O Festival WOOL | Covilhã Arte Urbana 2023 voltou a colocar a cidade da Covilhã no centro “do que melhor se faz na Europa no que à arte urbana diz respeito” de 10 a 18 de junho. Lara Seixo Rodrigues, cofundadora do WOOL, conta ao Gerador que, desde a sua 1.ª edição em 2011, que “é possível confirmar a diversidade de públicos que o acompanha com enorme entusiasmo. Falamos de residentes, que se envolvem de inúmeras formas, de visitantes que chegam dos mais variados pontos do nosso país, mas também de estrangeiros que nos visitam religiosamente durante o festival. E falamos das mais variadas gerações”.
Esta iniciativa cultural foi organizada com o objetivo de “descentralizar a cultura” e apresentar o primeiro festival que reunisse as várias “expressões de Arte Contemporânea em solo português, introduzindo-as como ferramentas capazes de promover, inegavelmente e desejavelmente, transformação social, cultural, económica e/ou turística numa comunidade e território, especificamente do Interior, aspirando a sua crescente coesão e sustentabilidade”.
Em doze anos, o WOOL apresentou 10 edições, 43 iniciativas em território nacional e internacional, realizou 131 intervenções artísticas (murais e instalações) e recebeu 52 artistas portugueses e 27 artistas estrangeiros. Para a edição de 2023, os artistas convidados foram Helen Bur, Mariana Duarte Santos e Taxis.
“Existem vários aspetos a ponderar no momento de escolha de um artista: estéticos, materialidade, temática, agenda, logística, disponibilidade de paredes, género, garantia de resultados, entre outros”, explica-nos Lara Rodrigues. “Analisado como um todo, tentamos trazer à Covilhã diferentes abordagens, para enriquecer o roteiro WOOL. O grupo de artistas é composto sempre por dois artistas portugueses e dois estrangeiros, e integra sempre pelo menos uma mulher. Nesta 10.ª edição as mulheres estavam curiosamente em maioria”.
A britânica Helen Bur exibiu, na Covilhã, o seu trabalho “que varia entre o óleo sobre a tela e a tinta sobre a parede”. Para esta última vertente, a artista criou um mural que, segundo se esperava, deveria “corresponder à sua poeticidade habitual, utilizando a capacidade da pintura para criar narrativas sociais contemporâneas”.




Por sua vez, a artista portuguesa de arte urbana, Mariana Duarte Santos, costuma recorrer ao conceito de memória para criar as suas obras. Para além disso, a sua arte é também influenciada por outras áreas artísticas, como o cinema ou a literatura. Atualmente, a artista conta já com mais de 40 murais em sítios tão distintos como a Irlanda, Luxemburgo, Portugal ou Espanha.




Outro dos artistas que a 10.ª edição do WOOL recebeu foi o pintor, muralista, ilustrador e printmaker grego Taxis, “cujo trabalho assume, na sua maioria, uma dimensão figurativa. Sempre em torno do ser humano e das suas inquietações, hábitos e lutas internas, Taxis procura retrabalhar velhos pensamentos com um novo olhar”.




“Após mais de uma década, é […] possível confirmar o papel distintivo e único do WOOL na promoção e projeção da Arte Urbana Portuguesa, dentro e fora das nossas fronteiras”, pode ler-se em nota de imprensa. A cofundadora acrescenta ainda que, “para a equipa organizadora, 12 anos de WOOL significam persistência […] e compromisso para com o território e comunidade que acolhe e entende o WOOL como seu, como marca deste território”.
Na programação desta edição do festival, destacou-se também a open call aberta a artistas portugueses e estrangeiros residentes em Portugal - vencida pelo artista português Tiago Hesp – e o lançamento da aplicação WOOL | wall by wall, desenvolvida em parceria com a Universidade da Beira Interior (UBI) que, unindo o roteiro de arte urbana WOOL a aspetos de gamificação, permite oferecer um serviço imersivo aos que visitam ou habitam a cidade”.


Para além dos murais, o WOOL Vai à Escola, “uma ação participativa com orientação de Pitanga (artista portuguesa de nome próprio Joana Rodrigues)”, foi organizada para criar um mural na Escola Básica de São Silvestre que partiu “de uma reflexão das crianças sobre o ODS - Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 11” e se focou “na construção de cidades e comunidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis”.


No dia 15 de Junho, na Banda da Covilhã, foi apresentado o filme Banksy - Procura-se!, um documentário realizado em 2020 por Aurélia Rouviere e Seamus Haley, que procura responder “a uma questão inúmeras vezes levantada no seio da comunidade artística contemporânea nos últimos anos: quem é Banksy”?
Já no dia 17 de junho, na Biblioteca Municipal da Covilhã, a artista Mariana Duarte Santos realizou um workshop de linogravura - uma técnica de impressão que se serve do linóleo e da sua escavação para criar uma impressão em papel, idêntica à técnica de um carimbo. No mesmo dia, mas noutro local, o Miradouro das Portas do Sol foi palco para um espetáculo musical, street food, um DJ set e um mercado urbano. No que à música diz respeito, a organização do WOOL desafiou a CISMA - Associação Cultural da Covilhã para consigo pensar este momento do festival. O resultado desta parceria foi “a apresentação do projeto “Entre Portas”, uma banda criada por jovens músicos do concelho da Covilhã e do Fundão, que gravitam em torno da música portuguesa, da música popular brasileira e do jazz”.


A acrescentar às várias conquistas do festival, o WOOL Covilhã destacou-se também pela obtenção do selo de qualidade EFFE (Europe for Festivals, Festivals for Europe), promovido pela Associação Europeia de Festivais (EEFA) que, desde 2015 e até à data, “considera o WOOL um festival representativo de qualidade artística e com impacto significativo a nível local, nacional e internacional”.
Para o futuro do Festival WOOL, Lara Rodrigues afirma que pretende dar continuidade aos objetivos delineados desde a edição de 2011, sendo esses: “prestar tributo à história da cidade como forma de redescobrir a sua identidade; despertar o interesse da comunidade para a Cultura e Arte Contemporânea; reabilitar áreas urbanas através da Arte, tornando-a acessível a todos, democratizando-a e permitindo uma aprendizagem informal; e envolver a comunidade em todas as intervenções e ações, de forma a que todos as sintam como suas, como parte da sua herança”.