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Comer em Casa: Crochet e outras prendas

Admito que a forçada imobilização tenha resultado em maior procura das chamadas “artes do lar”,…

Opinião de Manuel Luar

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Admito que a forçada imobilização tenha resultado em maior procura das chamadas “artes do lar”, profusamente veiculadas pelas revistas de referência do início do século XX, como a “Modas e Bordados” ligada ao grande jornal que foi “O Século”, mas igualmente a “Serões das Senhoras”, o suplemento feminino da revista “Serões – Revista Mensal Ilustrada”, editada em Lisboa entre 1901 e 1911.

Crochet e tricot, pois claro. Para além das aventuras culinárias que aqui tento divulgar e que sempre foram parte empolgante da ocupação da dona (ou dono) de casa.

Em comum teriam, num caso e no outro, a tutela da “alta autoridade de Paris”, que ditava naqueles tempos as regras sobre o que fazer e como fazer.

Refiro a propósito que uma das poucas vantagens desta reclusão é a liberalização dos modos e costumes. Andar mais tempo com roupas largas e confortáveis, libertar os pés da tirania dos escarpins apertados, e poder o cidadão sentar-se à mesa para comer sem cerimónias.

A etiqueta social aconselha a que se mantenha o casaco vestido quando almoçamos ou jantamos com pessoas de respeito ou, muito simplesmente, quando se sentam senhoras à mesa. Eram exceções as refeições entre amigos e amigas de muita familiaridade, as desbundas noctívagas (ou não), as despedidas de solteiro e outras cenas parecidas.

Nesta fase da vida “chez soi” todas as refeições são exceções sem cerimónias! Haja algum respeito pelo que comemos e pela “arte” do queima-cebolas, mas fora isso comam até em fato-de- banho se vos apetecer.

Volto ao “crochet” e ao “tricot” para referir que Sandra Tavares da Silva e Susana Estéban têm produzido e comercializado uma linha de vinhos tintos do Douro e Alentejo (respetivamente) com essas denominações. Os vinhos Crochet e Tricot  de 2014 (por cerca de 30 euros) são muito bons mesmo.

Estamos assim à vontade para dizer em certos areópagos especializados, e sem mentir, que passámos uma tarde “de volta do crochet”…

Para acompanhar o excelente “Crochet” de 2014 sugiro uma “Jardineira de Vitela”.

Uma "jardineira" é um guisado que, como o nome indica, pode levar vários legumes (uma espécie de horta dentro da panela).  Era antigamente um cozinhado de Verão, altura em que levava as batatas novas, as ervilhas frescas, o feijão verde…

500g de carne de vitela partida aos cubos
1/2 chouriço de carne
1 cebola média
2 dentes de alho finos
2 tomates maduros
2 cenouras
200g de ervilhas (ou de feijão verde)
500g de batatas aos cubos
3 colheres de sopa de azeite

Meio copo de vinho branco
sal e pimenta qb
meia malagueta para quem aprecia, desfeita.

Fazemos um refogado com o azeite, a cebola, os alhos, as cenouras, o chouriço e os tomates, todos cortados em pedaços pequenos ou rodelas. Temperamos a gosto.

Estando bem apurado, acrescenta-se um pouco de vinho branco e esperamos que ferva.

Juntamos depois a carne em pedaços e deixamos cozinhar 20 a 30 minutos em fogo lento e com a panela tapada.

Finalmente, acrescentamos as batatas cortadas aos cubos, as ervilhas, e retificamos de sal e pimenta. Devemos ir vigiando e juntando um pouco de água com a concha, lentamente.

Está pronto quando as batatas estiverem bem cozidas. Tiramos do lume e esperamos um minuto para abrir os sabores.

Um segredo da minha bisavó Jerónima era cozer sempre antes um pedaço de toucinho entremeado em água. Depois era dessa água que ia acrescentando ao guisado, a pouco e pouco. O toucinho, cortado às tirinhas, acompanhava a jardineira para dentro da panela antes de esta ir para a mesa.

-Sobre Manuel Luar-

Manuel Luar é o pseudónimo de alguém que nasceu em Lisboa, a 31 de agosto de 1955, tendo concluído a Licenciatura em Organização e Gestão de Empresas, no ISCTE, em 1976. Foi Professor Auxiliar Convidado do ISCTE em Métodos Quantitativos de Gestão, entre 1977 e 2006. Colaborou em Mestrados, Pós-Graduações e Programas de Doutoramento no ISCTE e no IST. É diretor de Edições (livros) e de Emissões (selos) dos CTT, desde 1991, administrador executivo da Fundação Portuguesa das Comunicações em representação do Instituidor CTT e foi Chairman da Associação Mundial para o Desenvolvimento da Filatelia (ONU) desde 2006 e até 2012. A gastronomia e cozinha tradicional portuguesa são um dos seus interesses.  Editou centenas de selos postais sobre a Gastronomia de Portugal e ainda 11 livros bilingues escritos pelos maiores especialistas nesses assuntos. São mais de 2000 páginas e de 57 000 volumes vendidos, onde se divulgou por todo o mundo a arte da Gastronomia Portuguesa. Publica crónicas de crítica gastronómica e comentários relativos a estes temas no Gerador. Fez parte do corpo de júri da AHRESP – Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal – para selecionar os Prémios do Ano e colabora ativamente com a Federação das Confrarias Gastronómicas de Portugal para a organização do Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa, desde a sua criação. É Comendador da Ordem de Mérito da República Italiana.

Texto de Manuel Luar
Ilustração de André Carrilho

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