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Gonçalo Mira (Mamute): “Gostava que os temas abordados tivessem eco para lá da revista”

De forma relâmpago, depois de meses de confinamento e de um ano marcado pela total…

Texto de Ricardo Gonçalves

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De forma relâmpago, depois de meses de confinamento e de um ano marcado pela total incerteza e instabilidade, eis que surgem novos motivos para se pensarem nos tempos que vivemos, de reflexão e de regresso a uma experiência marcadamente introspetiva, neste caso, provocada pela leitura. É desta forma, e com este entendimento de mundo, que saiu, recentemente o primeiro número da Mamute, uma nova revista literária portuguesa, que será, por certo, abrigo e refúgio das vozes de vários autores portugueses contemporâneos.

Em entrevista ao Gerador, Gonçalo Mira, o seu editor, conta-nos como surgiu a ideia para esta revista trimestral, onde dá espaço a um tipo de texto que nem sempre dispõe de grande abertura na imprensa escrita em Portugal. Falamos do texto longo, de registo biográfico, onde a realidade assume um papel decisivo na construção de memórias. O primeiro número, disponível online e nas livrarias, conta assim com textos de Nuno Catarino, Cláudia Lucas Chéu, Seara, João Pedro Azul, João Sousa Cardoso.

Já este domingo, dia 31, pelas 16h, a Mamute promove um lançamento virtual, em direto a partir do YouTube, numa sessão apresentada pelas jornalistas Maria Almeida (cofundadora do Fumaça) e Sara Figueiredo Costa (editora do Parágrafo), onde estarão presentes, para além do editor, todos os autores deste primeiro volume.

O número 1 da Mamute foi lançado no início deste mês de janeiro

Gerador (G.) – Como se deu o nascimento da Mamute?
Gonçalo Mira (G. M.) – Fazer uma revista é um bocado aquele sonho meio utópico que tinha há já vários anos. Eu estudei letras e esta área, mais ligada à ficção no início, mas depois entrando por caminhos também da imprensa e da não-ficção, foi sempre aquela onde me movimentei. Acho que, como a maioria das pessoas desta área e das pessoas que gostam de escrever e de ler, existe sempre a ideia de fazer qualquer coisa mais pessoal, para a qual defines as regras e o tom. Infelizmente, nunca tinha tido possibilidades de a fazer. Fui tendo alguns projetos mais humildes, digamos assim. O primeiro que tive foi há cerca de 15 ou 16 anos, que era um blog, onde escrevia sobre livros e que depois se tornou numa espécie de revista digital, chamada Orgia Literária, onde tivemos mais de 50 pessoas a colaborar, ao longo de nove anos. Através dessa experiência, comecei a escrever sobre livros no Público, sendo que o projeto da revista, para mim, era sempre uma coisa mais ambiciosa, porque exige muito mais, ao contrário de um blog que consegues fazer de forma quase gratuita ou com muito pouco investimento. Para mim, fazer uma revista assustava-me mais nesse sentindo, de ter de investir, de imprimir, de distribuir e de chegar aos leitores. Há cinco anos tentei dar esse salto para uma coisa mais a sério, só que era um projeto talvez demasiado ambicioso. Na altura, juntei vários amigos e conhecidos e o objetivo era fazer uma revista à semelhança de uma New Yorker, que misturasse ao mesmo tempo este tipo de textos que agora publicamos na Mamute, mas que também tivesse secções para falar de cinema, de arte, de livros, de eventos, entre outras. Era um projeto que pretendia ser uma revista mais comercial, que se alimentasse não só das vendas, mas também de publicidade.

G. – Mas sendo assim, optaste por uma simplificação que te facilitasse esse processo de criação? 
G. M. – Sim. Naquela altura ainda andámos a planear aquilo durante uns meses, mas depois chega a um momento, em que quase sem ser preciso as pessoas comunicarem, a coisa morre. As pessoas trabalhavam e não havia tempo para fazer toda a parte de pré-preparação que uma revista exige, sem uma estrutura que a sustentasse.

G. – E o que mudou passados cinco anos?
G. M. – Uma das coisas que aconteceu foi eu começar a ler aquele livro do Michael Herr, o Despachos, em que, logo na primeira página, o autor que faz o prefácio fala numa antiga revista americana, publicada em formato de livro de bolso, a New American Review. Aquela ideia ficou-me na cabeça, porque, apesar de tudo, o formato do livro assusta-me menos do que o formato de uma revista tradicional. O formato livro é mais familiar e pensar numa revista nesses moldes, pareceu-me algo bastante mais exequível. Não obstante, esta decisão e consciência de que podia fazer isto está, obviamente, ligada ao facto de eu ter dinheiro disponível para a fazer.

G. – Para além desses fatores, a atual conjuntura de pandemia e de confinamento também teve um impacto nessa decisão?
G. M. – Eu diria que não. Aliás, acho que teria feito exatamente a mesma coisa se não tivesse havido pandemia. Mas, claro, há esse lado impulsionador de veres as várias pessoas que aproveitaram este momento para ser aventureiras e para lançar coisas novas. Se calhar, essa onda coletiva também ajudou a dar um empurrãozinho, mas não diria que foi um fator determinante. Por outro lado, até me assustou um bocado no sentido de pensar se era, ou não, uma boa altura para começar a fazer esta loucura. Tinha um trabalho a contrato e despedi-me. Teve esse lado também de risco do meu lado.

G. – No editorial deste primeiro número, falas da influência dessa revista americana e já referiste igualmente o exemplo da New Yorker. Há certas revistas que foram importantes para aquilo que é o pensamento de Mamute?
G. M. – Não tenho, propriamente, nenhuma revista que seja o modelo para o que estou a fazer. É mais pelo tipo de texto, que se encontra, atualmente, em quase todas as revistas, sobretudo as anglo-saxônicas. E que também encontras frequentemente em sites, como o Long Form, que basicamente faz uma espécie de best of dos melhores artigos em formato longo que vão estando disponíveis online. Gosto de comprar revistas, embora não haja nenhuma que compre religiosamente. Gosto da New Yorker, da Harpers, da The Believer e depois gosto de algumas mais temáticas. Embora não seja nenhum fã acérrimo de futebol, há uma revista espanhola, a Panenka, que no fundo não é sobre futebol, mas sim sobre as histórias das pessoas que fazem parte desse mundo. Há também uma série de revistas online que também publicam textos neste género. É isso que, fundamentalmente, procuro: o registo na primeira pessoa, o texto longo em que tens tempo para contar a história quase como uma ficção, só que é uma história real, que, claro, pode contar elementos ficcionais.

G. – Falas desta procura por textos que ajudem a “pensar o mundo em que vivemos”, o que está muito presente nas chamadas memoirs, género que tem pouca expressão por cá. Consegues fazer um diagnóstico para o facto de isto acontecer?
G. M. – Além da escala, nos países anglo-saxónicos há muito mais oferta de publicações. Acho que é preciso que apareçam revistas como a Mamute para que esse formato possa vir a existir noutros sítios. E acho que é por ele não existir noutros sítios que não há essa tradição por cá. Ou seja, não tens um texto deste género publicado na Visão, na Sábado ou mesmo num jornal. Em Portugal, temos uma espécie de overdose de opinião. Aqui gosta-se muito da opinião e da crónica, que é o texto rápido que ocupa uma coluna ou uma página no máximo. Portanto, quando não há espaço para ninguém publicar este tipo de texto, ele simplesmente não se pratica. Gostava que daqui a uns tempos houvesse mais espaço para este tipo de textos.

G. – Mesmo no meio literário, sentes que acaba por haver pouca deambulação entre géneros?
G. M. – Sim e também acho que as editoras portuguesas com maior expressão e com mais poder de penetração no mercado, não gostam de arriscar. Note-se, por exemplo, num género ficcional de que eu gosto muito que são os contos, também não têm grande expressão em Portugal. É a mesma coisa, não há espaço para publicares um conto na imprensa, porque ninguém publica contos e não há uma revista dedicada a isso, como houve, por exemplo, a revista, a Ficções, que durou até 2008. Ou seja, as editoras não gostam de contos porque acham que não vende... enfim, o que vende aqui é o romance.

G. – Mas achas que isso cria um desincentivo até no próprio escritor?
G. M. – Sim, não tenho qualquer dúvida. Eu já falei com algumas editoras por causa de contos que escrevi e o que ouvia sempre é que era muito difícil publicar e que seria mais fácil se tivesse um romance. Quando já és um autor mega conhecido, já podes publicar qualquer género. Agora, se fosses um estreante, podes ter um livro muito bom e aceitarem, mas também podes ouvir o contrário e dizerem que preferem um romance. É uma mistura de não haver espaço na imprensa e também no próprio meio editorial, que não está muito aberto à experimentação e a novos géneros, sobretudo aqueles que não têm ainda grande expressão em Portugal.

G. – Em Portugal, sobretudo desde a I Primeira República, existiram vários projetos editoriais de revistas literárias. Há um legado que, neste contexto, seja importante para a Mamute?
G. M. – Mais uma vez, não há nenhuma inspiração em particular. Agora em termos de movimento — e parece-me uma coisa demasiado ambiciosa — gostava que a Mamute vivesse o tempo suficiente para criar algo desse género, mesmo que a uma escala mais reduzida, e que daqui a 50 anos haja um jovem editor a falar da importância que a revista teve.

G. – Como é que olhas para o panorama editorial independente em Portugal?
G. M. – Felizmente, acho que está bastante vivo. Obviamente, sofre das dores naturais do panorama independente, em que muitas editoras acabam por ter uma vida curta, mas acho que está bem vivo e que se vai renovando. À medida que uma desaparece, surgem outras duas, e são, de facto, essas editoras que mais arriscam e que mais abertura têm para formatos estranhos, muitas vezes híbridos, e que vão buscar autores que, se calhar, lá fora já têm algum nome, mas que aqui ainda são desconhecidos, assim como novos autores portugueses, dando-lhes esse espaço que as grandes editoras, que no fundo estão fechadas em dois ou três grupos, não dão. Agora, ainda há muito trabalho a fazer em termos de se chegar realmente aos leitores. Acaba por ser um mundo que se fecha um bocadinho em si próprio e fazem livros para serem lidos uns pelos outros. Daí as tiragens não irem acima dos 500 exemplares.

G. – No caso da Mamute falamos de um espaço dedicado apenas a autores portugueses?
G. M. – É a regra base, que obviamente pode vir a ser quebrada. Não vou dizer que é uma regra que vou seguir escrupulosamente, mas sim, o objetivo é que sejam autores de língua portuguesa. Uma coisa que eu faço com as pessoas que já escreveram e as que estão a escrever é pedir-lhes sempre recomendações de outros autores para alimentar um bocado a minha rede de potenciais colaboradores. Relativamente a colaboradores estrangeiros, não é uma coisa que vá procurar ativamente, mas também não é algo que rejeite.

G. – Daí também este modelo aberto, em que qualquer pessoa pode submeter os seus textos.
G. M. – Sim, aliás, esse é outro dos pontos, para mim, fundamentais, que é algo que também se pratica muito mais no meio anglo-saxónico. Já existe tão pouco espaço para os autores, se aquele pouco que existe não estiver aberto... tens o caso da Granta, por exemplo, mas quase todas estas publicações em Portugal funcionam por convite. Eu, por outro lado, acho que a revista tem de ser aberta e permitir que qualquer pessoa possa submeter textos, até porque considero que isso garante mais qualidade dos próprios originais. Obviamente, vai haver padrões editoriais, mas qualquer pessoa pode submeter. A minha ideia é que seja mesmo aberto a toda a gente.

G. – Como é que apresentarias este primeiro número com textos do Nuno Catarino, Cláudia Lucas Chéu, coletivo Seara, João Pedro Azul e João Sousa Cardoso?
G. M. – Acho que é uma boa montra do que é o projeto Mamute que é, no fundo, esta revista de textos autobiográficos que pretendem ajudar a pensar o mundo e que vai fazer sempre uma grande misturada de temas em cada número. Essa é uma das ideias base do projeto que pretende, de certa forma, provocar o leitor. O texto de abertura do Nuno Catarino, sobre mobilidade suave e sobre a utilização da bicicleta como meio de transporte, é também sobre um movimento que tem este lado ativista e das pessoas se conhecerem e se interessarem por esta temática. Portanto, o objetivo é que as pessoas que se interessam por este tema, vão comprar a revista para ler aquele texto e depois vão ler um texto sobre a Seara e vão ler um texto da Cláudia sobre sexualidade e vão ler o texto do João Pedro Azul sobre a demência do pai. Ou seja, é esta provocação que pretendo. Além do tipo de textos que está definido, do ensaio autobiográfico, pretendo fazer esta provocação de misturar temas que têm pouco em comum entre eles... Se fizesse uma revista temática acredito que iria prender um bocado esse lado e essa liberdade.

G.  – A New American Review durou dez anos e publicou alguns dos mais importantes escritores daquela geração, seja o Allen Ginsberg,  a Sylvia Plath,  o Philip Roth ou a Susan Sontag. O que gostavas que este projeto alcançasse?
G. M. – Se durar dez anos é ótimo (risos)! Como te disse, logo ao início, o dinheiro, infelizmente, é um fator importante e se isto me enterrar financeiramente vai acabar. Agora, se a coisa correr bem… estes primeiros dois meses, desde que anunciamos até que chegou ao papel, têm estado a correr bem em termos de vendas. Infelizmente, é quase exclusivamente online, porque as livrarias voltaram a fechar, embora as vendas por via digital também sejam mais benéficas para mim, porque a margem de lucro é maior. O fator financeiro vai ser sempre importante para a sua duração, mas, claro, gostava que durasse, pelo menos, dez anos e que os autores desconhecidos que aqui aparecerem viessem a ter um papel importante. Acima de tudo, gostava que os temas abordados tivessem algum eco para lá das páginas da revista. E essa é uma parte que nós também queremos tentar desenvolver. Queremos pegar nos temas da revista e dar-lhes esse eco para lá das suas páginas, sendo que esse é um dos nossos objetivos para os números futuros.

Texto de Ricardo Ramos Gonçalves
Fotografias da cortesia de Gonçalo Mira

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