Foi ainda no ano de 2018 que Inês Pimenta lançou Son of Daedalus, o seu primeiro disco. Há 2 semanas partilhou com o público o vídeo de “Ícaro", a quarta faixa do álbum, no qual contou com o apoio de Mário Franco na coreografia.
O percurso de Son of Daedalus ainda é curto, mas o feedback tem sido positivo. "Muito sinceramente tem sido melhor do que esperava. Em boa verdade, esperava muito pouco. Achei que ia ficar no meu circulo de amigos, por serem meus amigos, e pouco mais”, conta Inês ao Gerador. Apesar de “não estar muito presente nas estações de rádio” — "tirando a RUC, Gingabeat e outras mais pequenas” —, sente que há uma atenção por parte dos promotores de concertos que lhe tem sido favorável, o que lhe dá “muito alento e felicidade”.
A narrativa do disco é contada, desde o começo, em duas dimensões: a musical e a visual. "Estes três videos (“Tez", "Sem Pressa" e “Icaro"), são a minha visão de um voo tão bonito e profundo como foi o de Icaro e Dedalo”, explica. Com “Tez" uma luta no labirinto, que traz consigo “a paixão, a vontade e a angústia”; o início do voo, representado em "Sem Pressa” através do skate; e por fim “Ícaro”, um voo a dois, através do qual “pai e filho voam e dialogam”.
Para a criação do vídeo de “Ícaro”, Inês convidou o contrabaixista e bailarino Mário Franco para fazer uma coreografia. Juntaram-se Rui Gomes, na imagem, e o bailarino Nuno Tauder.
O vídeo foi filmado por Rui Clara Gomes
O processo, conta, passou por "fazer uma reunião, o Mário traduzir tudo em dança e gravar tudo em três horas”. A edição, assinada também por Inês Pimenta, traz para cena outro dos seus interesses: a imagem em movimento — “faço música muitas vezes a pensar em imagens e conto histórias respeitando o espaço do som”, confessa. A cantora que durante muito tempo quis ir para cinema acredita que, para si, um mundo “não faz sentido sem o outro”.
Na narrativa do disco, todas as histórias estão intimamente ligadas ao mito grego de Ícaro, o filho de Dédalo. É a memória afetiva da sua infância que a cantora vai buscar a relação de proximidade com a tentativa de voar de Ícaro, motivado pela vontade de deixar Creta.
"Talvez a história não seja hiper romântica, mas a verdade é que sou dislexia e felizmente para mim foi me diagnosticada em tenra idade” — começa por explicar — "Posto isto a minha mãe abraçou a missão de tal forma que tinha que ler livros diariamente e fazer composições a toda a hora. Por volta dos meus 8 anos (mais ou menos) li Icaro. Julgo ter sido um dos últimos dessa fase. Acho este mito estupidamente belo e antagónico”.
"Por um lado [o mito] pede-nos ponderação, aconselha-nos e ensina-nos algo muito valioso e verdadeiro, contudo é duro de alguma forma. Com 8 anos tanto achava incrível esta vontade de voar (transversal a todos os ser humanos), como também me compadecia de Icaro. Não sei até hoje se ele foi imprudente. Ele só tentou... E bem, eu tentei com Son of Daedalus também”, conclui.
Son of Daedalus de Inês Pimenta vai ser apresentado no Festival de Jazz de Matosinhos no próximo dia 7 de julho e noutros locais ainda a anunciar. Até lá podes recordar as escolhas musicais que a Inês fez para uma mescla do Gerador, aqui.