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Opinião de Manuel Luar

Dia de Reis

Sobre este Dia de Reis recordo a história antiga que justifica serem apenas três os…

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Sobre este Dia de Reis recordo a história antiga que justifica serem apenas três os soberanos presentes na gruta do Menino Jesus. 

Aqui existem duas versões (para não complicar). 

A versão erudita bíblica cuja fonte é o evangelista S. Mateus e de onde se retira que Melchior era rei da Pérsia. Gaspar, Rei da Índia e Baltazar, Rei da Arábia.

De notar que para outros estudiosos da Bíblia estes "Reis" seriam, todavia, simples seguidores de Zoroastro, estudiosos do céu e das estrelas.

A tradição da devoção popular que passou para os barristas dos presépios não é igual.

Nesta última a procissão dos Reis Magos queria representar a adoração por todos os povos da terra, mas como no início apenas se conheciam três continentes (África, Europa e Ásia) os Reis convocados para estarem presentes nos primeiros presépios da época de S. Francisco de Assis, foram apenas esses três - Melchior, Gaspar e Baltazar.

Depois dos descobrimentos portugueses e espanhóis houve barristas (entre eles Machado de Castro) que não estiveram de modas e "meteram" mais um Rei mago no Presépio, representando as Índias Ocidentais, a “América".

Este último e atrasado visitante do presépio apresenta-se nalgumas expressões formais de arte montado num lama do Perú. 

Neste Dia de Reis manda a tradição que se coma o bolo com o mesmo nome. Trata-se, contudo, de uma modernice importada de França, como passo a explicar.

Tradicionais, à antiga portuguesa, seriam os fritos da quadra, com açúcar e canela.

Falamos por exemplo das rabanadas, umas das mais famosas sobremesas natalícias que começaram por ser um alimento que se dava às mulheres depois de terem filhos, para recuperarem forças.

Porventura herança árabe, dádiva dos “mouros” que aqui viveram.

Embora os franceses defendam com unhas e dentes a sua autoria do “pain perdu”, exportado para os EUA sob o nome de “french toast”.

Ficamos nós com a “rabanada” e deixemos para a Gália o “bolo-rei”, modernismo introduzido em Portugal, 1870, por Balthasar Junior, proprietário da Confeitaria Nacional.

Mas que foi criado em Paris no tempo do Rei-Sol, em homenagem a Luis XIV, com o nome “gallette des rois”.

Por graça convém saber que logo após a tomada da Bastilha os revolucionários mudaram-lhe o nome para “gallette sans-cullotes”.  Enquanto aqui em Portugal o nome ficou apesar da mudança de regime, mas no Dia de Reis de 1910 terá o bolo em causa tido muito pouca saída.

Et pour cause…

A origem das Janeiras e dos Cantares de Reis que se entoam ainda em Portugal em redor deste dia terá muito provavelmente a ver com as Saturnais Romanas, festival em honra de Saturno que envolvia trocas de presentes e espetáculos de música e canto.

Para além dos bolos não existe grande tradição em Portugal para celebrar gastronomicamente este Dia de Reis.

Cantavam-se as “Janeiras” na província e dava-se aos cantores queimadas de aguardente com açúcar ou então jeropiga e castanhas assadas. Bolos secos faziam igualmente parte da dádiva, como as roscas, os esquecidos ou os bolos de azeite.

Na Beira Alta – e se houvesse tempo para isso – em casa dos lavradores eram os cantores convidados para a adega e ali se juntavam todos os familiares com o grupo, comendo enchidos e bebendo vinho da pipa.

Uma outra tradição própria deste dia tem a ver com o consumo e a guarda dos bagos de romãs. Para ter sorte, saúde e dinheiro o cidadão devia comer romã no Dia de Reis e guardar religiosamente alguns dos seus bagos.

Recorremos a Teófilo Braga (“O Povo Português: nos seus costumes, crenças e tradições”): “No Dia de Reis deitam-se três bagos de romã no lume para o ter acendido, três bagos na caixa do pão e três no bolso do dinheiro para ter dinheiro e pão.”

Em casa dos meus pais (sendo este dia ainda feriado nacional nessa altura) comia-se normalmente peixe ao almoço do Dia de Reis, penso que para desenjoar da “carnificina” da época natalícia.  Filetes de Pescada com arroz de grelos era quase sempre o prato escolhido. E bem.

-Sobre Manuel Luar-

Manuel Luar é o pseudónimo de alguém que nasceu em Lisboa, a 31 de agosto de 1955, tendo concluído a Licenciatura em Organização e Gestão de Empresas, no ISCTE, em 1976. Foi Professor Auxiliar Convidado do ISCTE em Métodos Quantitativos de Gestão, entre 1977 e 2006. Colaborou em Mestrados, Pós-Graduações e Programas de Doutoramento no ISCTE e no IST. É diretor de Edições (livros) e de Emissões (selos) dos CTT, desde 1991, administrador executivo da Fundação Portuguesa das Comunicações em representação do Instituidor CTT e foi Chairman da Associação Mundial para o Desenvolvimento da Filatelia (ONU) desde 2006 e até 2012. A gastronomia e cozinha tradicional portuguesa são um dos seus interesses. Editou centenas de selos postais sobre a Gastronomia de Portugal e ainda 11 livros bilingues escritos pelos maiores especialistas nesses assuntos. São mais de 2000 páginas e de 57 000 volumes vendidos, onde se divulgou por todo o mundo a arte da Gastronomia Portuguesa. Publica crónicas de crítica gastronómica e comentários relativos a estes temas no Gerador. Fez parte do corpo de júri da AHRESP – Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal – para selecionar os Prémios do Ano e colabora ativamente com a Federação das Confrarias Gastronómicas de Portugal para a organização do Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa, desde a sua criação. É Comendador da Ordem de Mérito da República Italiana.

Texto de Manuel Luar
Ilustração de André Carrilho
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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