Francisca Gigante tem apenas 24 anos, mas no mapa do seu percurso já consegue assinalar uns quantos lugares onde foi enchendo a sua bagagem e deixando a sua marca. Em Lisboa, Nova Iorque, Londres e Veneza, é provável que haja quem conheça a sua cara e, quem sabe, tenha alguma memória afetiva num museu que lhe possa associar. Se os mediadores culturais são realmente a cara das instituições, Francisca já foi a cara da Coleção Peggy Guggenheim (Veneza), do MAAT (Lisboa) e, mais recentemente, da Bienal de Veneza.
Foi também levada por boas memórias afetivas que Francisca decidiu seguir um caminho na arte contemporânea. «Tenho uma memória muito viva de estar no Museu Solomon R. Guggenheim em Bilbao a olhar fixamente para as esculturas do Richard Serra, que até hoje é um artista que, para mim, é uma grande referência, e de começar a brincar com a minha irmã Matilde às escondidas», conta a partir de Itália, onde está a trabalhar para a Bienal de Veneza.
As disciplinas de História da Arte e Gestão Cultural na licenciatura em Comunicação Social e Cultural da Universidade Católica foram o ponto de partida para, pouco tempo depois, «dar um salto para o outro lado do oceano» e tirar um mestrado em Gestão de Arte no Sotheby’s Institute of Art, em Nova Iorque. Escreveu a tese em Londres e deu novamente um salto para Veneza, onde acabou por «coordenar os 25 estagiários da Coleção Peggy Guggenheim que chegam todos os meses para trabalhar no museu».
Foi para começar de novo que regressou a Portugal, onde fez o programa de estágios do MAAT e integrou uma equipa de «jovens apaixonados por este mundo da arte» e conheceu «artistas emergentes cheios de talento que trabalham sem fim para expor». Em 2018, criou com mais sete mulheres o Coletivo Tarimba, que surge por sentirem «uma enorme sede pelo acesso à arte contemporânea jovem em Portugal e uma grande lacuna a nível de espaços que promovem este encontro artístico e cultural».
Com um pé em Lisboa e outro em Veneza, Francisca vai conhecendo pessoas e aprendendo com elas a multiplicidade de visões no mundo da arte contemporânea. Ainda assim, os desafios vão sendo uma constante, e Francisca não esconde as semelhanças que encontra entre os dois países, nesse sentido: «O mundo das artes trabalha maioritariamente à base do relacionamento entre pessoas, falo aqui dos contactos e conexões. É mesmo complicado extrapolar porque cada caso é um caso, mas se tivesse de caracterizar a entrada em ambos os universos artísticos — até porque foi como senti na pele —, devo dizer que é feita com muita dificuldade», confessa a curadora.
Com mais ou menos dificuldade, é este o universo a que sente que pertence. Seja na curadoria ou na mediação cultural, Francisca Gigante vai dando a mão a novos começos e construindo «os museus do futuro» que, acredita, «são as escolas de amanhã».
Este artigo foi originalmente publicado no número 27 da Revista Gerador, disponível numa banca perto de ti ou em gerador.eu.