fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Amanda Lima

Cidadãos do mundo em Portugal 

Nas Gargantas Soltas de hoje, Amanda Lima reflete sobre as mentiras que os xenófobos escolhem acreditar.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

781.915 pessoas. 781.915 que deixaram as suas casas, uma atitude que não é fácil e exige coragem.781.915 cidadãos do mundo que agora chamam Portugal de casa. Um número que não é só número, já que cada um deles é um ser humano. A estatística foi divulgada na semana passada e diz respeito ao total de imigrantes com Autorização de Residência (AR) em Portugal no ano de 2022. 

O que o dado diz? Inúmeras coisas, seja sozinho ou em comparação. Um dos aspectos mais importantes é que para que essas mais de 781 mil pessoas tenham em mãos esse tão sonhado documento, foi necessário comprovar ter um emprego, estar estudando ou ter família no país, para citar os casos mais representativos. 

Entre as nacionalidades com maior número de cidadãos que obtiveram a AR em 2022, o trabalho é o que deu direito a residir no país para a maioria. É o caso de nós brasileiros, dos imigrantes da Índia, Bangladesh, Guiné Bissau, Paquistão e Nepal. Entre os angolanos, em primeiro lugar está o reagrupamento familiar e estudo para os cabo-verdianos. 

O que muita gente não sabe ou finge não saber, são as condições para estar nessa tão importante estatística, que é definidora do futuro de Portugal. Não são quase 800 mil pessoas, em um país com 10 milhões de habitantes, que estão em solo português para usufruir de benefícios estatais ou outras das mentiras que os xenófobos gostam de dizer em todos os lugares. 

“Sem os imigrantes alguns setores económicos e atividades entrariam em colapso, reforçando o facto de a imigração em Portugal ser essencialmente ativa e contributiva, indispensável para a revitalização do mercado de trabalho nacional e para o fortalecimento do estado social”, destaca trecho do relatório Imigração em Números de 2022, escrito por Catarina Reis Oliveira, diretora científica do Observatório das Migrações (OM). 

A imigração representa uma força de trabalho importante para o país, não só no preenchimento de vagas, mas para a Segurança Social. Os valores ajudam a

sustentar os benefícios de todos, incluindo as pensões dos idosos. Somente no ano passado, a contribuição de imigrantes foi de 1,5 milhão de euros, de acordo com a própria direção da Segurança Social. O número representa um aumento de 19% na comparação com 2021. 

Ao mesmo tempo, as estatísticas desmontam o falso argumento de que os estrangeiros “vivem às custas do estado”. Em 2021, apenas 5.829 imigrantes foram beneficiados com o Rendimento Social de Inserção (RSI). Em um universo de mais de 700 mil, não é um número significativo, ainda mais se for levado em conta as mais variadas vulnerabilidades a que estamos sujeitos. 

Imigrantes também fazem crescer as atuais baixíssimas taxas de natalidade, um problema sério já admitido pelo governo e preocupação da maioria das autoridades. “O declínio natural da população resultante da baixa fertilidade e do aumento da esperança média de vida, induzirá à diminuição real da população e ao envelhecimento acentuado da população nativa”, ressalta o mesmo relatório da OM. Os três primeiros bebês que vieram ao mundo neste ano em Portugal são filhos de imigrantes, o que simboliza bastante essa contribuição. 

Não se trata de “substituir a população portuguesa”, isso nem seria possível. Trata-se de ter famílias em Portugal, sejam as que se mudam para cá, sejam as formadas no país, que exercem o direito a gerar uma nova vida. Ao mesmo tempo, isso não inviabiliza que o governo dê as condições para que as mulheres portuguesas também sejam mães, o que implica em uma série de políticas públicas na área da igualdade de gênero, vagas em creches e melhoria nos salários. 

O problema? Todos esses dados científicos, comprovados e verdadeiros, de nada servem para convencer quem está com a ideia formada de que nós imigrantes somos uma ameaça. Utilizam casos pontuais de imigrantes que não respeitam as regras para generalização do todo. Inclusive, são os mesmos que rejeitam a generalização quando falamos de xenofobia. 

Confesso que nestas horas, enquanto cidadã e jornalista, sinto-me impotente e frustrada, já que a verdade não basta. Eles criam a própria verdade e nada os convence do contrário. Na semana passada, um deputado português celebrava

entre seus fãs no Twitter que “calou a minha boca e era fácil”. Que ilusão. Querem nos calar, mas não vão conseguir, estamos em todos os lugares, com os mais variados sotaques. 

Portugal é um Estado Democrático de Direito e que permite a presença de imigrantes. Somos cidadãos do mundo, assim como os portugueses que escolheram outros países para viver. Temos que respeitar as regras, as leis e os deveres, mas também ter acesso aos direitos. Afinal, como disse a filósofa Hannah Arendt, que se refugiou em Lisboa quando fugiu do nazismo, “a essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos”.

-Sobre a Amanda Lima-

Jornalista nas horas vagas e ocupadas, é brasileira e vive em Portugal há três anos. Os temas de principais interesse são sobre género, imigração, direitos humanos e política. Comenta e escreve atualidades na CNN Portugal e acredita que o jornalismo é a profissão mais divertida do mundo. Viciada em cafeína, vídeos de pandas e em contar boas histórias. 

Texto de Amanda Lima
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

9 Julho 2025

Humor de condenação

2 Julho 2025

Não há liberdade pelo consumo e pelas redes sociais

25 Junho 2025

Gaza Perante a História

18 Junho 2025

Segurança Humana, um pouco de esperança

11 Junho 2025

Genocídio televisionado

4 Junho 2025

Já não basta cantar o Grândola

28 Maio 2025

Às Indiferentes

21 Maio 2025

A saúde mental sob o peso da ordem neoliberal

14 Maio 2025

O grande fantasma do género

7 Maio 2025

Chimamanda p’ra branco ver…mas não ler! 

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

Shopping cart0
There are no products in the cart!
Continue shopping
0