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Opinião de João Teixeira Lopes

Carta da amada na Palestina

Nas Gargantas Soltas de hoje, João Teixeira Lopes nos traz um poema. “Mas em cada morte uma duna erguia-se, uma praça se levantava.”

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Eram degraus de pó, um horizonte que se tornara pedra,

 as crianças enlouquecidas.

“Mil olhos em vez de dois/mil milhas atravessadas a cada passo”  

procuravam o verde das colinas, mas elas estavam enegrecidas 

procuravam a sombra das oliveiras, mas elas estavam magoadas 

procuravam uma terra para plantar, mas ela estava seca 

procuravam outros olhos, outros lábios, mas eles morriam

oh, eles morriam

de cada vez morriam.

Mas em cada morte uma duna erguia-se, uma praça se levantava.

Em cada morte um rosto se revelava. 

Um rosto com os seus olhos, os seus dentes e as suas mãos.

Em cada morte as “folhas brotaram como risos”

E os risos, aéreos, envolventes

Passaram os rios e o mar, indiferentes a tudo

Passaram os muros e sussurraram ao invasor

“A minha terra, o meu país!”.

Fundas são as vossas espadas que o sangue derrama em rios fartos,

longas são as vossas chamas como o inferno das almas

mas eu sei que o amado virá

“numa carruagem de botões em flor”.

Sei o sítio exato onde os seus lábios tocarão os meus

- em flor- 

e os atravessarão como uma sede de milénios

e por isso

Permanecerei.

Permanecerei.

Permanecerei. 

Os versos “Mil olhos em vez de dois/mil milhas atravessadas a cada passo” são de Mourid Al-Barghouti, traduzidos por Regina Guimarães

O verso “carruagem de botões de flor” é de  Fadwa Tuqan traduzido por Renata Parpolov Costa.

-Sobre João Teixeira Lopes-

Licenciado em Sociologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1992), é Mestre em ciências sociais pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (1995) com a Dissertação Tristes Escolas – Um Estudo sobre Práticas Culturais Estudantis no Espaço Escolar Urbano (Porto, Edições Afrontamento,1997). É também doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação (1999) com a Dissertação (A Cidade e a Cultura – Um Estudo sobre Práticas Culturais Urbanas (Porto, Edições Afrontamento, 2000). Foi programador de Porto Capital Europeia da Cultura 2001, enquanto responsável pela área do envolvimento da população e membro da equipa inicial que redigiu o projeto de candidatura apresentado ao Conselho da Europa. Tem 23 livros publicados (sozinho ou em co-autoria) nos domínios da sociologia da cultura, cidade, juventude e educação, bem como museologia e estudos territoriais. Foi distinguido, a  29 de maio de 2014, com o galardão “Chevalier des Palmes Académiques” pelo Governo francês. Coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.

Texto de João Teixeira Lopes
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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