É uma palavra que gosto particularmente. Tal como tangerina ou Fata Morgana. Porque, para além do significado: conundrum é um problema impossível de resolver, tangerina uma combinação de Tanger com laranja e Fata Morgana uma miragem, todas elas, são bastante imaginativas e peculiares. Infelizmente, conundrum é, para além do meu gosto por palavras estranhas, o que define o momento em que estamos.
Na questão ambiental é evidente. Todos querem menos poluição, menos exploração dos recursos naturais, das florestas e dos oceanos, maior preservação da vida selvagem que resta. Mas todos querem legitimamente mais bem-estar individual, menos miséria, maior mobilidade, mais tecnologias, e, para alguns, mais segurança. São desejos incompatíveis com a forma como as nossas sociedades estão organizadas. Talvez, no futuro, seja possível resolver este conundrum, mas por agora não é.
Bem podem os políticos e os que decidem fazer conferências e acenar com soluções. Não têm nenhuma viável. Não se pode exigir maior crescimento económico e menor exploração dos recursos naturais. Não se pode aumentar a riqueza individual e pedir às pessoas para consumir menos. Os dirigentes políticos não podem prometer mais riqueza, para ganhar eleições, e menos acesso aos bens disponíveis, para as perder logo de seguida. Ou seja, o ambiente vai, inexoravelmente, continuar a degradar-se de forma consistente. O planeta e a vida nos oceanos vão continuar a morrer.
Existe outro conundrum relacionado com os efeitos da degradação ambiental, com particular destaque para o aquecimento global. Estamos a falar de processos emergentes, isto é, que são desencadeados de forma caótica, imprevisível e descontrolada. O aquecimento global está em marcha, motivado pela ação humana, mas é ilusório pensar que uma ação humana de sentido contrário o possa parar no médio prazo. Todos temos que contribuir, por uma questão de consciência, mas convenhamos o processo é irreversível.
Outro conundrum, que de momento parece maior do que o ambiental, mas não é, diz respeito à atual guerra na Europa. O conflito não é, definitivamente, entre uma Rússia, a invasora, e a Ucrânia, a invadida. Mas um confronto entre dois campos, ambos imperiais e, diga-se, bastante antiquados. Lutam ambos por território físico, num tempo em que os mais importantes territórios são virtuais. Os territórios definidos pelas tecnologias digitais. Daí que as soluções sigam aquele preceito que diz que quem só tem um martelo vê todos os problemas como um prego. E, eles martelam todos os dias, cada vez mais em direção ao desastre. Se de um lado, está um ditador dos velhos tempos, que imagina recuperar uma grandeza perdida há muito tempo, do outro, a nossa Europa, tem hoje a mais incompetente e imbecilizada classe política de que há memória. Temos assim, um conundrum perfeito. Tenham, umas boas férias.
-Sobre Leonel Moura-
Leonel Moura é pioneiro na aplicação da Robótica e da Inteligência Artificial à arte. Desde o princípio do século criou vários robôs pintores. As primeiras pinturas realizadas em 2002 com um braço robótico foram capa da revista do MIT dedicada à Vida Artificial. RAP, Robotic Action Painter, foi criado em 2006 para o Museu de História Natural de Nova Iorque onde se encontra na exposição permanente. Outras obras incluem instalações interativas, pinturas e esculturas de “enxame”, a peça RUR de Karel Capek, estreada em São Paulo em 2010, esculturas em impressão 3D e Realidade Aumentada. É autor de vários textos e livros de reflexão, artística e filosófica, sobre a relação Arte e Ciência e as implicações, culturais e sociais, da Inteligência Artificial. Recentemente, esteve presente nas exposições “Artistes & Robots”, Astana, Cazaquistão, 2017, no Grand Palais, Paris, 2018, na exposição “Cérebro” na Gulbenkian, 2019 e no Museu UCCA de Pequim, 2020. Em 2009 foi nomeado Embaixador Europeu da Criatividade e Inovação pela Comissão Europeia.