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GTS Space Technologies: “Queremos ser uma referência global no monitoramento de poluição via observação da terra”

Escolher um destino de viagem com base na qualidade da água e do ar poderá ser uma realidade em breve devido à GTS Space Technologies, uma empresa criada em Portugal por Fernando Bebiano, Gustavo Dalmarco e Jonatan Domènech. Conversámos com a equipa de especialistas que, através de imagens de satélite, espera auxiliar autarquias a monitorizar os seus índices de poluição.

Texto de Analú Bailosa

Fotografia da cortesia de GTS Space Technologies

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Em maio de 2022, a terceira edição do Cassini Hackathon, um programa europeu voltado ao desenvolvimento de ideias para aplicações digitais baseadas em dados espaciais, incluía Portugal como um dos nove países participantes. Centrada na revitalização do setor turístico, a iniciativa atraiu a candidatura individual de Fernando Bebiano, empreendedor ligado ao turismo, do investigador Gustavo Dalmarco e do engenheiro espacial Jonatan Domènech, que aceitaram o desafio de formar um grupo sem nunca se terem cruzado antes.

Do trabalho nasceu a GTS Space Technologies, um contributo para o alcance das metas europeias relacionadas à diminuição da poluição – reduzir, até 2030, 55 % dos impactos na saúde derivados da poluição do ar e 50 % do lixo plástico no mar –, dado o fornecimento de análises de indicadores da água e do ar aos agentes responsáveis por planear e implementar políticas ambientais. A solução permitirá ainda que municípios avaliem o impacto ecológico do turismo e pretende disponibilizar os resultados em plataformas utilizadas por turistas, incentivando a criação de destinos sustentáveis.

Vencedora da competição local, organizada pelo Instituto Pedro Nunes, a equipa ficou em segundo lugar depois de apresentar a ideia junto dos selecionados dos outros oito países da edição. Agora a dar seguimento à criação, o grupo garante-nos que a surpresa das colocações logo deu lugar a um trabalho “fluido e muito bem integrado, como se nos conhecêssemos há muito tempo”.

Numa videochamada com o Gerador, Fernando Gustavo e Jonatan explicam o processo de criação do seu serviço inovador, o qual já tem algumas cidades portuguesas como possíveis clientes, e partilham as expetativas para o futuro.

Equipa GTS Space Technologies em apresentação da hackathon. Fotografia da cortesia de GTS Space Technologies.
Gerador (G.) – O vosso produto parte da dificuldade que as entidades públicas têm em obter dados para trabalhar nos objetivos europeus de combate à poluição. Como identificaram esse problema?

Fernando Bebiano (F. B.) – Inicialmente, consideramos criar uma referência de poluição da água e do ar para atender às plataformas de reservas turísticas, adicionando essa às variáveis ​​que os usuários podem aceder para tomar uma decisão sobre para onde ir. Apresentámos esta ideia, e uma das mentoras disse que isso seria interessante para os municípios, então focámos nisso e criámos uma solução que vai monitorizar diferentes variáveis ​​de poluição, como a qualidade das águas balneares, tendo em conta o turismo local.

G. – Trata-se de algo completamente novo ou já existem serviços semelhantes?

Gustavo Dalmarco (G. D.) – Conhecemos algumas empresas que oferecem uma solução semelhante, mas a maioria tem origem em projetos, ou seja, uma grande cidade contrata-as a partir de um financiamento europeu, por exemplo, e elas desenvolvem uma solução customizada para aquela região específica. A nossa proposta é ter um produto mais padronizado, que facilite o acesso das pequenas cidades, para que essas também controlem a poluição sem pagar taxas muito altas ou depender de fundos europeus para isso.

G. – Quando apresentam a vossa ideia, mencionam que serão monitorizados sete indicadores diferentes da água e dois do ar. Quais?

Jonatan Domènech (J. D.) – Os indicadores da água, no momento da hackathon, eram plásticos, cianobactérias, turbidez, clorofila, matéria orgânica dissolvida colorida, carbono orgânico dissolvido e coloração. Os do ar eram as partículas em suspensão PM2.5 ePM10, e agora temos também óxido de nitrogénio e dióxido de carbono. Estamos ainda a tentar [analisar] as [bactérias] enterococcus na água, o que é um pouco difícil, mas estamos a comparar os dados terrestres de algumas autarquias com as informações do satélite.

F. B. – Este é um ponto importante. Temos trabalhado com os municípios para entender as suas necessidades. A partir dessas reuniões, chegámos a indicadores que não esperávamos, como as bactérias na areia das praias, que as entidades públicas também analisaram e disseram ser [resultados] interessantes. Assim, a nossa solução utiliza funcionalidades existentes, mas é inovadora no setor espacial. Ninguém foi capaz de identificar essa variável das enterococcus via leitura de satélite.

G. – Na mesma apresentação, também é dito que outros serviços levam 24 horas para analisar o que a GTS Space Technologies analisa em dez segundos. O que permite essa diferença?

G. D. – A análise laboratorial, que é, atualmente, o serviço que a maioria das cidades utiliza para fazer esse tipo de avaliação, costuma levar sete dias para fornecer as informações. Através de amostras de diferentes pontos de uma praia, por exemplo, apenas uma semana depois [as autarquias] terão os resultados de como estava a água e as pessoas estarão a tomar banho numa área poluída durante sete dias.

F. B. – O nosso serviço utiliza tecnologia de observação da terra e, usando lentes específicas, captura diferentes reflexos da superfície terrestre. Dependendo da reflexão, podemos identificar as variáveis nos diferentes elementos – água, terra e ar. Como [o satélite] está no espaço e tem um enorme poder de computação, conseguimos, imediata e diariamente, analisar grandes áreas muito rapidamente e chegar a áreas remotas onde uma leitura local seria difícil. Com as leituras químicas locais, sempre leva tempo para a amostra ir para o laboratório, para o laboratório produzir o relatório, há os fins de semana e etc.

G. – Como a equipa vencedora de Portugal, quais foram os passos seguintes? Foi nesse ponto que contactaram com as entidades públicas?

G. D. – Fizemos uma espécie de diretriz para uma startup e começámos a contactar diferentes municípios para perceber o problema. Também falámos com organizações que representam cidades e associações, para entender melhor como abordar a realidade delas e que tipos de indicadores as interessam.

G. – E qual o ponto de situação atual do vosso trabalho, depois de terem ficado em segundo lugar na competição geral?

G. D. – Estamos a candidatar-nos a uma incubadora de empresas e a trabalhar num MVP, um produto mínimo viável – uma ideia que possamos mostrar a estas autarquias para ver se é a interface que pretendem ou o tipo de informação que necessitam –, para tentar definir melhor qual será o produto que iremos oferecer aos clientes. As entidades também têm as suas leituras locais, o que será importante para avaliar o nosso trabalho.

F. B. – Temos algumas metas muito ambiciosas. Trabalhamos nisso em meio período, então temos de manter os nossos outros projetos e fontes de renda a funcionar enquanto fazemos isso de lado, mas o objetivo é ter um MVP até o final deste ano, com os nossos primeiros clientes a usá-lo até o final do primeiro trimestre de 2023. Claro que tudo isso pode ir mais rápido ou mais devagar, dependendo de várias coisas. O Centro de Incubação de Empresas da Agência Espacial Europeia, se formos aceitos, com certeza vai acelerar o processo, não só porque teremos acesso a mentoria altamente qualificada, mas também porque teremos acesso a financiamento. Então esses, eu diria, são os objetivos de curto prazo. A longo prazo, queremos ser uma referência global em monitoramento de poluição via observação da terra.

*Esta entrevista foi inicialmente publicada a 6 de novembro de 2022.

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