Tenho lido muitos artigos e opiniões sobre as dificuldades de ficar “encurralado” com a família durante as festas da quadra natalícia e final de ano, numa altura em que pouco se pode fazer e que o vírus anda mesmo à solta como nunca esteve, e até conselhos para conseguir evitar discussões e demais problemáticas sempre presentes em ambiente familiar, principalmente quando confinado.
Mas, por outro lado e bem mais grave, como são estes dias para quem não tem família ou alguém com quem passá-los nas festas e reuniões que implicam sempre, através da televisão, notícias e publicidade, grandes sorrisos, árvores bem decoradas e muitos presentes e brindes, jantaradas e folia? Como é estar sozinho numa altura em que deveríamos juntar-nos a amigos, familiares e demais pessoas da nossa vida?
Existe um enorme stress emocional com sintomas físicos associados que explicam a ansiedade social, portanto, há que combater este grande problema com todas as armas possíveis.
Com a ajuda de diversas publicações, encontrei uma dezena de acções ou possibilidades, para minimizar estes efeitos que surgem nesta altura do ano.
Refrear pensamentos negativos
Eles vão surgir, pois a solidão é tremendamente poderosa e cria uma densa nuvem negra sobre nós. O conselho aqui é simples. Quando um desses pensamentos surgir, usar uma técnica de três passos: identificar, avaliar e transformá-lo em algo positivo.
Por exemplo, se estivermos confinados sem gravidade e sintomas sérios, que tal pensar que poderíamos estar bem pior, como num hospital, e finalmente, perceber que depois da tempestade vem a bonança.
As promessas do fim de ano
Quantos de nós não fazem grandes promessas e pensam em desejos para o novo ano quando comem as passas e bebericam uma bebida gasosa? Pois, na verdade, o último dia do ano que termina é perfeito para um tempo de reflexão, auto-avaliação do que se fez mal ou bem e pensar no que vem a seguir. Contudo, a oportunidade de fazê-lo em festa é mínima, mas se estivermos sozinhos podemos usar este tempo para conseguir pensar nisso, certo? E assim transformamos algo negativo em positivo.
Um artigo da VeryWellMind dá até exemplos muito concretos como nos oferecermos presentes se nos “portámos bem” durante 2021. São eles marcar uma viagem para 2022, ler aquele livro que temos na cabeceira e que ainda não abrimos, ter uma excelente e memorável refeição, nem que seja com takeaway e comprar um produto que nos faça bem ao corpo, como um óleo de massagem ou um creme facial. Que tal?
Quanto a mim, penso que desligar todos os ecrãs da casa, excepto o telemóvel para receber e enviar mensagens a quem também poderá estar na mesma situação, sem esquecer os amigos e familiares, é perfeito para recuperar o prazer de ouvir um disco que adoramos do princípio ao fim e através da “antiga” aparelhagem ao invés das listas streaming.
Criar um ambiente sofisticado e confortável ao acender velas aromáticas e ir buscar uma manta mesmo quentinha, para fechar os olhos e nos deixar embalar pela música. E quem o tem, afagar o animal de estimação e enchê-lo de mimo.
Depois do disco, que tal começar a ler o livro que comprámos em 2019, de um dos nossos autores preferidos, e que ainda não tivemos tempo para folhear? Depois do prazer da música, será um bom momento, tal como tantas vezes o fizemos quando tínhamos mais tempo livre e menos preocupações.
E, ao tocar o sino (e isto tanto pode ser de 31 para 1 como dia 6, 10 ou 20 de Janeiro, ou seja, quando quisermos), seria bom tomarmos consciência do que realmente queremos fazer daqui em diante e perceber como não continuar a ceder a exigências, fretes ou obrigações sociais. Pensemos em nós por um bocadinho.
Vamos às promessas? Pensem naquelas que são realistas, nada de prometer que se vai fazer dieta e perder 10 kg. Vamos perder cinco. Nada de frequentar ginásio três vezes por semana, vamos fazer caminhadas ao ar livre sem destino (bom, apenas o de regresso). Se precisamos de ajuda, porque continuamos em baixo, sem força e vontade, que tal pensar em falar com um terapeuta para começar a perceber os porquês? Está na hora!
Existem, como percebem, caminhos e alternativas que podem promover o nosso bem-estar e, dessa forma, a nossa Saúde Mental. O isolamento não é a resposta, apenas um problema passageiro e, mesmo se nos sentirmos sozinhos e muito tristes, podemos sempre fazer um telefonema a um amigo e ser francos dizendo isso mesmo, como nos sentimos e que precisamos de um abraço. Nestas alturas, até as redes sociais são boas para comunicarmos com quem lá está, mitigando distâncias sociais enquanto protegemos as físicas.
Para quem está a passar a pior fase da vida, lembrem-se sempre que muitas pessoas estão na mesma situação. Felizmente, há ajudas imediatas, como um SOS, através da Voz Amiga e demais linhas de apoio dedicadas para estes momentos muito complicados.
Por favor, peçam ajuda quando precisarem por todos os meios possíveis.
Que 2022 seja um ano de valorização.
*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico
-Sobre Ana Pinto Coelho-
É a directora e curadora do Festival Mental – Cinema, Artes e Informação, também conselheira e terapeuta em dependências químicas e comportamentais com diploma da Universidade de Oxford nessa área. Anteriormente, a sua vida foi dedicada à comunicação, assessoria de imprensa, e criação de vários projectos na área cultural e empresarial. Começou a trabalhar muito cedo enquanto estudava ao mesmo tempo, licenciou-se em Marketing e Publicidade no IADE após deixar o curso de Direito que frequentou durante dois anos. Foi autora e coordenadora de uma série infanto-juvenil para televisão. É editora de livros e pesquisadora. Aposta em ajudar os seus pacientes e famílias num consultório em Lisboa, local a que chama Safe Place.