Quem abre o Instagram de Gabriela Mateus, descobre um «álbum de memórias pessoal», como gosta de lhe chamar. Cidades, monumentos ou linhas retas são alguns dos objetos fotográficos nesta sua exposição online, mas é o mar que ocupa um lugar importante na sua vida. «Tudo o que sei e tudo o que sou vem das viagens que já fiz», começa por explicar.
Gabriela é filha única: «O que alguns consideram estatuto ou privilégio, eu sempre vi como desvantagem.» Cresceu sem irmãos, mas com «memórias boas de infância» junto dos primos. Os verões do Algarve ou o Natal são alguns dos momentos de que partilha maior felicidade. As festas de família, que sempre foi grande, foi a razão pela qual a fotógrafa «quis ter quatro filhos».
O Instagram, no entanto, não é o único trabalho. Entre outras coisas, Gabriela é «viajante, fotógrafa e socióloga, não necessariamente sempre nesta ordem», explica. «Sempre fui uma pessoa inquieta, que não gosta de rotinas e que gosta de ser constantemente desafiada com novas experiências» e, por isso, surgiu a ideia de partilhar online as suas viagens. É ainda curadora de vários projetos fotográficos.
O início da sua vida viajada começou ainda lá atrás, na infância. Recorda que fez a primeira viagem quando tinha três meses de idade e desde os seis anos que mora junto do mar. «Talvez por isso, ambos – as viagens e o mar – tenham um lugar tão importante na minha vida», desabafa. O oceano é uma das fontes de inspiração de Gabriela e já serviu muitas vezes de objeto para os seus ensaios fotográficos.
«Uma parede colorida, uma luz especial, uma pessoa que passa, um momento que quero registar para não correr o risco de alguma vez o esquecer», começa por descrever o seu processo criativo. Gabriela caracteriza a sua arte como «despretensiosa» e, se a tivesse de comparar com algum momento na vida, seria com «uma conversa entre amigos, sem tempos, sem regras, mas com muito amor».
Não para no mesmo sítio. O apetite por viagens está sempre aguçado e acredita que «cada lugar é surpreendentemente diferente e único». Procura sempre locais diferentes para conhecer e alargar a sua coleção de fotografias, mas não se importa de voltar aos locais onde já foi feliz: «É isso que me fascina e que me leva, sempre que posso, a partir para uma nova aventura, mesmo que seja voltar para um lugar onde já fui mais do que uma vez».
Paris é a cidade que ocupa um lugar especial no coração de Gabriela. «We will always have Paris», diz, enquanto revela que «é uma cidade que surpreende sempre, não importa quantas vezes volte». Em cada esquina existem coisas novas que merecem ser fotografadas.
Sobre o seu estilo fotográfico, revela que não possui nenhum: «Fotografo momentos que quero perpetuar.» A fotografia não é uma ciência, mas exige esforço. «Temos de ter a mente aberta para sermos impressionados pelo mundo à nossa volta, sem demasiados a priori e julgamentos. Só assim podemos ser o outro, ter o seu ponto de vista, compreender e, aí, crescer».
Na sua página de Instagram, «cada foto tem uma história e guarda um momento, nada está ali ao acaso». No entanto, neste momento, as coisas permanecem paradas: «Agora, em tempos de covid, ganha ainda uma dimensão mais especial para mim. São pedaços da pessoa em que me tornei, em pixels coloridos que preenchem a minha vida e me fazem sonhar com o regresso».
Para Gabriela, ter quase 200 mil seguidores na rede social significa que não está sozinha na «multidão». «Tudo o que sei e tudo o que sou vem das viagens que já fiz», conclui.
*Este artigo foi publicado na íntegra na Revista Gerador de julho.