fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Margarida Freitas | Youth Cluster

Consequências de um regresso à normalidade no ensino superior

Cada vez mais ouvimos que precisamos de níveis mais elevados de educação para conseguir melhores…

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Cada vez mais ouvimos que precisamos de níveis mais elevados de educação para conseguir melhores empregos. Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho pauta-se de cada vez mais precariedade e o sistema de ensino que nos deveria preparar para o enfrentar mantém-se rígido e não responde às nossas necessidades. Se, por um lado, acreditámos veementemente que a pandemia viria a modificar tanto o sistema de ensino como o mercado de trabalho, rapidamente se fez de tudo para voltar à suposta normalidade pré-pandemia. 

Como Silvia Federici refere "there is no normality to go back to” e, na minha opinião, existe, sim, uma necessidade de lutar por mudanças significativas que tornem o sistema de educação mais inclusivo e acessível para todas as pessoas. Gostaria de partilhar a minha experiência pessoal, que é também a experiência de várias pessoas que entraram em mestrados durante um ano marcado pela Covid-19 e consequentes mudanças no sistema de ensino. Essas mesmas mudanças fizeram-nos sonhar com a possibilidade de adaptar o curso que escolhemos ao nosso percurso pessoal e profissional. 

No meu caso, escolhi um Mestrado que só existia em Lisboa em horário nocturno, mas sabia que não queria ficar nesta cidade, pois já tinha iniciado o meu percurso profissional a um nível internacional e, assim que a pandemia o permitisse, queria voltar a sair de Portugal. O ensino online trouxe-me assim a possibilidade de iniciar o meu projecto de empreendedorismo social fora de Lisboa - a Associação Youth Cluster -, frequentar todas as aulas sem perder horas em transportes públicos e até estudar um semestre no estrangeiro enquanto continuava a frequentar aulas do meu interesse em Portugal. 

Nesse primeiro ano de aulas aprendi através da diversidade de realidades e experiências das pessoas que frequentavam o mesmo curso, algumas delas residiam e trabalhavam em várias zonas do país e outras em diferentes continentes. Em geral, o mestrado era um complemento real ao nosso percurso profissional e que não exigia que condicionássemos a nossa vida para ir à universidade três vezes por semana para ter três horas de aulas.

Por um lado, acredito veementemente que o contacto pessoal com as colegas e docentes é bastante importante e tem um impacto essencial no nosso percurso. Diria até que se o ensino à distância fosse uma possibilidade durante a minha licenciatura jamais iria optar por essa opção, no entanto, no mestrado a realidade é diferente e o benefício do ensino presencial não deverá ser superior aos desafios que este mesmo traz consigo, ou seja, deveria haver um modelo que satisfaz as nossas necessidades. No caso deste mestrado, todos o frequentamos porque gostamos, todos temos espaço para falar, as aulas à distância foram bastante dinâmicas e conseguimos criar laços e projectos com as outras pessoas.

Neste novo ano lectivo, voltámos à dita normalidade e, a poucas semanas de começarmos as aulas, fomos informados que a pandemia já é uma realidade do passado e, por isso, as aulas deixaram de ser à distância. Por um lado, esta não era a informação que alguns de nós esperavam. No meu caso, no início do ano lectivo, estava a participar num programa de voluntariado na Grécia e, no regresso a Portugal no final de Outubro, tinha pensado mudar de casa para o interior de Portugal.

O sistema de ensino público à distância não foi uma novidade em Portugal, pois a Universidade Aberta tem estado na linha da frente na promoção de um sistema de ensino mais acessível e que permite investir numa formação contínua em qualquer fase da nossa vida. Desta forma, esta é uma possibilidade real e, num contexto de transformação digital, parece que não estamos a dar o passo em frente, mas sim um passo atrás e as consequências não se reflectem apenas na necessidade de adaptarmos a nossa vida ao curso que frequentamos e, por vezes, ter custos mais elevados. As consequências são também visíveis na desertificação do interior ao criar a impossibilidade de nos estabelecermos em zonas mais rurais e beneficiar a economia local, assim como na possibilidade de contratar professores de diferentes zonas do país.

Se o sistema de ensino não dá resposta às nossas necessidades e interesses é necessário que sejamos nós a procurar e criar alternativas. Para mim fugir ao standard dos cursos é uma opção interessante que nos permite colmatar alguns dos desafios deste regresso à normalidade no ensino superior. Para experienciar um ambiente mais intercultural e escolher disciplinas que façam mais sentido no nosso percurso académico em detrimento de um curso onde existem apenas duas disciplinas opcionais por semestre, o programa Erasmus+ dá-nos a oportunidade de estudar e estagiar fora de Portugal durante um período máximo de 12 meses. Existe ainda o programa Almeida Garrett, uma espécie de Erasmus em Portugal, que nos permite ficar um ou dois semestres noutra universidade pública nacional e assim podemos escolher mudar-nos de zonas urbanas para zonas rurais e vice-versa ou até mesmo escolher a única universidade pública de ensino à distância em Portugal para não limitar o nosso percurso pessoal e profissional seja ele nacional ou internacional.

A título de exemplo e, espero eu, de inspiração, no meu caso, a minha resposta ao meu mestrado que deixou de oferecer a oportunidade do ensino à distância inclui a participação nestes dois programas com o intuito de alcançar os meus objectivos pessoais, académicos e profissionais.

-Sobre a Margarida Freitas-

Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais, queria mudar o mundo pela diplomacia, mas depressa percebeu que o seu caminho era junto das pessoas a fazer voluntariado nos mais variados contextos, logo adoptou o lema do ano sabático para a sua vida e já andou um bocadinho pelo mundo. Com um desejo de trabalhar em intervenção humanitária, mas com um grande cepticismo sobre as práticas das grandes organizações no Sul Global está a concluir o Mestrado em Estudos de Desenvolvimento no ISCTE. 
Em 2020, juntou 9 amigos e fundou a Associação Youth Cluster com o objetivo de dar as mesmas oportunidades que já teve a outras pessoas jovens residentes em Portugal. Através do seu trabalho na Youth Cluster e, em cooperação com outras organizações, tem reivindicado por igualdade de oportunidades e melhores políticas para a juventude. 
Nos tempos livres adora googlar sobre coisas improváveis.

Texto de Margarida Freitas
Fotografia de Rita Almeida
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

25 Julho 2024

Carta do Leitor: A ironia política dentro da violência

23 Julho 2024

Tranças de resistência

18 Julho 2024

Carta do Leitor: Admitir que não existem minorias a partir de um lugar de (semi)privilégio é uma veleidade e uma hipocrisia

16 Julho 2024

Assassinato de carácter: o (pré)juízo de Cláudia Simões

11 Julho 2024

Carta do Leitor: Afinar a curiosidade na apressada multidão

9 Julho 2024

Sobre a Necessidade (o Dever) de Reconhecer o Estado da Palestina

4 Julho 2024

Exames nacionais? Não, obrigado

3 Julho 2024

Carta do Leitor: Programação do Esquecimento

2 Julho 2024

Mérito, PIB e Produtividade: a santíssima trindade em que temos de acreditar

27 Junho 2024

Carta do Leitor: Assim não cumpriremos abril

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Narrativas animadas – iniciação à animação de personagens [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online e presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura II – Redação de candidaturas [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e manutenção de Associações Culturais (online)

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Soluções Criativas para Gestão de Organizações e Projetos [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Produção de Eventos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

22 Julho 2024

A nuvem cinzenta dos crimes de ódio

Apesar do aumento das denúncias de crimes motivados por ódio, o número de acusações mantém-se baixo. A maioria dos casos são arquivados, mas a avaliação do contexto torna-se difícil face à dispersão de informação. A realidade dos crimes está envolta numa nuvem cinzenta. Nesta série escrutinamos o que está em causa no enquadramento jurídico dos crimes de ódio e quais os contextos que ajudam a explicar o aumento das queixas.

5 JUNHO 2024

Parlamento Europeu: extrema-direita cresce e os moderados estão a deixar-se contagiar

A extrema-direita está a crescer na Europa, e a sua influência já se faz sentir nas instituições democráticas. As previsões são unânimes: a representação destes partidos no Parlamento Europeu deve aumentar após as eleições de junho. Apesar de este não ser o órgão com maior peso na execução das políticas comunitárias, a alteração de forças poderá ter implicações na agenda, nomeadamente pela influência que a extrema-direita já exerce sobre a direita moderada.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0