«Partilhar», «partilhar», vai repetindo João Amorim, quando nos fala dos fragmentos de lugares, que se encontram no seu perfil de Instagram. Começou a viajar para encontrar alguma luminosidade. «A decisão que tomei veio de um acto de desespero. Não gostava do que estava a fazer. Não fazia a mínima ideia do que gostava. Estava meio perdido e não sabia para onde me virar. A cena da viagem, não te sei explicar muito donde vem... Não tinha nenhum exemplo próximo de mim que tivesse uma história do género, que tivesse ido viajar, que tivesse corrido bem, que servido para o seu autoconhecimento, que era o que eu precisava.»
As pequenas aventuras no Gerês e os acampamentos na Costa Vicentina, com os primos e amigos, começaram a dizer-lhe que, na descoberta de novos lugares, chegava mais perto de si. Encontrou a sua casa no movimento. Nesses momentos, «sentia que estava a viver ao máximo».
Não seguiu bioquímica, área em que realizou a sua formação académica. Seguiu viagem. Venceu o concurso da Associação GapYear Portugal, na sua primeira edição em Portugal, com o projecto Follow The Sun. Durante oito meses, a contar desde Novembro de 2015, João e a sua namorada, Tâmara Brandão, seguraram o fio do sol e, pelo continente americano, iam partindo com o Verão. Encontraram-no no Sul do Brasil, no Uruguai, no Norte da Argentina e do Chile, na Bolívia, no Peru, no Equador, na Colômbia, no Panamá, na Costa Rica, na Guatemala, no México e em Nova Iorque. Na antepenúltima, conheceram a noite, a partir do templo da cidade maia, sobre o qual dormiram.
Envolveram-se com estes países, com o seu dia-a-dia, não ficando apenas a contemplá-los, a partir de um lugar longínquo. Neles, fizeram voluntariado e trabalharam.
Mais tarde, surgiu o desejo de «partilhar o que estava a fazer, o pôr-do-sol que tinha visto, o sítio onde tinha acampado». A fotografia «nasceu como uma forma concreta de registar o que estava a viver». Depois desta viagem, à qual se refere como a sua «viagem grande», começou a interessar-se pela escrita da luz, a procurar apurar a técnica e a sentir a imagem crescer.
Diz-nos que gosta de fotografar um pouco de tudo, mas as paisagens são o seu reino. Nestas, procura trabalhar as dimensões, a partir da presença da figura humana. Porém, tem vindo a reparar que o seu interesse pela fotografia documental, através da qual eterniza rostos, com os retratos, recorta as ruas e a forma como são habitadas, tem vindo a aumentar. Nem sempre quem procura dar a ver quer ser visto/a. Cada cultura tem uma relação diferente com este objecto que vive «entre». «Há culturas que têm uma relação fixe com a fotografia, deixam-se ser fotografadas, não há stress nenhum, como por exemplo, na Guatemala. Gostam, interagem, brincam contigo. Não gosto só de tirar fotografias. Gosto de usar a fotografia como uma forma de me ligar às pessoas, de fotografar alguém que está despercebido/a e, depois, esboçar um sorriso, dizer “buenas tardes”… Há outros países, como, por exemplo, a Arábia Saudita, onde tenho de estar mais escondido, tirar fotografias sem se aperceberem.»
João tornou-se «líder de viagens». Realiza propostas de viagens e leva os/as inscritos/as consigo, voando até onde algumas das suas fotografias partiram. Apesar do contexto pandémico que atravessamos, que tanto tem afectado a circulação, o seu trabalho não se tem ressentido. «Daqui a bocado, vou apanhar um voo para a Madeira. Vou percorrê-la a pé de uma ponta à outra, a fotografar, a filmar, para se ver a ilha no Instagram.»
*Artigo escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico
**Este artigo foi publicado na íntegra na Revista Gerador de outubro.