fbpx
Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Céptica do amor

“Oh, mas tu és uma céptica do amor”.  Tenho um lado muito racional em relação…

Opinião de Clara Não

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

“Oh, mas tu és uma céptica do amor”. 

Tenho um lado muito racional em relação aos sentimentos, e um lado emocional que quase sempre percebo. Já acabei relações por quebra de sentimentos, por machismo, por desgaste, por dúvidas e até por tédio. No entanto, já tive o meu coração a boiar em memórias durante meses, durante anos.

Por isso, serei mesmo céptica em relação ao amor?

O amor constrói-se, as relações constroem-se, não caem do céu. (A não ser que se tornem uma grande bosta. Aí, a metáfora com uma cagadela de gaivota vinda dos céus é mais que válida).

Desta forma, acredito no amor e defendo-o. No entanto, o amor, para mim, é um estado de apoio e carinho mútuos, com igualdade: ambas as pessoas cuidam uma da outra e ambas cuidam da relação (também válido para uma relação que envolva mais do que duas pessoas). Por isso, não, não me considero uma céptica do amor. 

Se por um lado não sou céptica em relação ao amor, sou-o em relações ditas felizes puramente movidas pela comodidade. Se o motivo maior pelo qual continuam com alguém não é a paixão nem o carinho, mas sim o conforto de ser mais fácil assim, ou o medo de sair do contexto já conhecido da relação, isso já não é amor, é comodidade. Estar por estar não me diz nada, não me faz nada. É como comer por comer, ou não estimular o clitóris antes da penetração: é triste.

Deixando aqui uma metáfora para aumentar o carácter interessante do artigo, há uma cena no filme “Me and You and Everyone We know” (o meu filme favorito) que traz à baila outra vertente da questão. A dada altura, Christine, interpretada pela escritora e realizadora Miranda July, experimenta umas sabrinas numa sapataria. O funcionário, Richard, pergunta se são confortáveis. Ela responde “raspam-me no tornozelo [mostra a ferida, já antiga, que tem no tornozelo], mas todos os sapatos fazem isso”. Ao que Richard responde: ”Tu achas que mereces essa dor, mas tu não mereces”*

Ninguém merece essa dor, eu não mereço essa dor, essa comodidade que corrói. 

Serei demasiado exigente? 

Honestamente, quero lá saber do que é suposto eu ser ou não ser. Eu quero magia, com os pés bem assentes na terra. A comodidade, por si só, não tem faísca, não tem encanto, não tem amor; tem medo da solidão, tem medo da mudança. Por isso, não assentarei por menos do que aquela faísca que me faz tremer toda, o toque que me arrepia, a paixão, o carinho, a compreensão mútua, as coisas totós, as coisas reais, de pessoas reais. Por menos do que isso, não me apanham na rua.

*— They kinda rub my ankles, but all shoes do that.

— You think you deserve that pain, but you don’t.

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

-Sobre Clara Não-

Clara Não é ilustradora e vive no Porto. Licenciada em Design de Comunicação, pela Faculdade de Belas Artes do Porto, e fez Erasmus na Willem de Kooning Academie, em Roterdão, onde focou os seus estudos em Ilustração e Escrita Criativa. Mais tarde, tornou-se mestre em Desenho e Técnicas de Impressão, onde estudou a relação fabular entre Desenho e Escrita. Destaca-se pela irreverência e ironia nas ilustrações, onde reivindica a igualdade, trata tabus da sociedade e explora experiências pessoais.  Em 2019, lançou o seu primeiro livro, editado pela Ideias de Ler, intitulado Miga, esquece lá isso! — Como transformar problemas em risadas de amor-próprio.  Nas horas vagas, canta Britney.

Texto de Clara Não
Fotografia de Another Angelo

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

23 Abril 2024

O triângulo da pobreza informativa na União Europeia. Como derrubar este muro que nos separa?

23 Abril 2024

Levamos a vida demasiado a sério

18 Abril 2024

Bitaites da Resistência: A Palestina vai libertar-nos a nós

16 Abril 2024

Gira o disco e toca o mesmo?

16 Abril 2024

A comunidade contra o totalitarismo

11 Abril 2024

Objeção de Consciência

9 Abril 2024

Estado da (des)União

9 Abril 2024

Alucinações sobre flores meio ano depois

4 Abril 2024

Preliminares: É possível ser-se feliz depois de um abuso?

4 Abril 2024

Eles querem-nos na guerra

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

O Parlamento Europeu: funções, composição e desafios [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação à Língua Gestual Portuguesa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Soluções Criativas para Gestão de Organizações e Projetos [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Práticas de Escrita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Pensamento Crítico [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online e presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Comunicação Digital: da estratégia à execução [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online ou presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Produção de Eventos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Narrativas animadas – iniciação à animação de personagens [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

22 ABRIL 2024

A Madrinha: a correspondente que “marchou” na retaguarda da guerra

Ao longo de 15 anos, a troca de cartas integrava uma estratégia muito clara: legitimar a guerra. Mais conhecidas por madrinhas, alimentaram um programa oficioso, que partiu de um conceito apropriado pelo Estado Novo: mulheres a integrar o esforço nacional ao se corresponderem com militares na frente de combate.

1 ABRIL 2024

Abuso de poder no ensino superior em Portugal

As práticas de assédio moral e sexual são uma realidade conhecida dos estudantes, investigadores, docentes e quadros técnicos do ensino superior. Nos próximos meses lançamos a investigação Abuso de Poder no Ensino Superior, um trabalho jornalístico onde procuramos compreender as múltiplas dimensões de um problema estrutural.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0