Foi durante o período que viveu em Berlim, através da experiência Erasmus+, que desenvolveu um projeto em que se desafiou a si mesmo a sentir os problemas que os animais enfrentam graças à poluição e ao consumo desmedido do plástico. Rúben Caeiro materializou a sua reflexão numa obra posteriormente destacada pelo P3, na qual substituiu os seres marinhos por seres humanos e os fotografou em situações semelhantes às que acontecem todos os dias pelos oceanos.
A partir do projeto final de Erasmus, o Gerador convidou Rúben para desafiar representantes de diferentes áreas culturais a integrar “CH2 = CH2”, a obra fotográfica da Revista Gerador 27. Albano Jerónimo, Rui Unas, Margarida Pinto Correia, Chef Kiko, Patrícia Mamona e Benedita Pereira enfrentam a câmara de Rúben enquanto são consumidos pelo plástico e dão vida a uma nova ramificação da criação do fotógrafo. “O foco do projeto é usar o corpo humano como um elemento representativo desses seres vivos e das suas dificuldades perante esta problemática, através da Fotografia Conceptual e de uma visão artística”, explica.
Em entrevista ao Gerador, Rúben Caeiro conta o que o inquieta e motiva a desenvolver o projeto e deixa claro que "há muitas abordagens" ainda por explorar.
Gerador (G.) – A obra fotográfica CH2 = CH2 nasce de um projeto final da tua experiência de Erasmus em Berlim. O que é que te te fez despertar interesse para esta temática?
Rubén Caeiro (R. C.) – Desde que cheguei a Berlim para fazer Erasmus, no primeiro contacto com a cidade consegui reparar na influência que este tópico já tem lá. A consciência das pessoas já despertou mais para este tema e as manifestações artísticas dentro desta temática, são mais que muitas. Por isso, eu próprio me vi quase na obrigação de ter um papel enquanto residente em Berlim naquela altura, e de agir de algum modo com os meios que estavam ao meu alcance.
G. – De que forma é que a fotografia, como médio, pode ter um efeito sensibilizado para este tema?
R. B. – Com a fotografia conseguimos ensaiar um objeto, um motivo e fazê-lo parecer o que nos quisermos, através da sua manipulação. Na minha visão, o ponto forte foi transformar todas as imagens que circulavam já há muito na Internet de animais envolvidos em plásticos, com o corpo humano, de modo a chegar mais perto e haver o factor "choque".
G. – Sentes que fotografar humanos nas condições em que normalmente os animais se encontram nos oceanos é um fator de aproximação a quem encontrar a tua obra fotográfica?
R. B. – Sim, sem dúvida. Não que as pessoas não se relacionem com as fotografias dos animais, mas o corpo humano a sofrer estas condições penso que consegue ter um peso diferente.
G. – Ultimamente tem havido um maior movimento ativista direcionado para estas questões. Achas que a tua geração está mais desperta para a necessidade de mudar hábitos e fazer diferente?
R. B. – Há modas que vêm por bem. E se assim for, melhor. O que há uns tempos era considerado um tema muito longínquo, hoje em dia a necessidade de agir é urgente. Seja ela qual for.
G. – Como é que olhas para o atual panorama português relativamente à utilização dos plásticos e a poluição? É um tema que já faz parte da agenda política?
R. B. – É um processo longo. É verdade que já se começam a ver melhorias na redução dos plásticos em restaurantes, mas as grandes companhias ainda não despertaram para o assunto. Se o consumo continuar porque é que eles haverão de deixar de produzir?
G. – Para a obra fotográfica que desenvolveste para a revista Gerador, qual foi a abordagem e o processo criativo por que passaste?
R. B. – Como foi um projeto desenhado exclusivamente para a revista com um número exato de pessoas, e com pessoas específicas, a única diferença foi tentar adaptar alguns plásticos que ainda não tinha explorado anteriormente como os cotonetes com o Rui Unas. De resto, foi reunir alguns plásticos e fotografar. Penso até que mais do que fotografar ou chegar à imagem final, o processo e a experiência durante a sessão fotográfica são até mais fortes. Como é que recebes alguém num estúdio improvisado e te perguntam "Então o que é para fazer?" e tu dizes "É enfiar este saco na cabeça e inspirar até ao limite". Não é um processo bonito, mas a experiência é brutal.
G. – Ainda há algum trabalho a fazer neste sentido, da tua parte? Esperas dar mais vidas a este registo?
R. B. – Muito. Não considero este projeto fechado. Não fará sentido continuar a repetir imagens com sacos de plástico na cabeça, mas ainda há muitas abordagens a explorar.
"CH2 = CH2" foi publicada na Revista Gerador 27. Ao longo desta semana serão publicadas entrevistas a diferentes intervenientes da obra fotográfica de Rúben Caeiro, com o objetivo de perceber qual a sua visão no que toca ao panorama atual da utilização dos plásticos e às medidas que têm sido sugeridas e implementadas.