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Coletivos poéticos. Reunidos pela palavra

Quando, no início do século XX, os orfistas quiserem ir contra a burguesia ao apresentar…

Texto de Patrícia Nogueira

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Quando, no início do século XX, os orfistas quiserem ir contra a burguesia ao apresentar uma poesia livre de métricas e inserir a literatura portuguesa no contexto cultural europeu, possivelmente estavam longe de saber que, um século depois, a poesia viria a ser um ponto de refúgio numa fábrica de cerveja no Porto, ou que juntaria várias gerações no pátio de um café, ou que poderia ser o mote de uma vontade de salvar o mundo.

Entrando na Fábrica da Picaria, uma fábrica de cerveja artesanal, no Porto, na rua que lhe dá o nome (Rua da Picaria), e descendo as escadas para a cave, há uma porta entreaberta que nos convida a entrar para mais uma sessão de “Toda a Terça tem poesia”. O espaço apequena-se pelos barris de cerveja que o enchem, e as cadeiras que todas as terças-feiras servem de apoio a corpos curiosos de todas as idades, para mais uma partilha de poesia. É Iuri Rodrigues, artista, ator e diretor brasileiro, que lidera as sessões. Desde criança que a literatura lhe entrou em casa pela voz da sua família de artistas e professores. A poesia começou a ganhar espaço quando, na adolescência, começou a frequentar coletivos culturais e saraus (eventos de poesia). Em 2019, quando vivia em Lisboa, uma agressão de cariz homofóbico que o deixou em coma durante 15 dias, motivou uma mudança para o Porto e a procura por um espaço onde se voltasse a sentir seguro – “Quando cheguei ao Porto, fechou tudo (por causa da pandemia). Tinha acabado de sofrer um ataque homofóbico e estava sozinho, aí a nossa cabeça começa a criar milhões de coisas e a ansiedade e vulnerabilidade estão lá. Por isso, assim que decretaram que iam abrir lugares para mais de 20 pessoas juntas com espaçamento, pensei logo em juntar pessoas em volta da poesia como forma de me curar. Foi mesmo uma questão de saúde mental, de me sentir parte de novo, fazer parte de algo e encontrar a cura pela arte”, conta Iuri ao Gerador.

Numa volta pelo Porto, encontrou a Fábrica da Picaria e, conta, desafiou o dono para que o evento começasse a acontecer. Com relutância por parte do dono, Iuri desafiou Jonas (um dos participantes que todas as terças-feiras também se junta com a sua viola), a começar a tocar na esplanada do estabelecimento enquanto ele lia, e começaram a juntar-se várias pessoas – o dono do estabelecimento foi conquistado, e o evento começou logo na semana seguinte. Há mais de um ano, todas as terças-feiras, as pessoas sabem que haverá partilha e poesia para descobrir. Mas o que distingue este sarau poético é que todas as sessões têm um tema. Por norma, Iuri traz temas e situações às quais é exposto durante a semana e partilha com o público, “na tentativa de que, se falar, as pessoas podem-se identificar”, e começa, assim, a trazer um tema como uma válvula de escape – “Todas as vezes que alguma pessoa na poesia fala comigo, no final, é para agradecer pelo facto de se sentir de novo aconchegada. As pessoas procuram na poesia física uma cura, como eu procurei. Por exemplo, um lê uma coisa e, de repente, alguém comenta porque está a fazer sentido. A poesia é uma bolha estoirada, as pessoas entram ali e podem ser o que quiserem.”

Ainda que o evento tenha sido pensado para um coletivo sem idades definidas, como explica Iuri, a maioria das pessoas que participam são mais jovens. Iuri acredita que tal aconteça porque “as pessoas mais velhas já não estão tão abertas para entender que a arte é maior e transcende ainda mais a poesia”, mas não deixa de notar que há espaço para todos, uma vez que, às segundas-feiras, acontece um dos mais antigos eventos de poesia – há mais de 30 anos — na cidade do Porto, no mítico Pinguim Café, com Rui Spranger e Rui David, um evento com um público “mais sério, mas que acaba também por ir [ao encontro de] terça porque é uma pegada mais jovem”.

Entre partilhas e procuras, pode a poesia ser, ela própria, um espaço?

Toda a Terça tem Poesia | Fotografia da cortesia de Iuri Rodrigues

Um coletivo como espaço de refúgio e de aprendizagem

Descendo até à capital, voltamos a encontrar “um espaço seguro” – o Poemacto. Solange Pacífico começou a escrever numa “perspetiva poética”, desde que se lembra, encontrando na poesia um refúgio, mas também um ponto de vulnerabilidade que a fez, durante muito tempo, achar que era a única que escrevia poesia. Sempre sentiu, durante a sua adolescência, que quem escrevia poesia estava associado a alguém mais fraco – “escreves poesia, és lame”, lembra –, pelo que sempre reprimiu qualquer partilha. Quando finalmente ganhou coragem para partilhar com o mundo a sensibilidade com que o via, percebeu que não existia um palco seguro para o fazer.

O espaço que idealizava não existia, então correu amigos, e amigos de amigos, para tentar encontrar quem também se quisesse juntar, um dia, para partilhar poesia. “Enviei mensagens em massa e, para minha surpresa, o primeiro Poemacto contou com 16 inscritos e 10 pessoas no Poema aberto. Obviamente que a maior parte eram pessoas da minha idade, na casa dos 20 anos, mas também adolescentes, foi algo que tocou todas as faixas etárias. Hoje, somos um espaço seguro, com sentimento de casa e família”, conta Solange ao Gerador.

Mas o que se vive numa noite de Poemacto que faz com que esta casa cresça cada vez mais a cada edição?

O Poemacto oferece um espaço seguro, “pela sua organização e logística, mas também pelo público em si, que é respeitador e aceita qualquer pessoa que vai a palco, e apoia. São o público e artistas que alimentam este sentimento de casa e família, porque todos se tratam como pessoas iguais, não há ninguém melhor do que ninguém, apoiamo-nos e isso faz diferença para alguém novo que chega a um mundo desconhecido. Não existe elitismo, estamos todos em casa a expor o que vai cá dentro”, explica Solange que lembra situações em que as pessoas se sentem tão confortáveis que acabam por ter momentos catárticos em palco e dizem coisas que, provavelmente, noutro sítio não teriam coragem de declamar.

O Poemacto é palco para vários jovens poetas e também músicos que estão a começar a dar os seus primeiros passos, ou que simplesmente descobrem, nesse mesmo palco, que a arte, afinal, também lhes serve. É também o reflexo, considera Solange, da própria cultura em Portugal. Por isso, no final de 2021, uniu 15 jovens poetas que já faziam parte da família Poemacto e editou um livro independente – Bicho Mudo Viro Bicho – onde pretendia beneficiar 16 poetas a 100 %, sendo o lucro dividido por todos.

Solange, que há cerca de dois anos começou a ver cada vez mais jovens a aderirem aos seus eventos, e participou no processo de criar um livro independente, diz que ser jovem poeta atualmente em Portugal “é um misto de emoções”. Existem vários espaços em Lisboa e por todo o país, outros coletivos de poesia, que oferecem um espaço que antigamente não existia, “e isso, em termos de crescimento pessoal e poético, é incrível, porque se cria uma rede de pessoas que se apoia”. Por outro lado, “é amargo, no sentido em que há muitas pessoas que querem editar livros, e têm muitas dificuldades, porque o mudo editorial funciona como sempre funcionou — é muito elitista e de difícil acesso para alguém que está a iniciar, para não falar dos direitos autorais que muitas vezes são varridos”. Para si, a poesia é “uma linguagem universal e não devia ser imposto qualquer tipo de limitações à forma como é apresentada, seja ao público, em eventos, ou publicações editoriais”, na sua cabeça não há razões para isso acontecer, por isso cada Poemacto é uma golfada de esperança num novo mercado poético em Portugal.

Solange Pacífico | Fotografia de André Ferreiro

Ainda em Lisboa, Acílio Gala, poeta, frequentador de eventos de poesia e criador da Poesia Vadia — espaço poético que “não é um evento, mas um movimento”, decidiu criar o primeiro evento em outubro de 2020 porque queria arranjar um espaço onde as pessoas pudessem partilhar os seus poemas, espaço que, até então, não tinha encontrado.

Acílio admite que nunca foi leitor assíduo de poesia quando era mais novo, e apenas conhecia uma mão-cheia de poetas quando criou os seus eventos. O que o fez procurar um novo sítio foi ter percebido que a poesia teve um impacto em determinada altura da sua vida, e principalmente que um poema que terminava com — “e o que é a que poesia fez pelo mundo?” —, ressoava nos seus dias. Começou a procurar espaços onde pudesse ouvir e partilhar poesia, mas “acabavam por ter muita tradição e ser um pouco elitistas” (não todos, salienta) e sem espaço para participar. Por isso, com o objetivo de criar algo para os jovens poetas emergentes, surgiu a Poesia Vadia. “O poema, para mim, é muito o reflexo do que as pessoas sentem, amor, feridas, coisas que estão por sarar, é algo muito íntimo, então seria um espaço onde as pessoas podiam partilhar isso”. Já teve “todo o tipo de pessoas, com todos os gostos”, a ir ao evento, o que o fez conhecer cada vez mais autores. Há quem goste de poesia mais pensada, “que advém mais da filosofia, quase matemática”, há quem leve poesia mais contemporânea ou sonetos, todo o tipo de poesia é bem-vindo, convida.

Solange, Acílio e Maria Caetano Vilalobos têm, não só a participação no livro Bicho Mudo Viro Bicho em comum, mas também a poesia como espaço de refúgio e aprendizagem, seja ela individual ou coletiva. Maria fez da poesia um lugar onde se fala sobre a mulher. De uma tese de mestrado nasceu a “Arte de Nos Virmos” que juntou música, pintura e poetas para falar sobre sexualidade e a mulher. A jovem atriz e poeta é presença em vários saraus de poesia e, conta ao Gerador que em todos eles sente “uma união incrível” que não sentia tanto no teatro. Na poesia sente “menos pretensão, mais coletivo”, uma vez que os coletivos já mencionados (e outros de que falaremos mais à frente) convidam pessoas de coletivos diferentes e “formam alianças” – o início de uma vontade de colocar a poesia num lugar diferente.

A poesia pode (ajudar a) salvar o mundo?

“E o que é que a poesia fez pelo mundo?” Foi a interrogação que ficou na memória de Acílio e o levou a fazer da Poesia Vadia um motor para que a poesia começasse a mudar o que via à sua volta. Nascido e criado numa família de 11 irmãos, sempre teve presente a importância da partilha e a necessidade de ajudar o próximo. Sempre procurou estar ligado a causas e percebeu que as podia cruzar com a literatura quando começou a vender poemas autorais, cujo valor angariado revertia todo para uma associação. No verão de 2021, esta relação foi mais longe e decidiu fazer uma digressão solidária por cinco pontos do país, em que, em cada ponto, as pessoas podiam doar o que quisessem. Esse valor seria 100 % entregue à Associação Passa Sabi, uma Associação sem fins lucrativos que ajuda os moradores do Bairro do Rego. “A relação com eles foi incrível e culminou com a Poesia Vadia em Lisboa a convidar as pessoas desta associação para darem a conhecer o seu trabalho. Ou seja, esta ideia de ligar a poesia a associações advém da ideia de que a poesia ainda tem muita força, e pode guiar para um caminho que parece o mais acertado”, explica Acílio Gala ao Gerador.

Noite de Poesia Vadia, no espaço Tropismo | Fotografia da cortesia de Acílio Gala

Também a Luz Clandestina, coletivo poético de Leiria conhecido por espalhar garrafas com poesia dentro pela cidade, também encontrou na poesia uma forma de ajudar o outro. Em 2021, juntou-se ao Poemacto e organizaram um evento solidário com o tema “saúde mental”. A iniciativa juntou ainda o artista plástico Abílio Febra, que durante o evento pintou sobre o tema e, posteriormente leiloou as peças produzidas à associação AMITEI — que trabalha as questões do isolamento social das populações mais envelhecidas, o que muitas vezes leva a doenças mentais graves. Mostrando assim o seu propósito de “através da poesia, trazer à luz coisas que as pessoas talvez não olham tanto no seu dia a dia”, diz Andreia Mateus, membro do coletivo, ao Gerador.

Poemacto Clandestino, o evento solidário que uniu o Poemacto com o colectivo Luz Clandestina | Fotografia de David Sineiro

A poesia nas escolas

Luís de Camões, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Sophia de Mello Breyner ou Cesário Verde são alguns dos escritores e poetas cujos poemas são estudados no ensino secundário. Maria Caetano Vilalobos lembra-se de ser uma privilegiada e, em Montemor e Castelo Branco (sítios onde frequentou a escola), sempre foi estimulada a participar em eventos de poesia e a escrever. Acílio, pelo contrário, nunca gostou muito da disciplina de Língua Portuguesa e teve alguma dificuldade em gostar da poesia estudada nesta mesma disciplina.

O Poemacto percebeu que a poesia podia também estar ao serviço de quem já gostava de poesia e era estimulado para isso, mas também para aqueles para quem a poesia “era uma seca”. Através do Poemacto ComVersa, o coletivo poético leva a poesia às escolas secundárias na periferia de Lisboa para “mostrar o lado emergente da poesia”. A primeira escola a receber esta iniciativa foi uma escola na Amadora e, quando chegaram, a primeira questão que levantaram foi se já tinham ouvido poesia ao vivo. A resposta, que mereceu espanto, foi negativa – “Fizemos três turmas e nunca tinham experienciado uma performance poética, o que é chocante. Turisticamente somos o país da poesia, de Pessoa e de Camões, e, depois, alunos do secundário nunca ouviram um poema a ser declamado. Ouviram a ser lido durante a aula, mas o peso da palavra não lhes foi apresentado”, conta Solange. No fundo, mostram que a poesia não é só aquilo que é ensinado no programa escolar, porque, segundo Solange, “é aí que peca muito”, por ser “uma poesia de séculos” e os jovens não se conseguirem relacionar com ela, e aí começa o problema, fazendo com que dificilmente entrem na poesia mais tarde.

O feedback tem sido positivo, e se antes era Solange que estava num lugar de “solidão poética”, hoje percebe que o tempo passou, mas muitos jovens continuam a passar pela mesma situação, por isso, muitos acabam por lhe enviar coisas que escreveram e nunca mostraram a ninguém, à procura de uma opinião. “Mesmo com a Internet e informação disponível, e existindo partilha nas redes sociais de poesia, continua a haver essa solidão, esse descurar da poesia, por isso é um trabalho muito importante. É necessário ir ao fundo do problema.”

Para Maria Vilalobos, “qualquer arte que dê palavra aos mais novos enche uma sala com uma energia contagiante”, porque levar poesia a adolescentes “que estão cheios de emoções que não sabem pôr por palavras, é um ato de revolução”.

Ana Cláudia Santos, criadora do Lua Eventos de Poesia, e vencedora do prémio New Talent 2021 da NiT, tem também feito o trabalho de levar a poesia às escolas, numa tentativa de a desmistificar. A jovem poeta conta que, na altura em que decorriam as votações para o concurso da NiT, foi a escolas em Benavente, a sua terra, “uma terra muito pequena”, segundo a mesma, para ler e falar de poesia. Na altura, lembra, estava assustada porque achava que não iam querer saber de poesia, mas não foi nada assim. Descobriu que “há sempre o poeta da turma, ou alguém que escreve letras”, ou mesmo aqueles que querem fazer concursos de poesia.

Após cada sessão, recebe sempre mensagens das professoras a confirmar que a sua presença mudou a forma como os alunos veem a poesia – “Realmente existe um estímulo de fora, de alguém que até é parecido com eles, pode ter também que ver com a forma como explicamos as coisas. Quando eu digo que a poesia não tem de ser perfeita e eles podem ser como quiserem, isso desperta algo completamente diferente do que se for uma pessoa a quem já atribuem uma qualidade de ‘seca’. Talvez esta seja uma das soluções. Mas as coisas estão a mudar, eu acredito”, conclui.

Maria Caetano Vilalobos | Fotografia da cortesia da mesma

Da televisão a podcasts, a poesia está em todo o lado

Nas redes sociais, multiplicam-se páginas dedicadas a poesia, na televisão a SIC dedicou um dos seus programas prime time à poesia convidando jovens poetas como Luís Perdigão e Solange Pacífico. No “Bem Vindos África”, na RTP, Alice Neto Sousa tornou viral um dos seus poemas, levando a poesia a cerimónias como a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril. Maria Caetano Vilalobos também levou a poesia ao liveshow Maluco Beleza, de Rui Unas e Ana Cláudia Santos fez com que o prémio da Nit fosse ganho por uma poeta, criou o seu podcast Multiverso (na mesma plataforma) e tornou-se embaixadora de uma marca de seguros – uma poeta como embaixadora de uma marca.

Quando, em 2014, Ana Cláudia chegou a Lisboa e procurou eventos de poesia, percebeu que estes “eram para pessoas mais velhas”, e sentia que não conseguia entrar, por dizerem que a sua poesia não se adequava aos eventos. Por isso, assim como Solange Pacífico e Acílio Gala, começou a fazer os seus próprios eventos, com o objetivo de começar com “poetas novos”, mas acabou por ter adesão de várias faixas etárias. Hoje, com um livro lançado, leva a sua poesia a cada vez mais pessoas, sabe que quer fazer uma carreira poética, ainda que seja “um pouco utópica”, uma vez que sabe que, para o conseguir, terá sempre de conciliar a poesia com outro trabalho.

Ana Cláudia Santos | Fotografia da cortesia da mesma

Maria Vilalobos acredita que este o crescimento da poesia é fruto de realidades transdisciplinares – como o hip hop, spoken word, festivais e cada vez mais coletivos de poesia – e que criaram uma rede que foi contagiando pessoas até ao momento de explosão. “Lisboa foi conquistada pela poesia!”, refere. Mas a poesia também cresceu como resposta a uma urgência no período pandémico, em que as pessoas tinham a necessidade de ver conteúdo, indicando a página de Instagram, O Poema Ensina a Cair, como uma dessas respostas, em que os conteúdos partilhados são excertos de poemas, ou os diretos na mesma plataforma onde se partilhava poesia.

Se é moda ou não, Iuri acredita que é, acima de tudo, um ato de resistência, explicando que, antigamente, as pessoas utilizavam a poesia para poder fazer crítica e não serem presas ou mortas pela ditadura, hoje, as pessoas conseguem escrever sem medo, e a poesia partilhada, física, “foi sempre esse ato de resistência que tornou a poesia acessível a todos, porque as pessoas não querem criar pessoas pensantes, então a partir do momento em que a poesia dá uma voz, mexemos com um sistema, e as pessoas levantam-se e resistem através da poesia”.

Solange acredita que é, o culminar de um trabalho que tem sido feito por parte de todos os coletivos – “finalmente o trabalho está a ser reconhecido e estamos a chegar a sítios de forma justa, a ser ouvidos, e mesmo que seja uma moda, e que agora exista um boom, da mesma forma que começou, vai continuar. Isto começou há cerca de dois anos, dois anos e meio, e eu estava lá desde o início, e desde o início sempre foi muito forte, por isso, mesmo que volte à normalidade, será sempre um movimento com muito impacto.

O que é certo é que por este país fora somam-se coletivos que levam a poesia até às pessoas, a espaços onde a poesia pode ser o que ela quiser. Sarau Delas (Lisboa), Ginginha Poética (Lisboa) e Poeta qu’Pariu (Loulé) são exemplos de encontros organizados por coletivos poéticos, em cafés, bares, na rua, em qualquer espaço onde a palavra possa saltar do livro, de uma folha, ou da tela de um telemóvel, para ser partilhada com quem se senta à mesa, no chão, ou onde o espaço permitir, segurando um copo de vinho, de cerveja, ou só a vontade de ouvir algo novo, e também partilhar o que traz consigo.

Por exemplo, Martim Santos, a voz por detrás do coletivo louletano Poeta qu’Pariu descreve as noites de poesia que organiza, e a arte que a ela se junta como: “A arte é do povo, da rua e não de um sistema capitalista que a usa como medidor de classe. A poesia é também mal escrita, mal falada, mal cheirosa e talvez, se calhar, usa-se um chapéu de cowboy aos sábados à noite.”

Coletivo Poeta qu'Pariu | Fotografia da cortesia do mesmo

Texto de Patrícia Nogueira
Fotografia de André Ferreiro

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