“Os jornalistas estão a colaborar na criação de uma sociedade onde vai deixar de haver liberdade e democracia.” A frase é de Diana Andringa, a última convidada das Entrevistas Centrais. Para a jornalista e documentarista, as atuais práticas jornalísticas estão a permitir à “extrema direita servir-se do seu trabalho para um dia destes impor a censura e a falta de liberdade.”
Há uma “dúvida sistemática” em relação à política, que não existe relativamente ao poder económico, diz também, nesta entrevista, em que abordamos a crise do jornalismo e dos valores democráticos.
"Nós ainda contestamos muito pouco os chefes", considera a jornalista, para quem o fascismo se reproduz ainda numa série de situações, , em que "as pessoas aceitam uma humilhação que nunca podiam aceitar", como as praxes ou o facto de sermos ainda um país de "doutores".
A dúvida e o erro jornalísticos, o que falta ainda falar sobre a Guerra Colonial, sobre os movimentos de libertação colonial, o trabalho que não foi feito com os chamados "retornados" ou os presos políticos durante a ditadura, são outros temas desta conversa.
Diana Andringa nasceu em 1947 no Dundo, em Angola. Em 1958 veio para Portugal. Frequentou a Faculdade de Medicina, mas trocou-a pelo jornalismo. Fez o 1º Curso de Jornalismo do Sindicato dos Jornalistas em 1968, e entrou para a revista Vida Mundial. Foi presa pela PIDE a 27 de janeiro de 1970, por apoio à Luta de Libertação de Angola, e condenada a 20 meses de prisão, cumpridos em Caxias. Foi jornalista na RTP, cronista no Diário de Notícias, na RDP e no Público, foi diretora-adjunta do Diário de Lisboa. Doutorou-se em Sociologia da Comunicação pelo ISCTE em 2013, e é agora documentarista independente, para além de se dedicar também à investigação no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.