19h00, com a atuação de Odete, seguida de uma conversa com John Romão, que pode ser vista no canal de Youtube da BoCA.
Por sua vez, nas atividades Press Play, serão exibidos vídeos de performances e filmes de artistas que questionam a relação do corpo performativo, com a arquitectura e a câmara. “A escolha far-se-á directamente ora do arquivo da bienal, ora via parcerias com outras instituições”, refere a organização. O primeiro momento, em parceria com o Tate Modern, apresenta uma performance de Otobong Nkange, pelas 22h00, no canal de Youtube da BoCA.
Seguem-se um conjunto de Conversas Online, onde irão marcar presença convidados de diferentes áreas, para um ciclo de diálogos que relacionam a problemática do covid-19 em torno de temáticas como o Corpo, Ciência, Pensamento, Comunidade, Sustentabilidade e Imaginação. Nesta área estão previstas para já duas conversas: uma no dia 22, pelas 20h00, entre o norte-americano Bill T. Jones e a jornalista Cláudia Galhós; a segunda no dia 24, pelas 19h00, em parceria com o Gerador, onde irá participar o escritor português Gonçalo M. Tavares. Ambas as conversas serão transmitidas em direto também na canal de Youtube da BoCA.
Numa outra secção de atividades, intitulada Ecotemporâneos, irão juntar-se diferentes personalidades a quem é proposto pensar os espaços verdes em relação com a literatura. Na primeira sessão, que decorre no dia 26 de abril, pelas 16h00 no Instagrama da BoCA, Mariana Monteiro irá abordar o tema a partir do livro Mulheres, de Eduardo Galeano.
Por fim, existirá ainda a BoCA Sub21, plataforma que apela à participação dos mais jovens, com idades entre os 16 aos 21 anos, para criar e pensar a partir da programação BoCA Online. Esta área conta com a direcção de Sara Franqueiro e tem inscrições abertas até 21 de abril.
Sobre estes conjunto de atividades John Romão acredita que o ciclo pode ajudar a “refletir sobre o ritmo de produção e as prioridades que temos vindo, individualmente, consciente ou inconscientemente, a adotar”. “É cada vez mais importante ouvirmos o outro, reconhecê-lo como sujeito. Ao convocarmos personalidades tão diferentes, dos quatro cantos do mundo, a BoCA Online aceleras as utopias e questiona novas formas de habitar o mundo”, acrescenta o diretor artístico, realçando ainda que
Até final de junho de 2020, a BoCA Online, para além dos convidados já anunciados, tem prevista a participação de Ailton Krenak, Albano Jerónimo, Ana Gomes, Anabela Mota Ribeiro, André Lepecki, Alexandra Pirici, Catarina Vaz Pinto, Cao Fei, Constança Entrudo, Dora Garcia, Gerard & Kelly, Joana de Verona, Lia Rodrigues, João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira, José Bragança de Miranda, Maria Mota, Mariana Tengner Barros, Meg Stuart, Miguel Moreira, Odete, Os Espacialistas, Pedro Barateiro, Sara Barros Leitão, Salomé Lamas, Tania Bruguera, Tânia Carvalho, entre outros nomes a anunciar.
Além disso, a BoCA vai ainda levar a cabo uma angariação de fundos internacional com o objectivo de apoiar financeiramente artistas, técnicos e produtores culturais de qualquer território artístico, com idade até 35 anos, em situações de precaridade. De acordo com a organização, o total das receitas deste crowdfunding reverterá inteiramente para os ajudar. Em breve, será disponibilizada no site da BoCA toda a informação sobre critérios e processo de candidatura.