O ornitorrico é um animal crepuscular.
Acorda quando outros vão dormir.
O diabo da Tasmânia é um caçador pouco eficiente.
Anda atrás de coisas que não apanha.
O dingo regula o número de herbívoros exóticos.
Quanto menos gabirus, melhor, certo?
O canguru-vermelho é o maior marsupial sobrevivente.
O humano é um mamífero de fraca pilosidade.
Conheço-os sobrevivos e infravivos,
Vivaços, videirinhos e melancólicos.
Também já encontrei gajos porreiros e sacanas.
Alguns parecem animais crespusculares, com os seus bicos e falta de dentes.
Vi quem regule o exotismo e os que se alimentam de herbívoros ou mesmo de miúdas intolerantes à lactose.
Eu, gostava mesmo era de ser um canguru vermelho,
Portador de um pénis bifurcado, como todos os cangurus vermelhos.
Malhar numa cangurua vermelha ou de outra cor qualquer,
Vaginalmente bifurcada, como todas as canguruas.
Os dois aos saltos, pimba, pimba, pimba,
Que nenhum canguru ou cangurua
Girafo ou girafa
Gaibiru ou polícia de giro
Nos pudessem apanhar.
Se eu fosse um canguru e tu uma cangurua
O que não poderíamos na Austrália?
Num ai a comer peixinho marítimo
E logo logo, catrapum, pás, pás,
Saltando de colina em colina, montanha em montanha,
A lamber as partes boas de um cozido à portuguesa.
Quer dizer,
Se eu fosse um canguru vermelho
Não deixava de comer um cozido à portuguesa
Principalmente as partes boas
E levava-te comigo, nem que te metesse na bolsa marsupial,
Entre o cozido e o assim ou assado.
Havíamos de nos entender, humanamente, na Austrália.
-Sobre Jorge Barreto Xavier-
Nasceu em Goa, Índia. Formação em Direito, Gestão das Artes, Ciência Política e Política Públicas. É professor convidado do ISCTE-IUL e diretor municipal de desenvolvimento social, educação e cultura da Câmara Municipal de Oeiras. Foi secretário de Estado da Cultura, diretor-geral das Artes, vereador da Cultura, coordenador da comissão interministerial Educação-Cultura, diretor da bienal de jovens criadores da Europa e do Mediterrâneo. Foi fundador do Clube Português de Artes e Ideias, do Lugar Comum – centro de experimentação artística, da bienal de jovens criadores dos países lusófonos, da MARE, rede de centros culturais do Mediterrâneo. Foi perito da agência europeia de Educação, Audiovisual e Cultura, consultor da Reitoria da Universidade de Lisboa, do Centro Cultural de Belém, da Fundação Calouste Gulbenkian, do ACIDI, da Casa Pia de Lisboa, do Intelligence on Culture, de Copenhaga, Capital Europeia da Cultura. Foi diretor e membro de diversas redes europeias e nacionais na área da Educação e da Cultura. Tem diversos livros e capítulos de livros publicados.