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Filipa Morgado: “Mesmo que mil pessoas fizessem igual, tinha de pintar”

Ainda corria o ano de 2019 quando Filipa Morgado visitou a Central Gerador para preparar…

Texto de Carolina Franco

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Ainda corria o ano de 2019 quando Filipa Morgado visitou a Central Gerador para preparar a exposição com inauguração prevista para o começo de 2020. As três paredes brancas em que vão habitando diferentes obras, de diferentes artistas, e que vão convivendo com conversas, concertos, aulas e feiras, foram ganhando uma vida nova à medida que Filipa lhes imprimia o seu gesto a negro.

O portal para O que é que vês quando fechas os olhos? abriu-se no dia 8 de janeiro com a presença de Filipa, dos seus amigos e familiares, dos dois membros basilares da FOmE e de outros curiosos que se quiseram juntar. Entre o reboliço da inauguração conseguimos conversar com Filipa Morgado, Margarida Mata e Pedro Cunha, os dois últimos responsáveis pelo encontro da artista com este espaço.

Antes de perceber como é que se deu o encontro de Filipa com o espaço é importante perceber como é que começou a sua relação com a FOmE, a revista que Margarida e Pedro criaram há um ano a partir da margem Sul e que resulta numa galeria em papel, que reúne artistas que nem sempre fazem parte dos circuitos mais óbvios.

"Quando eu criei a minha conta no Instagram comecei a seguir sítios que possivelmente teriam pessoas que me interessavam, principalmente artistas portugueses. Queria perceber que é que andava a acontecer por Portugal, porque eu estive 5 anos no México, não estava cá e não fazia ideia do que estava a acontecer, e através da Apaixonarte, conheci a revista da FOmE. De repente num dia comecei a segui-los todos e foi aí que o Pedro veio falar comigo”, explica Filipa enquanto vai lançando olhares cúmplices para Pedro e Margarida.

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Filipa brinca com a tridimensionalidade e cria um diálogo contínuo entre três paredes

"A Filipa começou a seguir-nos na FOmE e eu e o Pedro vimos, e na altura já estávamos a pensar nesta edição, o numero 4, que seria sobre a ambiência do negro. No início a Filipa não estava na nossa lista, mas quando começámos a contactar os artistas, revimos a lista e considerámos o trabalho dela. Depois ainda passamos o trabalho da Filipa por um artista que nos ajuda muito, que é o João Fortuna, e ele também aprovou. Entretanto percebemos que conhecíamos imensa gente em comum”, continua Margarida Mata.

Passar do papel para a galeria deveu-se sobretudo a dois momentos: “a presença da Filipa pré-lançamento”, com quem a FOmE acabou por criar “uma relação mais próxima” e o MAU, uma Mostra de Arte Urbana na Quinta do Anjo do qual a revista era parceira e onde Filipa pintou o seu primeiro mural. “Vocês acompanharam a minha passagem de escala para a parede e também sabiam que já tinha uma quantidade de trabalho que podia ser escolhido e adaptado ao espaço. Era fácil encontrar alguma coisa para expor; eu acho que essa facilidade também foi essencial”, diz Filipa aos curadores.

A artista conta que “as decisões foram todas tomas no espaço” e que, ao contrário do que se possa pensar, a Central “não é pequena”. "Há um momento especifico em que começo a fazer umas linhas numa parede e depois noutra e penso “eu já sei o que vai acontecer aqui”. Achei que a pintura vir do chão era uma coisa interessante, e de repente quando se formou alguma coisa pensei “que bonito, as pessoas não se vão sentir perdidas aqui”. Porque eu acho que as minhas pinturas podem remeter para isso: consegues perder-te se for uma coisa muito complexa, ou se te afetar intimamente de uma maneira muito forte podes sentir-te desconfortável. Se fosse um outro espaço de galeria o meu propósito podia ser constranger, mas aqui não foi isso. Era ser um espaço agradável que pudesse depois suportar vários eventos”.

Na pintura de Filipa há algo de íntimo, quase visceral, que se consegue sentir assim que se dá de caras com a sua obra, sobretudo em grande escala. Pinta “porque tem mesmo de ser” e diz que “mesmo que mil pessoas fizessem igual, tinha de pintar”. Entrar num curso de arquitetura sem nunca ter desenhado foi o primeiro passo de um caminho em que arriscar serve de mote e viver sozinha cinco anos no México foi um momento de catarse, no qual se descobriu e percebeu qual a melhor forma de se libertar: pintar.

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A exposição conta com pinturas site-specific e outras que Filipa já tinha no seu portefólio

“Claro que isso tem a ver com os quadros; essa disponibilidade e urgência de descobrir o que estava dentro de mim e me angustiava fez com que de repente eu começasse a desenhar. Houve um dia, com muita coragem, que saí de casa para ir comprar tinta da china e papel, para começar. E sei o que é que desenhei, umas coisas muito pequeninas e muito profundas. Portanto sim, nesse sentido o México foi muito importante, porque houve pessoas muito importantes lá que me ajudaram a libertar-me e a não ter medo de ver o que estava dentro de mim”, conta Filipa.

"Eu considero que tive a sorte de encontrar uma ferramenta com que me expressar e com que libertar essa energia que se acumula dentro de nós. Há pessoas que nunca a encontram e eu gostava realmente que a encontrassem, porque é muito clarificante”, partilha.

O nome da exposição surgiu em diálogo com uma pergunta que já havia deixado na FOmE: O que é que vês quando fechas os olhos? e serve de ponto de partida a que cada visitante tenha a liberdade de o fazer. "Não é uma pergunta que me faça, mas é uma pergunta que gostava que as pessoas tivessem a liberdade para se fazer. Que no escuro, com os olhos fechados, só consigo próprias, o que é que elas vêem ou o que é que elas sentem. O meu trabalho pode ser um mote."

No dia 31 de janeiro a obra de Filipa é ativada por Pedro, através do seu projeto musical Huesos del Niño. Sozinho "com a guitarra e alguns pedais”, Pedro vai tocar na Central quase sem que se apercebam que lá está, com uma obra de videoart que pensou e criou com Samir Norali projetada nas pinturas de Filipa.

A colaboração de Filipa Morgado com a FOmE reflete aquilo que Pedro e Margarida pensam e concretizam com o projeto: uma relação próxima entre artistas e curadores, que dificilmente deixa de existir além da revista e que vai gerando uma série de outros eventos que nascem fruto da cumplicidade que se vai criando. “Há uma base que é a revista e que tudo o resto são artérias que partem desse coração”, conclui Margarida.

A exposição de Filipa Morgado pode ser visitada até ao fim do mês de janeiro e podes acompanhar mais sobre o trabalho dela através da sua conta no Instagram. Podes saber mais sobre a FOmE, aqui.

Texto de Carolina Franco
Fotografias de Diana Mendes

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