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Opinião de Francisco Cipriano

E sobre o futuro, a cultura não será um aspeto secundário?

“A cultura não é um aspeto secundário da nossa sociedade, a cultura está e sempre…

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“A cultura não é um aspeto secundário da nossa sociedade, a cultura está e sempre estará no centro das nossas vidas!”, afirmou Mariya Gabriel, Comissária Europeia para a Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude na abertura da sessão A Cultural Deal for Europe: A central place for culture in the EU’s post-pandemic future, do passado dia 18 de novembro.

Estamos a viver num tempo verdadeiramente extraordinário. A pandemia da COVID-19 atingiu fortemente o mundo e a Europa, um desafio tão atual que podemos mesmo nem o compreender totalmente, ainda. Como se não nos bastasse os desafios já existentes, como a crise climática, as crescentes desigualdades, a polarização social e a redução dos espaços públicos, não só não desapareceram, como foram largamente ampliados pela crise pandémica. A cultura, os artistas e as instituições culturais têm desempenhado um papel decisivo para nos ajudar nesta crise de distância social, isolamento e novas fronteiras. Porém, o setor foi um dos mais afetados nesta crise. As instituições culturais estão fechadas, os artistas não se podem apresentar, as produções de teatro e cinema estão suspensas. Existe o risco de recessão cultural prolongada se não agirmos ousadamente em resposta a isso.

Parece irónico, mas não é. Tudo isto ocorre num momento também ele central no calendário europeu. A preparação e aprovação do Quadro Financeiro Plurianual (QFP) para o próximo período de sete anos. O QFP estabelece o montante que a União Europeia pode investir em projetos e programas que reforcem o futuro da Europa. Após semanas de negociações intensas, o acordo compromisso chegou a 10 de novembro de 2020.

No contexto das suas negociações, o Parlamento decidiu reforçar os principais programas da EU em regime direto, como o novo relativo à Saúde, o Horizonte Europe, o Erasmus+ e a Europa Criativa. Acrescem ainda os fundos de recuperação face à COVID-19, o Next Generation EU, um instrumento temporário de recuperação para ajudar a reparar os danos económicos e sociais imediatos provocados pela pandemia de coronavírus.

Na dinâmica normal dos fundos em regime de gestão partilhada com os Estados Membros afetos à Coesão económica, social e territorial, Política Agrícola Comum e Assuntos Marítimos e das Pescas, Portugal receberá ainda 29,8 mil milhões de euros, um valor superior ao atual Portugal 2020.

Chegados a acordo é necessário passar para o plano operacional. Tenho acompanhado de perto a evolução do tema.  A Comissão Europeia apresentou a nova proposta para o Programa Europa Criativa 2021-2027. O programa vai apostar em três vertentes: Cultura, que abrange os setores culturais e criativos, à exceção do setor audiovisual; Media, que abrange o setor audiovisual e a nova vertente Intersetorial, que irá incluir as atividades de todos os setores culturais e criativos, incluindo o setor da comunicação social. Esta última introduz uma novidade dirigindo-se à cultura e meios de comunicação e promovendo a cooperação política em matéria de cultura no seio da UE, um ambiente de liberdade, diversidade e pluralismo apoiando o jornalismo de qualidade e a literacia mediática. A vertente intersectorial visa dar resposta aos desafios comuns e explorar o potencial da colaboração entre os diferentes setores culturais e criativos.

Boas notícias para os cidadãos, pois será reforçado o programa “Cidadãos, Igualdade, Direitos e Valores”, que é também o programa sucessor da iniciativa “Europa para os Cidadãos”, que permite enquadrar iniciativas nas áreas culturais. Sobre o novo programa Erasmus+ pouco se sabe. Ficou a referência de que será um programa mais inclusivo e inovador e também mais verde e digital.

No plano interno, a continuidade do Portugal 2020 também já está em curso. A Estratégia Portugal 2030 será o referencial estratégico para as políticas públicas do país mobilizando para o efeito diversas fontes de financiamento (recursos do Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 da União Europeia e a parcela do instrumento recuperação europeu Next Generation EU que nos caberá).

A Estratégia 2030 estrutura-se em torno de quatro agendas temáticas centrais para o desenvolvimento da economia, da sociedade e do território de Portugal em torno das quais serão organizados os futuros programas operacionais. As quatro agendas definem: As pessoas no centro das suas preocupações, de modo a promover uma sociedade mais inclusiva e menos desigual; A inovação focada na transformação da economia por via da digitalização e na incorporação do conhecimento nas empresas; A sustentabilidade e valorização dos recursos endógenos e O desenvolvimento do território, competitivo externamente e coeso internamente.

Ainda é cedo para conseguir definir com exatidão onde será possível enquadrar futuros projetos do setor cultural no novo Portugal 2030. O desafio atual é ler nas entrelinhas do que é apresentado na Estratégia Portugal 2030. A agenda temática Digitalização, Inovação e Qualificações como Motores do Desenvolvimento aponta caminhos ao definir a promoção da cultura enquanto fator de cidadania e de valorização da informação e do conhecimento, da aprendizagem, da qualificação e da formação contínua, da criatividade e da inovação como fatores-chave da competitividade, devendo a mesma assumir as suas múltiplas dimensões.

Algo idêntico surge na agenda temática Um País Competitivo Externamente e Coeso Internamente, em que surgem referências na área cultural associadas à competitividade das redes urbanas, à melhoria da atratividade e sustentabilidade das cidades e o reforço do sistema urbano e da articulação urbano-rural e às intervenções que visam promover a competitividade e coesão dos territórios da baixa densidade. 

Olhando para 2021, seria tolo fingir que este será um ano normal, independentemente do que o normal sempre significou. Haverá dificuldades e incertezas contínuas. Precisamos de ser pacientes, cuidadosos e flexíveis. Mas também temos sinais de algum otimismo. A Europa e o mundo uniram-se em torno da produção de uma vacina disponível; parece que alguma sensatez está de volta aos EUA, há uma cultura crescente para a ação climática e parece que os novos instrumentos de financiamento da EU nos deixam uma nota positiva que contrastam com os de Portugal 2020.

-Sobre Francisco Cipriano-

Nasceu a 20 de maio de 1969, possui grau de mestre em Geografia e Planeamento Regional e Local. A sua vida profissional está ligada à gestão dos fundos comunitários em Portugal e de projetos de cooperação internacional, na Administração Pública Portuguesa, na Comissão Europeia e atualmente na Fundação Calouste Gulbenkian. É ainda o impulsionador do projeto Laboratório de Candidaturas, Fundos Europeus para a Arte, Cultura e Criatividade, um espaço de confluência de ideias e pessoas em torno  das principais iniciativas de financiamento europeu para o setor cultural. Para além disso é homem para muitas atividades: publicidade, escrita, fotografia, viagens. Apaixonado pelo surf vê̂ nas ondas uma forma de libertação e um momento único de harmonia entre o homem e a natureza. É co-autor do primeiro guia nacional de surf, Portugal Surf Guide e host no documentário Movement, a journey into Creative Lives. O Francisco Cipriano é responsável pelo curso Fundos Europeus para as Artes e Cultura – Da ideia ao projeto que pretende proporcionar motivação, conhecimento e capacidade de detetar oportunidades de financiamento para projetos artísticos e culturais facilitando o acesso à informação e o conhecimento sobre os potenciais instrumentos de financiamento.

Texto de Francisco Cipriano
Fotografia da cortesia de Francisco Cipriano

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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