A rainha da “sofrência pop” brasileira está de regresso a Portugal nos dias 22 e 23 de abril. Duda Beat promete encher as salas de desabafos e confissões, em pistas de dança repletas de corações despedaçados em busca de consolo, num misto de safadeza e diversão.
De uma infância passada nos loucos anos 90, em Pernambuco, a uma adolescência na efervescência do Rio de Janeiro, nasce Duda Beat. A carreira de Eduarda Bittencourt surge de um coração despedaçado e de uma busca incessante por um amor correspondido e sincero, nos dias desprendidos de hoje. Em 2018, cantou o seu primeiro desabafo ao mundo – Sinto Muito –, que se tornou num êxito imediato, não cantasse Duda Beat sobre aquilo que o mundo ansiava ser cantado, uma espécie de confessionário no qual todos se identificam.
Dois mil e vinte e um traz uma Duda mais madura em Te Amo Lá Fora, com uma boa dose de drama, numa aceitação pessoal que inspira a superação e o empoderamento. O novo álbum tem colaborações de Cila do Coco, numa faixa de ritmo tradicional nordestino, e ainda do rapper Trevo em “Nem Um Pouquinho”. Duda lançou também alguns singles com direito a parcerias com nomes como DJ Omulu, Illy, Tomás Tróia, Lux Ferreira, Mateus Carrilho, Jaloo e ainda Tiago Iorc. Dois mil e vinte e dois é o ano em que Duda Beat regressa à Europa numa tour com passagem pelo Capitólio em Lisboa, e o Hard Club no Porto.
Em entrevista ao Gerador, Duda Beat contou-nos como a sua música é um ato político, falou-nos de amor-próprio e ainda do que podemos esperar da sua passagem por Portugal.
Gerador (G.) – Lembras-te da primeira vez que compuseste uma música? Tiveste receio de a mostrar?
Duda Beat (D. B.) – A primeira vez que compus uma música estava a ir para um trabalho que fazia. Eu era door de um bar em Bota Fogo, no Rio de Janeiro, e estava andando e me lembro que compus um pedaço da “Pro mundo ouvir”. E não tive vergonha de mostrar não, porque eu compus essas e mais outras duas, e quando fui mostrar ao Tomás Tróia, que era meu amigo desde os 15 anos, eu tinha tanta abertura com ele, éramos amigos há tanto tempo que eu não tive vergonha se me ia julgar ou achar que não estava bom o suficiente. Eu só mostrei e, para sorte minha, ele adorou a música e começámos a tocar nessa composição, foi um processo bem gostoso!
G. – És uma pessoa muito inspiradora, mostrando que podemos ser o que quisermos, e que não devem existir redundâncias nas palavras... quantas personagens precisamos de assumir ao longo da vida, para nos assumirmos como a Duda Beat?
D. B. – Eu acho que todos nós somos muitos, temos muitas personagens dentro da gente. Não sei te dizer quanta personagens fui até a Duda Beat nascer, mas com certeza é uma construção de 28 anos de vida e de coisas que eu passei, coisas que vivi e escutei na minha vida. Acho que as personagens todas estão dentro da gente e podemos ser o que quisermos, e não podemos ter medo de mudar de ideia em nenhum momento. Porque uma hora podemos pensar uma coisa e outra hora já pensamos outra. A vida é assim, cheia de coisas ao logo do caminho que faz mudarmos de ideias e olhar para trás e para a frente. A graça da vida é essa: podemos ser muitas personagens numa vida só.
G. – Estudaste Ciências Políticas… Qual é a tua relação com a política? Podemos dizer que a tua música é a tua forma de fazeres política?
D. B. – Com certeza! Toda a relação é uma relação política, acredito muito nisso. A minha relação com a política nasce desde o momento que nasci, acho que acontece com todos, porque qualquer relação que fazemos é uma relação política. Mas, sim, o que faço é uma forma de fazer política, porque falo sobre feminismo, empoderamento, e isso também é política. Empoderamento nos amores não correspondidos também. A minha relação é muito linda. Eu lembro que, todas as vezes que eu ia para a faculdade, e eu estava estudando aquilo, eu ficava muito feliz porque era uma coisa que só dependia de mim, do que eu estava fazendo, o facto de eu sentar ali e prestar atenção no que o professor estava me dizendo de absorver aqueles conhecimentos. Por isso é tão importante para mim esse capítulo da minha vida. Vou levar para o resto da vida, e, como disse antes, tudo está dentro da gente.
G. – O teu primeiro disco foi um sucesso, digamos que imediato, achas que é porque falas pelas pessoas?
D. B. – Sim! Existe uma grande identificação nas minhas letras, porque todo o mundo já sofreu de amor e sentiu as coisas que eu falei. Acho que o diferencial é que eu falo de uma forma que nunca ninguém imaginou, mas todo o mundo pensa, que é o que gera identificação nas pessoas. Mas acredito que é um sucesso, primeiro porque acreditei muito no que estava a colocar no mundo, eu tinha muita certeza, tinha a certeza de que ia dar certo, esse é o primeiro passo – acreditar na gente. E depois, acreditar na nossa narrativa e colocar isso no mundo e não ter vergonha de colocar no mundo, porque fez parte da minha cura, e eu sei que faz parte da cura de muitas outras pessoas também, e por isso é tão especial e interessante.
G. – Basicamente vieste abrir a porta para que as mulheres também pudessem, e no fundo encontrassem, um lugar de fala, do tipo “eu também sinto estas coisas, não são só os homens”. Já tinhas encontrado mulheres que faziam isto e te inspiraram de alguma forma, assim como tu agora inspiras os outros?
D. B. – Acho que todas as mulheres que passaram na minha vida, a minha avó, a minha mãe, irmã, e que passam hoje em dia, as minhas empresárias, amigas, os ícones que eu sigo como a Lady Gaga, Ivete Sangalo, a própria Anitta, Pablo Vittar, todas essas mulheres inspiram-me muito a ser cada dia mais quem eu sou, a não ter medo da minha verdade e só colocá-lo no mundo. Acho que o meu trabalho fala muito sobre isso… Então, sim, eu tenho muitas mulheres que me inspiram!
G. – E já tiveste quem viesse desabafar contigo?
D. B. – Muitas amigas já desabafaram comigo, pessoas queridas, muitas trocas com a minha mãe, empresária, e isso enriquece a minha vivência e experiência sobre esses assuntos de amores e dores, de uma forma geral. Até fãs, que recebo no camarim, desabafam comigo, contam o que estão vivendo, e eu tento ajudar de certa forma, dar palavra de carinho, conforto, mas sempre com a lição de que temos sempre de nos pôr em primeiro lugar e transformar as nossas dores numa coisa para a gente, acredito nisso.
G. – Do Sinto Muito para o Te Amo Lá Fora, o que muda na Duda?
D. B. – Muitas coisas mudam na Duda! A forma que eu canto é mais uma etapa dessa narrativa. A principal diferença do primeiro disco para o segundo é que no primeiro estou completamente romantizada e iludida. No primeiro, posso morrer a qualquer momento, no segundo, eu já não morro mais, tou debochada, empoderada, desiludida, e como diz o meu companheiro Tomás Tróia: desilusão é bom, porque é quando caímos na real. Então eu sinto que nesse segundo disco eu estou desiludida caindo na real e saindo desse poço e encarando com muito amor, verdade e muita garra todos esses assombros que assombraram a minha vida, quando amei e não fui correspondida.
G. – Podes falar-nos um pouco sobre esta renovação da tua parceria com Lux&Tróia?
D. B. – Essa parceria é uma parceria para a vida. São os meus melhores amigos e confidentes, as pessoas com quem me sento e posso passar dias conversando sobre qualquer assunto, não tem julgamento, não tem amarra na nossa relação, não tem vergonha, temos uma relação bonita e frutífera. Por isso, porque todo o mundo conversa muito de igual para igual, somos um trio, de certa forma, de produção e composição. Achar estes passeiros para a minha vida foi uma bênção de Deus para mim. Foi uma coisa maravilhosa que aconteceu na minha vida. Sou grata por ter os dois comigo porque a troca é linda e saudável entre a gente, então é muito bonito ver que temos as referências muito parecidas e ao mesmo tempo diferentes, porque trazemos um pouco da vivência de cada um para dentro dessa composição e fica do jeito que fica. Eu, com letra e melodia, Tomás, com harmonia, Lux, com a harmonia também, os três, com arranjo, que eu também arranjo algumas coisas junto com eles, então é uma parceria muito bonita que quero ter para o resto da minha vida, porque dá certo e crescemos juntos.
G. – Quem são os músicos que trazes contigo nesta digressão pela Europa e que vamos poder ver e ouvir contigo em palco?
D. B. – Trago comigo Camila de Alexandre e Luiz de Alexandre, minhas back vocals, Filipe Veloso no baixo, Lux no teclado e soltando as programações, e trago Tomás Tróia na guitarra. Vão poder ver um show muito eclético, animado, onde todo o mundo brilha. Acho que a coisa mais bonita do meu show é isso, há espaço para todos, para que todos brilhem e tenham o seu momento. A generosidade que existe entre a gente, somos uma família muito feliz, e muito maravilhosa. Vamos ter canções do Sinto Muito, do Te Amo lá Fora, alguns feats que fiz ao longo da minha carreira de quatro anos e muita conversa, porque nestes shows menores eu gosto da história de conversar e trocar com o público. Vai ser emocionante, ainda mais no Capitólio, uma casa na qual sempre quis cantar e estar presente.
G. – Trouxeste a safadeza, a diversão, mas também a tristeza para a música popular brasileira. Achas que podemos dizer que abriste um novo caminho na MPB?
D. B. – Fico muito feliz se você falar que abri um novo caminho na MPB! Mas acho que sim, porque eu misturo tanta coisa que acaba virando algo novo, eu canto brega funk, reggae, trap, eu canto tanta coisa, maracatu, piseiro, os ritmos da minha terra, eu sofro, rio, choro… Eu acho que o meu show é muito Duda Beat, o que eu sou e o que nós somos. A gente não é só uma coisa, como falei no início da entrevista. Por isso, acho que sim, que abri um novo caminho na MPB, talvez seja a rebelde da MPB, uma cantora independente que está a fazer história, é assim que me sinto. Uma cantora independe que lota casas na Europa, faz história com toda a certeza, e é isso, é um caminho novo na MPB, na pop, é um caminho novo da pop brasileira.