O Porto recebe, a partir do próximo fim de semana, a terceira edição do BEAST Festival Internacional de Cinema. Entre 28 de setembro a 6 de outubro, a cidade Invicta está convidada a sentar-se na plateia para assistir à arte do cinema criada nos países da Europa de leste.
Ao todo, serão nove dias de programação. Este ano, apesar de a Lituânia ser o país em destaque, haverá lugar para a programação portuguesa feita lá fora. André Lameiras, diretor do festival, tem altas expectativas e reflete sobre a ausência (ou presença) de interesse das pessoas na programação cinematográfica europeia.
Gerador (G.) – O que é o festival BEAST?
André Lameiras (A.L.) – O BEAST foi criado como uma forma de, através da cinematografia contemporânea da Europa de leste, quebrar uma série de barreiras, que são todas as ideias pré-concebidas que existem sobre a Europa de leste. A forma mais simples de o fazer, e a que chega a mais pessoas, é através do cinema, porque a Europa de leste tem um cinema muito bom que é reconhecido mundialmente, mas que não chega a Portugal ou ao público geral. E foi assim que surgiu o BEAST.
G. – Como é que surgiu?
A.L. – Foi mais ou menos uma brincadeira. Portanto, quem começou fui eu e um colega, ambos atuais diretores do festival. Estávamos a estudar há mais de três anos. Ele é da Roménia, e moramos lá juntos, por isso, tínhamos alguma ligação com a Europa de leste. Nós queríamos fazer algo com cinema e mostrar alguns filmes, mas sempre com a ideia de aproximar pessoas. Então, de repente, começamos a falar com pessoas, falamos também com o cineclube do Porto, que nos ajudou muito, e, de repente, tínhamos um festival. Foi ganhando muita proporção e nem era essa a intenção. Mas ficamos muto felizes que tivesse sido assim.
G. – Como avalia as edições anteriores?
A.L. – Um balanço positivo e a única forma de continuar é tendo este balanço. Na primeira edição, contamos com o apoio do cineclube e da Câmara do Porto, o que foi muito importante porque não conhecíamos ninguém na cidade. A segunda edição, que foram cinco dias, foi um festival mais organizado, mais automatizado, o que permitiu ter um programa maior. E agora a terceira edição são nove dias. Na anterior, por vezes, podia haver sobreposições, por ser um festival mais pequeno, por isso decidimos que íamos alongar o festival para nada se sobrepor.
G. – Os portugueses estão informados sobre o cinema que se faz na Europa?
A.L. – Eu acho que os portugueses não estão informados em geral sobre cinema. Não é propriamente uma crítica. Durante muitos anos, as pessoas não estavam habituadas a ir ao cinema, mesmo nos centros da cidade. As pessoas habituaram-se a ir aos shoppings. Por isso, nós não estamos tão habituados ao cinema da Europa de leste, português ou europeu, porque não tínhamos oportunidade, estruturas e, muitas vezes, possibilidades económicas.
G. – Existem 21 países a concorrer na competição de documentários, ficção e filmes experimentais. É fácil criar esta rede entre diferentes países e artistas?
A.L. – É provavelmente a parte mais complexa e a que nós gostamos mais de fazer. Quando nós pensamos na Europa de leste, foi muito difícil, porque o que é a Europa de leste? Há muitas formas de o pensar. Aquilo que era mais simples era pensá-la depois de Alemanha, a partir da Polónia, até aos Balcãs, que têm um passado histórico semelhante. São esses 21 países, que são muito diversos entre si. Mas existe nestes países também um forte interesse em promover internacionalmente o seu cinema. Por isso, existem muitos contactos com institutos de cinema, universidades, promotoras… e acabamos por criar uma rede muito forte com grande feedback.
G. – Apesar de ser um festival sobre a cultura de leste, também existe cinema português em exibição. Era importante para vocês ter algo dedicado à nossa cultura?
A.L. – Sim, porque não faz sentido que estejamos a mostrar cinema da Europa de leste sem retribuir por estarmos em Portugal. O que faz sentido é usar o festival como uma plataforma para mostrar cinema português que é feito por realizadores portugueses que estão fora de Portugal. É uma forma de existir uma colaboração dos dois lados.
G. – Que expectativas existem para esta edição?
A.L. – Estamos muito expectantes e muito dedicados para que esta edição tenha público. Temos algumas sessões de cinema, como cinema para principiantes, que são sessões gratuitas. Há masterclasses e workshops, também gratuitos. Temos cinema, mas também eventos paralelos que não têm qualquer custo. Temos sempre pessoas a comentar as sessões e vale sempre muito a pena.