Depois da apresentação de três comédias, a companhia de teatro Filho do Meio traz novamente uma peça de William Shakespeare ao Teatro do Bairro, desta vez para apresentar Hamlet, a primeira das três tragédias previstas no ciclo "Três Comédias, Três Tragédias". A peça estará em apresentação a partir de 8 de Janeiro, até 2 de Fevereiro, com encenação de Luís Moreira, a partir de uma tradução de Fernando Villas-Boas, produção de Leonor Buescu, e um elenco com actores como Alice Medeiros, André Pardal, Luís Lobão, Rita Loureiro e Valter Teixeira, entre outros.
Com o recente apoio da Fundação GDA e da Fundação Calouste Gulbenkian, a companhia de teatro, que esgotou todas as sessões até agora apresentadas, encontra-se assim a meio do ciclo dedicado ao dramaturgo inglês, com uma ideia transversal a todo o trabalho: "tornar Shakespeare um teatro para todos". Para Luís Moreira, encenador e fundador do Filho do Meio, "fazer Shakespeare para todos significa que é suposto ser para quem conhece a história e para quem não conhece a história; para quem já ouviu falar e para quem nunca ouviu falar; para quem sabe quem é Hamlet e para quem não sabe". Fazer uma só peça seria, para o encenador, injusto, "tendo em conta a dimensão da obra e a dimensão que tem na dramaturgia ocidental e mundial". Assim, depois de três comédias — Noite de Reis, Sonho de Uma Noite de Verão e Muito Barulho por Nada —, Hamlet, a primeira tragédia em apresentação, surge como uma das peças que mais desafios levanta ao encenador e aos actores.
"É a melhor tragédia do Shakespeare", afirma Luís Moreira sobre Hamlet. "Combina muito bem com a transição para as tragédias, porque todas as nossas comédias terminaram com um casamento e o Hamlet começa com um. Estamos a começar de onde deixámos", revela ainda ao Gerador o encenador, que vê assim na peça uma ajuda para a mudança de tom, do cómico para o trágico. "Não quer dizer que o tom trágico seja lamentoso, ou choroso, ou lamechas, até porque o Hamlet é uma boa tragédia porque tem muitos momentos cómicos: o momento dos actores; a própria personagem Hamlet é cheia de ironia", sublinha ainda Luís Moreira.
Luís Lobão é Hamlet © Vitorino Coragem
Hamlet surge, assim, num ciclo de peças de Shakespeare cuja apresentação se pensou em sequência. Se Noite de Reis, a peça que deu início ao ciclo, é a comédia de Shakespeare favorita de Luís Moreira, Sonho de uma Noite de Verão foi um "acrescento por trazer mais gente, mais personagens", e Muito Barulho por Nada "uma transição para a tragédia, no sentido em que aquilo que acontece à Hero na zona do casamento é trágico". Se para o encenador, a apresentação da comédia envolveu "o estudo de como é que se pode fazer uma parte que é trágica, ou dramática, e que comova a plateia", a apresentação de uma tragédia como Hamlet procura explorar os aspectos cómicos da peça e desenvolver a "linguagem comum da companhia" que tem vindo a ser "transportada de um espetáculo para outro e, dessa forma, vai crescendo". Da fala dos actores, que substitui clareza e som projectado por "formas mais naturalistas de falar", à própria palavra e à forma verbal utilizada, que insinua relações de carácter diferente entre as personagens; da apresentação das personagens, que usam adereços sugestivos e agem de forma reveladora, até à alteração da própria estrutura da peça, começando, na encenação de Moreira, com o conhecido solilóquio de Hamlet.
Alice Medeiros é Ofélia © Vitorino Coragem
Hamlet leva-nos por uma história de vingança do filho de um pai assassinado, que aparece sob a forma de um fantasma, mas também por uma história de culpa, desconfiança, mentiras e morte. A tragédia de William Shakespeare, escrita provavelmente entre 1599 e 1602, é uma das peças mais discutidas, apresentadas e influentes na história da literatura, todos os anos com múltiplas apresentações em vários teatros do mundo. "Uma coisa que Shakespeare me ensinou, por ser tão bom o texto, é que a encenação só tem de pôr os actores a contar a história. Só, mais nada", refere Luís Moreira. "Shakespeare ensina aos actores a importância do ensemble, do grupo", considera o encenador, "o espectáculo só é bom, se o grupo também for bom e se o grupo trabalhar em função disso, portanto, mesmo que, como é o caso do Hamlet, haja uma peça em que o próprio título é o nome da personagem principal, não quer isso dizer que eu não trabalhe com o mesmo volume e a mesma intensidade com o grupo, e Shakespeare ensina isso aos actores".
Com coreografias concebidas pela bailarina Joana Chandelier, iluminação de Rui Seabra, e cenografia e figurinos de Maria Gonzaga, a primeira sessão tem data marcada para o dia 8 de Janeiro, às 21h30, e as sessões seguintes decorrerão até 2 de Fevereiro, de quarta-feira a sábado às 21h30 e nos domingos às 17h. Os bilhetes estão já disponíveis no site da Bilheteira Online e podem ser adquiridos por 10€ (preço do bilhete) ou 15€ (com contribuição de apoio ao Filho do Meio).