Jorge Ramos é natural de Braga, mas viveu grande parte da sua vida em Lisboa. Estudou 12 anos no Conservatório Calouste Gulbenkian e seguiu os estudos na Escola Superior de Música de Lisboa, onde se licenciou em composição musical. Seguiu-se o mestrado em Música, “mas mais focado na música eletrónica”. Agora, rumou a Londres, onde está a tirar o grau de doutoramento, na escola Royal College of Music.
Já ganhou duas bolsas de investigação e, agora, seguem-se mais duas: uma bolsa da Fundação Gulbenkian e outra do Doctor Nobel. Descobriu a música muito cedo na sua vida e considera o Reino Unido como um exemplo para a maior valorização da cultura como pilar da economia.
Gerador (G.) – Como é que descobriste este mundo da arte? Houve alguma influência familiar?
Jorge Ramos (J.R.) – É uma história engraçada. Como qualquer miúdo fica fascinado com desenhos animados ou bolas de futebol, eu ficava com música. Portanto, a minha mãe quis inscrever-me numa escola de música. Inicialmente, fui para o Salão Mozzart, mas eu achei um ensino muito rudimentar para crianças, porque os mais novos têm um poder de absorção incrível, e não podemos desperdiçar isso. Então fiz provas no conservatório e fiquei por lá 12 anos.
G. –Estudaste música no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Braga e Lisboa, e depois foste para Londres. Quais foram as maiores diferenças?
J.R. – Em Londres, é muito generalizado: tu és um aluno de uma instituição. Aqui, a vantagem é que é muito individualizado. Tu tens um acompanhamento, e isso é muito bom quando te estás a desenvolver.
No conservatório foi excelente, há componentes de composição instrumental e eletrónica. Em termos de ensino superior, foi basicamente o mesmo, com um plano curricular muito desatualizado, porque o compositor, hoje em dia, não escreve só para orquestra. Ser compositor é saber fazer música, por exemplo, para uma aplicação de telemóvel. Basicamente, é fazer música para o tipo de encomenda que se tem. Mas depois existe uma falha enorme: não te prepara para o mercado, mesmo em questões mais básicas, como explicar os direitos de autor.
Já em Londres, é totalmente diferente. Eles formam-te enquanto aluno, mas tu vais tendo formação regular de gestão de carreiras, workshops de redes sociais, entre outras coisas. O mal de Portugal, por exemplo, é não existir, que eu sabia, um curso de composição para imagem. Ou seja, nós queixamo-nos do cinema português, mas no que toca a composição para filmes, ou és autodidata ou vais pelo caminho da experimentação.
G. –Também estudaste composição. O que é essa coisa de compor para ti?
J.R. – Na altura em que estava a estudar composição, essa pergunta era muito difícil. Agora, para mim, composição é uma disciplina transversal. Qualquer coisa que tu faças é compor: mexer nas chávenas é compor uma imagem, é compor o tampo desta mesa… É uma questão de orquestração, de juntar elementos. É uma disciplina transversal, porque é exatamente o mesmo, quer tu pintes um quadro, quer faças uma escultura, música… Estás a pensar em forma, em proporções.
G. –A cultura é desvalorizada em Portugal?
J.R. – Desvalorizada ou não valorizada? Não valorizar é um terreno neutro, já desvalorizar é depreciativo. Eu não acho que seja desvalorizada, porque há aqui um parâmetro importante: se és artista português ou estrangeiro. Toda a gente diz que se queres ser conhecido, então vai para fora e depois volta. Isso é visível, por exemplo, num concerto de alguém estrangeiro. Eu acho que desvalorizamos os nossos artistas e não valorizamos a cultura em si como um bem essencial. Mas não é desvalorizar. No Reino Unido, por exemplo, as Artes são um bem essencial, tanto como comer pão. A cultura, para ser feita, não precisa de grande coisa. Precisa de investimento e, se depois tiver sucesso, o retorno é imenso.
G. –E quais são as tuas inspirações?
J.R. – Depende de trabalho para trabalho. Já tive contexto emocional, já tive pura fantasia. Tenho um trabalho que ficou em 2.º lugar num concurso em Coimbra, que era a ideia de síntese granular. Depende de muita coisa.