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João Ribeiro: “O jornalismo lento é a reconquista do tempo para pensarmos sobre os assuntos”

Uma das principais consequências do quadro jornalístico atual que enfrenta desafios como a desinformação, a…

Texto de Andreia Monteiro

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Uma das principais consequências do quadro jornalístico atual que enfrenta desafios como a desinformação, a iliteracia mediática, o sensacionalismo ou imediatismo, e que muitas vezes apenas encontra repercussão nas franjas dos estudos jornalísticos e políticos, sendo até excluídos do ensino em jornalismo ou apresentados enquanto casos de estudo extremos, é o surgimento de projetos de jornalismo alternativo.

A origem destes projetos está maioritariamente associada a críticas relativamente à prática jornalística vigente nos meios de comunicação tradicionais, apresentando alternativas com as quais se identificam.

Os projetos de jornalismo alternativo podem ser caracterizados por serem meios de comunicação de pequena escala, que não têm uma visão comercial, estando comprometidos com uma causa e que apostam na participação e interação com o público, por acreditarem que todas as pessoas têm um igual direito a serem ouvidas, não limitando o espaço público à voz de elites e incluindo fontes não oficiais, ou seja, pessoas normais que surgem no papel dos tradicionais especialistas, de forma a potencializar a interatividade que a Internet traz. Ademais, abraçam a missão de descodificar e analisar em profundidade as mensagens disseminadas pelos meios de comunicação mainstream, acabando por apresentar um trabalho complementar.

Por norma, estes projetos, em Portugal, têm surgido pelas mãos de jornalistas profissionais, constituindo pequenas redações com uma periodicidade de publicação inferior à de um meio tradicional, apostando naquilo a que podemos chamar jornalismo lento, e em que não existe a pressão do imediatismo para a publicação de um artigo ou a cobertura de um tema.

Nesta série de Entrevistas com Jornalistas, inauguramos, hoje, a publicação de entrevistas feitas a jornalistas que trabalham naquilo a que se pode chamar projetos de jornalismo alternativo em Portugal. Esta entrevista, conduzida no dia 16 de abril de 2021, foi uma das que fizemos aquando da investigação que deu corpo à última edição da Revista Gerador (maio) para explorar a problemática do jornalismo lento. Começamos por partilhar a conversa que tivemos com o João Ribeiro, cofundador e diretor do Shifter.

O Shifter apresenta-se como “uma voz humana no mundo digital”, “um meio de comunicação nascido no digital, assente no mundo real”. Tentando alcançar uma perspetiva “independente, criativa e humana”, questiona-se o progresso tecnológico e o futuro da sociedade oferecendo tempo e espaço a novas perspetivas para abordar temas da agenda mediática e promovendo o fomento de uma comunidade aberta e de uma criação cooperativa.

João Ribeiro “assume-se como autodidata obsessivo e procura as raízes de outros temas de interesse como design, tecnologia e novos media”. Estudou Publicidade e Marketing na Escola Superior de Comunicação Social (ESCS) e foi nos tempos de faculdade que se juntou ao colega Mário Rui André para criarem um site com conteúdos que cobrissem temas que gostariam que outros meios tratassem, principalmente na área da tecnologia. O projeto que começou como um hobbie, é hoje um emprego a full time para João, que partilhou connosco que foi nos anos 2020 e 2021 que o Shifter inaugurou um caminho de profissionalização, não deixando de ser um projeto ainda muito alinhado com o design thinking.

Esta é a quarta entrevista da nova rubrica Entrevistas com Jornalistas, que o Gerador irá continuar a lançar ao longo das próximas semanas e que se irá debruçar sobre os grandes desafios que a profissão continua a enfrentar.

Gerador (G.) – Olá, João! Vamos começar logo pelo conceito que deu mote à capa da nossa Revista. Como definirias jornalismo lento?

João Ribeiro (J. R.) – A própria definição de jornalismo lento já é um pouco referencial em relação ao que é o jornalismo em geral. Eu percebo a necessidade da afirmação e há uma série de projetos que surgiram dentro dessa tendência e que usam esse slogan quase como uma forma de vender o seu produto e de categorizar o seu produto, quase como um adjetivo, mas eu tenho algumas dúvidas se a nossa prática de jornalismo é um jornalismo lento, ou se a prática de jornalismo corrente é que é de um jornalismo demasiado rápido. Eu digo isto porque, apesar de o Shifter ser muitas vezes identificado como um órgão que faz jornalismo lento — porque nós fazemos poucas coisas ou fazemos menos coisas do que o comum e mais profundas —, não sentimos que façamos nada de especialmente lento. Nós até sentimos que, às vezes, somos demasiado rápidos e, portanto, a nossa lentidão numas coisas às vezes não é assim tão lenta, é simplesmente a nossa forma de abordar, de vermos o que achamos que temos de dizer dando uma determinada profundidade aos assuntos.

Dou-te um exemplo com o caso dos NFT*, que é o último hype ligado às criptomoedas, sobre o qual fiz uma reportagem moderadamente longa. O assunto chegou esta semana ao grande público (relembra-se que a entrevista foi feita em abril de 2021), mas falando com as pessoas e vendo o que as pessoas percebem sobre o assunto, considero que não há outra forma de falar sobre os NFT sem ser com a profundidade com que nós o fazemos. Porque de qualquer outra forma que se tente falar sobre um assunto tão complexo, sem ser com essa profundidade e com o tempo que nós damos ao assunto, vai acabar por não trazer realmente a informação que é importante sobre uma coisa complexa. Portanto, acho que, pelo menos no Shifter, nós não tentamos desacelerar-nos, simplesmente tentamos ter tempo para falar sobre tudo o que é necessário e, às vezes, isso demora algum tempo.

*NFT - Do inglês non-fungible token, um NFT é uma espécie de certificado digital que garante a autenticidade de um determinado ficheiro.

Digo-te isto porque, por exemplo, tens revistas como a Delayed Gratification, em que o ângulo deles é mesmo jornalismo lento, mas lento ao ponto de eles costumarem dizer que são os últimos a chegar às notícias de última hora. Eles fazem uma investigação, propositadamente, sobre os assuntos, dois/três meses depois de eles acontecerem. E isso é uma vertente que se pode, realmente, considerar jornalismo lento. Agora, aquilo que eu acho é que o mundo onde as pessoas estão a habituadas a consumir notícias é demasiado rápido para o jornalismo. O lento acaba por ser uma tentativa nossa de valorizar o que fazemos. E, por exemplo, no Gerador também fazem isso frequentemente. No meio de peças mais curtas, porque há uma certa obrigatoriedade, depois vem uma peça de 15 páginas em Google Docs e que não foi prevista. Não do foi tipo — “faz isso devagarinho, com calma”. Não, isso acontece. Estou a transcrever uma entrevista a um rapaz que trabalhou na equipa do Obama e aquilo, sem querer, já dava para ser quase um livro, mas nós não planeámos minimamente que fosse uma coisa lenta. E, realmente, está a demorar muito tempo. Fiz a entrevista em dezembro e ainda não a publiquei, porque é muito chato transcrever tudo, traduzir tudo, mas, lá está, não é intencional. Eu acho que projetos como os nossos que, de certo modo, são mais livres e podem ainda se mover um bocadinho fora dos estereótipos dos órgãos de comunicação tradicionais, acabam por ser mais lentos porque estão mais preocupados com contar uma história completa e abordar um assunto de uma forma mais aprofundada, enquanto os outros não têm tanto essa preocupação, porque estão mais preocupados em alimentar o dia a dia.

G. – E que função achas que esta lentidão no tratamento dos temas serve no jornalismo e também na sociedade?

J. R. – Essencialmente, ajudar as pessoas a compreender as coisas e evitar tomar decisões erradas. É um bocadinho a base do jornalismo, não é? Do jornalismo que se quer como uma disciplina de informação e formação dos cidadãos para a tomada de decisão no espaço público. Mais uma vez, o exemplo dos NFT é completamente paradigmático nesse aspeto, porque a maior parte das pessoas que fala do assunto não faz ideia do que é aquilo do ponto de vista técnico e tecnológico, mas não fazem ideia a um ponto escandaloso! Nós estamos a falar de uma coisa que é um pedaço de código, pode ser um txt., um documento de texto, e as pessoas acham que são obras de arte, acham que é isto, acham que é aquilo... Eu acho que é muito importante, porque esse jornalismo lento contraria um bocado a tendência de as pessoas lerem uma coisa muito curta e acharem que sabem tudo sobre o assunto. Portanto, acho que acabamos por ser um bocadinho o peso da balança para contrariar o efeito Dunning-Kruger que as redes sociais e essa velocidade toda vieram trazer, em que toda a gente acha que sabe tudo sobre tudo. Nós também achamos que sabemos tudo sobre tudo imensas vezes, e, depois, fazemos uma peça e vemos que não é bem assim.

Portanto, acho que o jornalismo lento é uma reconquista do tempo para pensarmos sobre os assuntos, e não é só uma reconquista enquanto jornalistas, mas enquanto pessoas. A nossa função é pensar sobre os assuntos, o que é um privilégio, mas também – e aí é que entra a necessidade de fazer um jornalismo lento bem feito, com textos aprazíveis e uma escrita interessante — desafiar o leitor para perder esse tempo a mergulhar num assunto e a não consumir informação de um modo tão superficial. É como a literatura, naqueles grandes clássicos. Mark Fisher diz uma coisa muito gira, que é boa para isto: há pessoas que querem ler Nietzsche como querem comer um hambúrguer e não percebem que a dificuldade de ler Nietzsche é o facto de se ler Nietzsche. Ler Nietzsche não é ler Nietzsche se não for difícil. E no jornalismo lento é um pouco a mesma coisa. A lentidão, a profundidade, é quase uma consequência, e não propriamente um objetivo. Pelo menos na forma como nós vemos as coisas.

G. – Como referiste, questionas se a questão do jornalismo lento, hoje, é formulada como um subgénero do jornalismo, ou se o diferenciamos como tal porque há um jornalismo do dia a dia que é demasiado rápido e, por isso, também leva ao aparecimento de projetos como o Shifter e o Gerador, etc. O que é que tu achas que existe na prática, nessas redações de meios de comunicação mainstream, que os leva a ser demasiado rápidos e isso ser a nova conduta jornalística?

J. R. – Eu não acho que seja propriamente culpa dos jornalistas ou culpa das redações. Nem quero pôr aqui a palavra culpa. Há aqui um ponto anterior, que eu queria salientar: nós, como surgimos como alternativas, temos sempre a tendência a ter um olhar um bocadinho moralista para com os outros. E a verdade é que, cada um está cá pelas suas intenções, mas desde que cumpram os princípios de regulação da profissão, é assim a vida. Portanto, eu não acho que o jornalismo demasiado rápido seja um plano maléfico de alguém para fazer alguma coisa. Acho que surge naturalmente. Olhando o enquadramento dos media, e falando do caso português muito especificamente, é fácil compreender porque é que estes media são assim. Tem tudo que ver com o seu surgimento, de onde é que eles vêm e com o panorama onde se inserem.

Uma pessoa que pensa sobre isto de uma forma interessante é o José Manuel Nobre Correia, que é um catedrático do jornalismo. Ele fala muito sobre isto, tem dois livros que são interessantes em que aborda moderadamente essas questões que têm que ver com a própria história de Portugal. São 800 anos de inquisição, 40 anos de ditadura, uma taxa de alfabetização muito tardia e, portanto, uma alfabetização muito baixa do público em geral, ou seja, uma cultura de leitura muito baixa. Um exemplo claro dessa falta de cultura de leitura de notícias é a dominância do Correio da Manhã. Se olharmos para os outros países da Europa, é raro o pior jornal ser o mais vendido. É um fenómeno raro, e, em Portugal, nós temos essa sorte. Isto para dizer que, acho que os órgãos de comunicação social acabam por ser um reflexo puro e duro das relações de produção que lhes deram origem.

Com isto quero dizer que se o Público acaba por nascer pela boa vontade – e eu acredito que seja muito boa vontade — do Belmiro de Azevedo, é normal que se identifique com o estado de evolução da sociedade em que nasceu. E embora os jornais, sempre que começam, tenham alguma promessa de revolução, nós partimos sempre à procura do sítio onde começámos, não é? O Observador, por exemplo, é um jornal que nasce da iniciativa privada e que não vai criticar a iniciativa privada porque vem desse lugar. E, portanto, há assim uma série de nuances que vêm da parte infraestrutural do negócio e que são inalienáveis.

Depois, porque se constroem essas infraestruturas, que custam muito dinheiro, não são propriamente baratas e, por custarem muito dinheiro são bastante hierarquizadas e, geralmente, têm responsabilidade pessoas para quem os critérios dos números começam a ter importância e começa a ter de haver uma certa responsabilidade de resposta face ao dinheiro que foi investido, face às necessidades de mostrar sucesso num grupo mediático, ou seja o que for. Isso leva a que o jornalismo seja tratado como qualquer outro produto. Se quisermos uma analogia muito simples, é como se nós, pequenos artesãos de jornalismo, pudéssemos trabalhar as nossas peças com muito mais calma porque não temos o retalhista à espera para ter 50 notícias à venda e, portanto, não temos essa necessidade, porque o nosso modelo é pensado, desde logo, de outra forma. Em princípio isto não é o que acontece, mas isto não significa que, se os nossos projetos escalassem de uma forma maior do que nós agora conseguimos imaginar que nós não acabássemos por cair também na mesma armadilha, porque esta armadilha acaba por ser muito comum ao sistema em que vivemos. A partir de um certo ponto, se começas a acumular muita informação, vai ser difícil continuar a valorizá-la da mesma forma. Em Portugal, então, isto é extraordinariamente notório.

Depois, tens outros exemplos que contrariam esta tendência. Lá fora, estou a lembrar-me do Mediapart, que é um jornal francês inteiramente financiado pelos leitores, tendo uma relação muito próxima com eles, muito comunitária, e que precisamente por nascer numa perspetiva económica duma forma diferente, acaba por responder de uma forma diferente. Pensando noutro projeto que não tem nada que ver, a Mídia Ninja acaba por praticar um estilo de jornalismo diferente, e essas formações, depois, também têm os seus problemas. Há sempre nuances para tudo isto. O importante é haver riqueza e, depois, uma certa literacia mediática para que essa riqueza se distribua.

Costumo dizer que: sinto nos jornais portugueses a síndrome de que todos querem ser só um, os jornais portugueses parecem que queriam todos ser o único jornal em Portugal, e isto é um fenómeno muito engraçado. Porque, especialmente olhando para o mundo em que vivemos, em que promovemos tanto a diversidade e a pluralidade e essas coisas todas, devíamos até ter um maior desafogo e pensar: “OK, se quero ler isto vou àquele jornal, se quero ler este artigo de opinião vou ler aquele.” Há, antes, uma espécie de vontade de totalizar tudo, porque tem que ver com o que dizia antes, com as lógicas económicas que proporcionam estes jornais, estas grandes empresas que são expansionistas.

Nós, no Shifter, não temos ambições nenhumas de expansão. Neste momento, e cada vez mais, queremos que aquilo que nós fazemos seja valorizado para nós conseguirmos continuar a fazê-lo, porque acreditamos que tem valor. Portanto, não temos de responder a mais coisas que nos obriguem a acelerar. Já houve alturas em que sentimos que o que estávamos a fazer não era propriamente jornalismo lento e nem apelidávamos o que nós fazíamos de jornalismo até há bem pouco tempo, precisamente por isso. Porque essas coisas às vezes [exigem] que sejam tomadas decisões do ponto de vista de negócio, para continuidade das empresas, que são processos normais que prejudicam um bocadinho a essência do trabalho. Entretanto, já me desviei da tua pergunta, mas andei lá perto [risos]… essencialmente é isso. O que eu queria dizer é que esse jornalismo mais rápido acaba por ser um resultado de toda uma aceleração da sociedade, acaba por ser comum. Agora, se eu acho, do ponto de vista moral e ético que é dever do jornalista, e que é dever do editor e que é dever da comunicação social contrariar um bocadinho essa velocidade? Acho, mas se o que eu acho interessasse para alguma coisa, era uma história diferente. [risos]

G. – Estavas a falar do Shifter e do trabalho que vocês têm vindo a fazer. O que te levou a cofundar um projeto como o Shifter e o que é que vocês idealizam para o vosso meio?

J. R. – A história do Shifter é muito errante, e nós costumamos dizer que dava um bom documentário. Nós não viemos da cultura jornalística. O Shifter nasceu com o Mário, que entrou como primeiro criador. Nós estudávamos Publicidade e Marketing, portanto, nos antípodas do jornalismo, na ESCS. Na ESCS há um tronco comum a todas as cadeiras, de teorias da comunicação, portanto mesmo estando em Publicidade e Marketing, nós estávamos a falar de alguns autores que são referências para a prática do jornalismo, pelo menos na forma como nós o vemos. Mas nós nascemos como um hobbie de putos da faculdade, porque nos apetecia fazer um site como nós vimos lá fora e, sobretudo, porque havia esta noção clara de que não havia nada para nós. Eu sou um geek já de há muitos anos, sempre muito ligado à Internet. O Mário não tanto, mas naquela altura em que estava na ESCS também era mais, e nós consultávamos muitos sites lá de fora, em que tratavam assuntos mainstream, de uma forma um bocadinho alternativa e identificávamo-nos muito com essa ideia.

O Mário tinha um blogue. Entretanto, como nós estávamos em Publicidade e Marketing percebíamos mais ou menos como construir uma marca. Daí, evoluímos para ser uma marca, de uma marca [evoluímos para] ter uma audiência, começámos a ter pessoas interessadas em escrever entre nós e, portanto, o Shifter foi evoluindo muito comunitariamente. Foi tocando em temas em que as pessoas foram querendo tocar. Depois, nos últimos anos, nós temos feito um processo de profissionalização. Os anos de 2020 e 2021 são os mais sérios desse compromisso, porque, até há alguns anos, o projeto não tinha a intenção de ser o trabalho de ninguém, nem a profissão de ninguém. Era uma coisa que nós fazíamos depois do nosso trabalho, em diretas. São histórias muito engraçadas, mas que não era mesmo a intenção de ser o trabalho de ninguém. Há quatro anos, o Mário despediu-se e, depois, eu também me despedi e dedicámo-nos os dois a full-time, ainda com esta ideia de fazer um projeto muito comunitário. Ainda estávamos a perceber para onde estávamos a ir e como é que poderíamos tirar partido disso.

Foi nesse período que nos começámos a profissionalizar, que nos começamos a debater mais com estas questões de jornalismo mais lento, com profundidade e de qual era o nosso papel no meio desta selva. E começámos, também por contraste, a ver os outros e o que é que nós não queremos fazer, a perceber qual podia ser o nosso posicionamento. Acho que atingimos um posicionamento que nos agrada, e que, de certa forma, representa alguma maturidade do projeto, no ano passado. Por isso é que decidimos lançar a revista, porque sentimos que estávamos num ponto fixe.

Mas há sempre um lado muito importante no Shifter, porque nós temos uma índole comunitária bastante grande e gostamos muito dessa ideia de partilhar a nossa plataforma. As temáticas que nós trabalhamos e as abordagens que nós trazemos a certas temáticas, muitas vezes, não vou dizer que estão fora do nosso controlo — porque ninguém chega lá ao site e publica —, mas estão propositadamente não controladas por nós e acaba por fazer com que o projeto evolua de uma forma muito orgânica, para sítios que, às vezes, se for preciso publicar ficção pode acontecer. Pode acontecer um bocadinho de tudo e é um bocadinho imprevisível, e isso, esse crescimento orgânico que de vez em quando se pode confundir com alguma desorganização — que também não é que não exista — acaba por ser a resposta àquilo que eu dizia há pouco, que são relações de produção completamente diferentes das relações de produção a que estão obrigadas as redações comuns. Porque nas redações comuns, as hierarquias começam a ter o esquema de — contratei esta pessoa, esta pessoa vai ter de fazer X artigos, a outra pessoa vai ter de fazer Y artigos e começa tudo a ser tratado como se fosse uma série de coisas e perde-se um bocadinho o controlo à essência, à palavra, ao tempo.

Acho que o nosso papel acaba por ser conquistar espaço para alterar as relações de produção na forma como se faz jornalismo, porque é alterando a forma como se fazem as coisas que se alteram resultados. No Shifter, embora tenhamos os nossos valores bem vincados, acabamos por deixar que as coisas fluam naturalmente para que também possam surgir coisas diferentes e que possam, quem sabe, inspirar outros a fazer algumas coisas. Acho que também temos de ser um bocadinho a resistência.

Eu lembrei-me disto que queria dizer por causa do livro de Paul Lafargue, que era genro de Karl Marx, chamado O Direito à Preguiça, e eu acho que enquanto gestor do projeto e como pessoa que alimento isto mais frequentemente, também tenho de fazer esse questionamento. Porque nós falamos frequentemente das questões do burnout, da saúde mental, da exigência, da síndrome do impostor, de tantas e tantas coisas que este mundo capitalista agressivo trouxe para cima de nós que, agora que sou uma pessoa responsável por uma plataforma, tento garantir que as relações de produção que alimentam o Shifter não passem por nada disso, que isso nem seja um assunto. É frequente nós encontrarmo-nos todos, por exemplo, no Discord e falarmos de tudo menos de artigos. Se nós queremos fazer uma coisa diferente, temos de fazer as coisas de um modo diferente. Agora, obviamente que, para conseguir este espaço, para conseguir esta liberdade, é preciso alguma visão de negócio, a não ser que seja como o Jornal Mapa – porque o Mapa nesse aspeto é completamente diferente. É gerido por cooperativas, ninguém trabalha mesmo para o Mapa. Aí eles conquistam o espaço, cá está, através da união de esforços, numa perspetiva de solidariedade que tem muito que ver com o movimento cooperativista, com os anarquistas. Nós somos um bocadinho mais sistémicos nesse aspeto, não somos tão revolucionários, por assim dizer — o Mapa nisso tem muito mais hard line —, mas acabamos por estar um bocadinho com um pé em cada lado para também tentar fazer uma coisa diferente em Portugal, porque realmente tudo em Portugal é muito sistémico. Nós queremos fazer diferente, porque vimos de uma área completamente diferente. É um bocadinho essa liberdade para fazer as coisas à nossa maneira.

G. – E em termos financeiros? Como é que vocês têm gerido essa situação e que alternativas têm procurado?

J. R. – Nós, no princípio do Shifter, como foi um projeto próprio, implicou muito investimento — não é milhares de euros — das nossas poupanças. Especialmente o Mário, para pagar o servidor no princípio, o domínio, essas coisas todas que são importantes. Agora, cá está, mais uma vez a nossa estratégia de abordagem às coisas é sempre um bocadinho diferente daquilo que os outros fazem. Eu estive há dois dias na Faculdade de Belas-Artes a falar sobre o Shifter, para o curso de Design de Comunicação, e a dizer aquilo que nós dizemos frequentemente sobre o Shifter: é um projeto de design que faz conteúdos, mas a lógica do design thinking é uma lógica muito importante na nossa organização, porque nós não procuramos propriamente percorrer os caminhos que outros percorreram, ou as coisas mais comuns. Se é a primeira ideia para os outros, para nós acaba por ser a última. Um caso paradigmático nesse aspeto é as bolsas. Só concorremos a duas: a bolsa emergencial da Google, que nos deu 5 mil euros na altura da pandemia, e da Fundação Calouste Gulbenkian para investigação, mas de resto isso nunca nos tinha passado pela cabeça.

Como eu dizia, vimos de um sítio diferente, pelo que queremos fazer as coisas de um modo diferente. Como não nos arrogávamos naquela ideia de que éramos jornalistas, e que “merecemos uma bolsa para fazer o nosso jornalismo fantástico”... não, nós gostámos mais do hustle e fomos um bocadinho sempre vivendo assim. Primeiro com o Google AdSense, publicidade da Google, depois com algumas campanhas pontuais que fomos conseguindo arranjar. Depois, um dia, por acaso, fomos à Antena 3, e a pessoa responsável pelo Sapo ouviu a nossa entrevista, convidou-nos, fizemos parte do Sapo, e então começámos a vender publicidade através do Sapo. E sempre com uma coisa na nossa cabeça, e a nortear as nossas decisões, que tem muito que ver com a filosofia que nós fomos promovendo. Há sempre aquela discussão dos media independentes, alternativos... E nós gostamos muito de uma ideia que é sermos autónomos, e isso liga-se muito ao facto de, por exemplo, não dependermos de bolsas ou não dependermos de financiamento externo que está nas mãos de outro decisor. Porque a publicidade da Google, what you see is what you get, ninguém vai ter de decidir se eles nos vão dar dinheiro ou não. A Google tem muitas coisas mais, dezenas de coisas más, a publicidade também tem dezenas de coisas más — eu sei, estive lá e vim de lá traumatizado —, mas tem uma coisa boa e que o jornalismo não pode agora fingir que não é uma coisa boa, porque os tempos áureos do jornalismo estão ligados à publicidade e foi quando a publicidade pagou bem que o jornalismo teve dinheiro para fazer algumas das melhores coisas. Portanto, não é agora, porque surgiu o termo surveillance capitalismo, que nós vamos dizer que a publicidade é terrível, porque isso é um pouco fantasioso.

Na primeira parte do Shifter, nesta abordagem que nós queríamos ainda descobrir o que estávamos a fazer, perceber o nosso valor, em que ainda não nos valorizávamos assim tanto, a publicidade e esses modos de monetização mais automatizados foram sempre a nossa opção. Agora que nós estamos muito mais convictos do nosso valor, com uma perspetiva um bocadinho diferente daquilo que estamos a fazer, já temos sete anos de experiência, portanto achamos que já sabemos minimamente fazer qualquer coisa, estamos a mudar um bocadinho a nossa perspetiva e a forma de fazer as coisas e a tentar que o nosso financiamento seja mais do lado do leitor. Embora continuemos a trabalhar numa série de outros campos e em alguns que as pessoas nem sonham. Posso dizer que os primeiros meses do Shifter foram pagos por web design puro. Nós fizemos três sites — porque nós, ao desenvolvermos o Shifter, aprendemos a fazer sites, muitas das coisas somos nós que fazemos. Então, quando percebemos que aprendemos isso, começámos a vendê-lo como um serviço e, portanto, não entra minimamente nas coisas do Shifter. Eu não posso fazer isso, porque tenho a carteira de jornalista. Mas o Mário, por exemplo — porque já não está oficialmente no core do Shifter —, já pode fazer isso sem problemas com a Comissão da Carteira de Jornalista. Isso faz com que o Mário, se calhar, um mês passe mais tempo a fazer sites do que a escrever artigos. São opções que temos de fazer.

Agora ultimamente, com o lançamento da revista, nós também vemos aqui uma oportunidade ótima para nos financiar, especialmente porque nós somos duas pessoas a trabalhar a full-time, uma pessoa a trabalhar a part-time, mais uma comunidade de pessoas que nos ajuda, mas a maioria delas não tem interesse em fazer disto full-time. É uma relação de troca de benefícios. São pessoas que se querem exprimir e querem ter um papel na sociedade e poder participar no discurso público. Nós ajudamos, editamos os artigos e fazemos esse trabalho todo. Portanto, não temos uma estrutura de custos fixa que seja muito elevada. Para além disso, também sempre procurámos — mais uma vez, porque acreditamos muito nessa ideia de comunidade e cooperação — cultivar parcerias no seio mediático português. O nosso servidor é uma parceria, o nosso servidor de newsletters é uma parceria, a nossa gestão de redes sociais é uma parceria. Os programas de design que utilizamos são todos software livre, open source, não pagamos nada por eles. O que nós utilizamos para fazer comunicação interna, em vez de ser o Slack, que é premium, é um programa exatamente igual ao Slack, mas open source, gratuito, que está no nosso próprio servidor, em que nós controlamos tudo e também não pagamos nada. Nós reduzimos custos drasticamente. Quando começou a pandemia, mandámos o nosso escritório embora. Agora estamos a renegociar uma parceria para nos darem um escritório, para nós não termos de o pagar.

G. – Como é vossa relação com o tempo de produção de reportagens? Já me disseste que não há propriamente uma estrutura e uma obrigatoriedade de uma pessoa escrever x artigos num determinado espaço de tempo, mas até que ponto podes estender uma investigação?

J. R. – Nós, como te estava a dizer, valemo-nos do facto de não ter uma estrutura hierarquizada e [não] termos de responder até à décima pessoa lá de cima, para termos muito mais liberdade nessas coisas, para pensarmos sobre as coisas e para tomarmos decisões ponderadas. Por exemplo, a entrevista de que estava a falar, que já fiz em dezembro, que se vai arrastando, arrasta-se muito naturalmente porque eu quero tempo para pensar sobre aquele assunto, de uma forma calma para também poder escrever sobre ele. Nós temos um redator, um colega, que é o Daniel, de Londres, que é uma cabeça fora de série, e nós fazemos muitas vezes uns encontros para fazer ensaios visuais e coisas do género, e eu posso dizer que há ensaios visuais em que andamos a trabalhar já há mais de um ano. Na brincadeira e de vez em quando, vamos para o Discord e andamos a ali a bater umas bolas, sobre uns conceitos e, depois, alguns saem e outros não saem. De repente, a revista que nós estamos a fazer, encaixa num ensaio que já tínhamos começado, e ele está a dar-lhe forma para ir para a revista que vai sair.

Nós tentamos, obviamente, que as coisas não se arrastem infinitamente, porque depois é uma chatice, não é? Mas os colaboradores que estão do lado comunitário têm a sua liberdade para enviar as suas coisas, e nós lemo-las com calma e editamos com calma. Muitas vezes, quando nos enviam, nós fazemos um edit que aponta o artigo para outra direção, às vezes puxa uma linha que eles não estavam a puxar tanto. Nós gostamos muito de fazer esse trabalho, porque também acreditamos que é o nosso pagamento para as pessoas, é darmos o melhor para que o texto delas também saia beneficiado. Portanto, às pessoas de fora praticamente não impomos deadlines a não ser para a revista, porque tem de ser desenhada, tem de ser impressa e, portanto, aí tem de ter uma deadline um bocadinho mais apertada. Para nós, do core, para mim e para a Rita, temos um calendário editorial, obviamente. [Definimos] os dias em que preferimos publicar as coisas, toda uma estrutura, mas estamos muito à vontade com falhar. Acho que isso é o mais importante. Tentamos não falhar, mas se falharmos também não morre ninguém, ninguém se chateia. Somos muito camaradas quando falhamos. Por exemplo, se tivesse agora um artigo para acabar para amanhã, que não tinha tempo para acabar ou teria de acabar hoje à noite, diria logo que não o ia acabar, e ninguém me diz: “Acaba lá, por favor.” Se não acabas, mais vale fazer com calma e fazer bem do que fazer à pressa porque, lá está, pressa para quê? Quando respondemos por nós próprios acabamos por ter mais essa liberdade. Isso às vezes vira-se contra nós, porque a consistência é muito importante nas redes sociais, e essas coisas todas que sabemos e que são chatas. Mas se não tivermos a audácia e uma certa coragem para contrariar essas coisas, damos por nós e estamos a ir na corrente dos outros e, afinal, [percebemos que queríamos] fazer uma coisa diferente e acabamos a fazer uma coisa igual aos outros. É um bocado complicado e, portanto, nós temos prazos, temos calendários, temos estruturas, temos organização, tentamos fazer as coisas para o dia dar certo, mas o fundamental é que essa estrutura seja mais uma ação no sentido pró-ativo do que no sentido restritivo. Isso, para nós, não faz muito sentido.

G. – Quando olhas para as redações, de uma forma geral, e talvez para as redações maiores, como é que achas que a falta de diversidade – em termos geográficos, raciais, económicos, etc. – pode influenciar o tipo de conteúdos que são publicados e condicionar o ângulo escolhido?

J. R. - Sim, sem dúvida. A questão da diversidade no jornalismo é muito complexa. Em primeiro ponto, há que fazer aqui um parêntesis, e dizer que o jornalismo é uma profissão de intermediação e, portanto, diversidade sim, mas não significa identitarismo. Não é preciso aquelas conversas de que só uma minoria pode escrever sobre a sua minoria. O papel do jornalista é mesmo fazer a intermediação e criar esses dinamismos sociais. Agora, sem dúvida alguma, a composição das redações influencia imenso a forma como os assuntos são abordados. Eu digo que é uma questão complexa e sensível porque é um bocadinho aquela velha história de, se as quotas resolvem os problemas de representação ou não resolvem, ou como é que resolvem. Mas eu acho fundamental, para além de pensar na representatividade objetivamente, quantitativamente, digamos assim, porque não temos dados — confesso que não faço a mais pálida ideia sobre isso —, eu acho que o mais interessante é pensar qualitativamente. É pensar se qualquer pessoa que venha de um lugar de sub-representação, digamos assim, se quando entram numa redação têm, realmente, oportunidade para exprimir o seu ponto de vista, para aplicar o seu ponto de vista ou se, lá está, a estrutura hiper-hierarquizada e, se quisermos, quase de um estilo de jornalismo que é fractalizado, que é sempre igual e que é sempre repetitivo, se realmente é permeável a que essas pessoas tragam uma nuance diferente ou não.

Acho que, infelizmente, salvo raras exceções, isso não acontece, porque, de uma forma muito genérica, as notícias que nós vemos na televisão são quase sempre iguais. As notícias que lemos nos jornais mainstream também obedecem quase sempre à mesma estrutura e onde nós acabamos por sentir mais isso até acaba por ser nalgumas coisas de opinião, coisas que não estão tão direcionadas ao cerne da questão. Isto porquê? Porque quando nós falamos desta construção da imagem que cada jornal faz, isto não tem só que ver com os jornalistas, mas também tem muito que ver com os editores. E tem muito que ver com a forma como se organiza tudo isto. Por exemplo, o Alan Rusbridger, que foi o editor do The Guardian que escreveu o livro Breaking News, ele começa logo a dizer que o The Guardian se destacou imenso, numa certa altura, porque eles faziam reuniões em que até a senhora da limpeza participava e falavam todos. O jornalista estava a pegar na questão que a senhora da limpeza trazia, cá está, esta intermediação. Portanto, a senhora da limpeza não precisava de aprender a escrever notícias para fazer parte da história do jornal e, portanto, há outras formas de garantir que esta representatividade acontece e que o nosso discurso pode ser plural e chegar a várias pessoas sem ser dessas pessoas.

Portanto, acho que o fundamental é mesmo perceber se realmente há espaço para essas pessoas levarem aquilo para outros sítios ou se é ao contrário, se estão simplesmente a enfiar pessoas dentro de um contentor existente no mesmo sítio e se depois essas pessoas acabam por também perder um bocadinho aquilo que as podia tornar únicas e especiais. Mas aí acho que tem muito peso a parte da editoria, e em Portugal eu acho que é uma coisa que nós damos muito pouco valor. Uma vez, um jornalista da Lusa disse-me uma coisa muito engraçada que é: em Portugal faz calor em Beja, há praias no Algarve, há neve na serra da Estrela, frio em Bragança, sardinhas em Setúbal, e isto é uma anedota, mas é muito assim. Porque é que Setúbal aparece nas notícias? Se houver aqui confusão na Bela Vista ou se houver muitos turistas a jantar sardinhas... Há muito uma estereotipificação do que são as notícias, e depois há muito pouco espaço para pensar. Mas depois acho que certos projetos, como o Shifter, o Gerador, o Interruptor, o Fumaça, o Jornal Mapa, acabam por fazer esse papel bem.

G. – Como vês a relação do jornalismo com as redes sociais? Quais são as vantagens desta relação e os desafios?

J. R. – Sou um tecnófilo, gosto muito de tecnologia. Odeio aquilo em que se tornou a tecnologia, mas, mais uma vez, a nossa tendência é para ter perspetivas sempre um bocadinho moralistas sobre estas coisas de que nós ouvimos falar mal. As redes sociais são uma porcaria, tanto quanto são a melhor coisa que inventaram, porque sem redes sociais não havia Shifter. Sem redes sociais se calhar também não havia Gerador, não sei, mas é provável, porque se é verdade que são uma chatice, e são câmaras de eco, muito tóxicas e tudo mais, também é verdade que permitiram a democratização do espaço público de uma forma, que agora se revelou tóxica, mas que permitiu um certo alavancamento destes projetos pequenos. Agora, eu acho que é preciso sempre um equilíbrio muito ténue em relação a estas questões todas. Acho que o fundamental, também, é nós percebermos que, primeiro, rede social é um conceito e estes serviços que nós temos agora são como são, mas, para já, podem ser de forma diferente.

O que eu quero dizer com isto é que, se as redes sociais são tóxicas e têm uma série de problemas, mas nós beneficiámos delas, nós também temos um certo papel de restabelecer o equilíbrio desta relação. Quase como estar no Facebook a dizer mal do Facebook é quase uma obrigação para nós. E nós, no Shifter, que somos muito ligados à tecnologia, só olhando para a nossa editoria isto é perfeitamente percetível. Nós, no princípio, dávamos bastantes notícias do tipo “Facebook isto”, “Facebook, aquilo”, “Instagram isto”, “Instagram aquilo” e, agora, só damos notícias praticamente a dizer mal do Facebook, ou a fazer uma análise crítica ao novo design do Facebook, de um ponto de vista que, se calhar, a maior parte dos media em Portugal não tem a capacidade de fazer. Porque, cá está, o mais difícil acaba por ser, hoje em dia, ter posições com nuance. Eu acho que hoje em dia está tudo muito em modo Twitter, hate it or love it. É o que é. Como diz a Fran Lebowitz, se eu pudesse mudar o mundo e tivesse essas opiniões, era muito mais feliz, mas infelizmente não posso mudar o mundo e temos de conviver com ele.

Por exemplo, o Shifter quando fala de redes sociais acaba, por exemplo, por dizer mal do Facebook, ou dizer mal do Twitter, mas não está no Mastodon — que é uma rede social alternativa e super-respeitadora dos princípios — porque nós precisamos de estar onde as pessoas estão e somos obrigados a este compromisso. Nós só temos de tentar lidar com esse compromisso, avisando as pessoas para os perigos que elas correm, porque nós não podemos fazer muito mais.

Isto da parte do Shifter. Se me perguntares se eu acho que o jornalismo deveria fazer muito mais em relação ao mundo em que vivemos, nomeadamente em relação à tecnologia, claro que sim. Obviamente que sim, e acho que é uma das áreas, em Portugal, em que o jornalismo ainda falha, mas ainda bem, porque se não projetos como o Shifter se calhar não faziam tanto sentido e não tinham tanto espaço para existir. Para resumir: eu acho que o jornalismo tem de ter uma posição crítica sobre as redes sociais, tal como tem uma posição crítica sobre a arquitetura, a política e sobre a sociedade e não podemos cair nesta tecnofantasia, digamos assim, de achar que o que é tecnológico é neutro e bom ou tudo o que é tecnológico é mau e uma parvoíce, mas perceber que são ferramentas, como outras quaisquer, e que neste momento da história, não faria sentido se os jornalistas, os jornais, os títulos, estivessem noutro sítio que não nas redes sociais. Só se quiséssemos falar sozinhos, e esse não é bem o nosso objetivo.

G. –E em relação aos temas de desinformação, que possam surgir dentro ou fora dos meios de comunicação, inclusive, e também das fake news, associas este problema à forma como praticamos jornalismo? E independentemente de associares ou não, achas que o jornalismo deve combater aquilo que não está diretamente ligado à sua atividade? Por exemplo, sites que são inventados e que produzem fake news, isso não é uma questão jornalística, mas cabe ao jornalismo combater isso, ou não?

J. R. – Eu acho que sim, mas vamos lá ver uma coisa: boatos sempre houve, rumores sempre houve, conversas de café sempre houve, desinformação sempre houve. Agora está na Internet, visível e arquivável. Eu acho que o jornalismo os deve combater sem se tornar refém dessas práticas. A Ada Colau saiu do Twitter — ela é presidente da Câmara de Barcelona — e fez um post no Twitter a dizer que era contra a ditadura da presença permanente e que o Twitter a obrigava a ter opinião sobre tudo e a deixava com muito má imagem da humanidade. Acho que, na Internet, acontece um bocadinho isso. Mas acho que nossa em relação — jornalistas e não só — se torna um pouco perversa com essas coisas, porque nós ficamos tão irritados com elas, que passamos a viver a nossa vida em função delas. Acho que isso é o primeiro erro.

Por exemplo, a ascensão dos partidos de extrema-direita nos algoritmos deriva daí. Se nós estamos sempre a mencionar uma keyword, aquela keyword vai subir, e, portanto, o nosso trabalho torna-se completamente perverso e foi completamente subvertido e nós, sem querer, alimentámos aquilo que não queremos alimentar. Na Internet, as pessoas têm muita tendência para dizer aquilo com que estão chateadas, mais do que para dizer aquilo de que gostaram. Por outro lado, um estudo do MIT provou efetivamente que notícias falsas circulam seis vezes mais rápido do que notícias verdadeiras.

É óbvio que estruturalmente, as redes sociais ajudam a que estes boatos circulem muito mais rápido do que circulavam, a tecnologia ajuda a que a desinformação se dissemine muito mais rápido, mas, cá está, o nosso papel no meio disto... há os jornais de fact-checking, que depois escolhem ir para caminhos por vezes completamente absurdos, que são quase anedóticos e insultuosos do próprio projeto, mas há um outro lado que é aquele ditado, de não dar o peixe, mas ensinar a pescar. Se nós percebermos como é que a coisa funciona e estabelecermos uma relação com o nosso leitor que o informe desse tipo de práticas, de como é que se deve proteger desse tipo de fenómenos, acho que já estamos a fazer um bom trabalho. Nós queremos dar boa informação e pessoas contra as vacinas, de extrema-direita, pessoas abjetas, assassinos, homicidas, isso vai sempre haver e não somos nós que vamos salvar o mundo. Acho que o jornalista também tem de perceber isso. O papel do jornalista não é salvar o mundo, é ajudar a que a malta esteja um bocadinho mais informada, que perceba mais as coisas, mas não podemos resolver todos os problemas.

Agora, acho que há uma coisa importante de referir: a desinformação que nasce no seio dos próprios órgãos de comunicação social, isso, sinceramente já me parece um bocadinho estranho. Por exemplo, a forma como as colunas de opinião são vias verdes para se dizer tudo e mais alguma coisa, a mim faz me uma certa confusão. Por exemplo, no The New York Times, as colunas de opinião são sujeitas a fact-checking na mesma. Existe um editor de opinião, não é — tudo o que vem é publicado como se [nada fosse]. Não é como se agora pudéssemos dizer tudo e tudo fosse interessante de se ouvir. Não é bem assim, e eu acho que isso é um ponto importante, mas mais uma vez, e recuando ao que tu estavas a dizer, se essa desinformação resulta, de certa forma, da forma como nós fazemos as coisas, eu acho que isso é a parte mais importante. E não diria da forma como nós fazemos as coisas enquanto jornalistas ou enquanto leitores, mas enquanto sociedade contemporânea.

Lembro-me sempre do filósofo francês, Bruno Latour, que é um senhor que pensava muito a agencialidade das redes de pessoas e, numa entrevista que deu há cerca de dois ou três anos ao The New York Times, em que dizia que — a questão dele era mais sobre o consenso científico, sobre como se atinge o consenso científico, que é uma coisa que me interessa bastante — o grande problema é que se estão a quebrar as redes que sustentam os factos e como é que essas redes se quebram? Quebram-se, por exemplo, quando um jornal fecha informação importante atrás de uma paywall, quebram-se quando um jornal cita um estudo e não mete um link. Há várias pontas em que as coisas se quebram. Ou quando está tudo sobre um print screen e a fonte não está devidamente linkada.

Há imensos pontos em que este nosso mundo cibernético faz com que a informação fique perdida por aí. Eu acho que o essencial, no papel do jornalista, neste trabalho de literacia, é um bocadinho o de reconstruir essas pontes, explicar ao leitor como ele próprio pode reconstruir essas pontes e, em toda a prática, o mais possível, ser essa ponte. Dar o máximo possível para não deixar muito espaço para dúvidas. Mas, para isso, é preciso tempo, é preciso profundidade.

Lembro-me do caso do Cambridge Analytica, de que toda a gente falou, mas eu não sei se alguém em Portugal falou do problema verdadeiro, quer dizer, eu falei no Shifter e no Canal Q, porque o problema verdadeiro chama-se microssegmentação, que é a forma como tu, no Facebook, consegues fazer um anúncio para aquele grupo de pessoas muito restrito. E toda a gente falou em termos muito gerais, em que se promove mais o medo do que a literacia. As criptomoedas é outro exemplo desse tipo de desinformação soft.

G. – Já que abordaste o tema da literacia, queria saber como vês esta relação entre o jornalismo e os leitores. Existe muita falta de literacia não só mediática, mas digital. Cada vez mais os meios estão online, o papel desaparece, principalmente os diários. Como podemos combater isto? Não é toda a gente que sabe consultar um site de notícias e também não é toda a gente que sabe coisas tão básicas como qual a diferença entre uma crónica e uma notícia, e isso também gera desinformação. Como podemos combater isso?

J. R. – Nem toda a gente sabe, mas se calhar também nem toda a gente tem de saber. Acho que frequentemente nos posicionamos no fim da história, quer estejamos, ou não, no fim da história. Parece que, a nossa posição no presente — isto tem muito que ver com a nossa geração — acha que tudo o que era preciso para a humanidade ser incrível já existe. Nós achamos que agora é só acertarmos esta equação e as coisas vão melhorar e, infelizmente, não vão. Eu tenho amigos que acreditam que a rainha de Inglaterra é um réptil, e está tudo bem com eles, eles vão ser felizes a vida toda, e não vale a pena. Eu não os vou salvar e aquilo não os vai prejudicar na sua vida... Não vou dizer que é fixe acreditar nessas teorias da conspiração loucas, ou seja o que for, mas nós também temos de ter alguma ponderação — mais uma vez, que não nos tornemos reféns dessas agendas e fiquemos aqui a apagar fogos, porque depois acabamos por desprezar e por não dar a devida atenção a outro assunto em que, se calhar, podíamos ter uma participação mais construtiva e que no final do dia pode contribuir para uma sociedade mais justa e mais igualitária, para pessoas mais educadas e tudo o mais.

Acho que a questão tem de ser posta numa perspetiva muito ampla, da literacia de como é que se pode fazer. Por exemplo, o Público lançou um projeto de literacia que consistia em dar o Público aos jovens. Isso para mim não é literacia, isso é convencer leitores do futuro. Está tudo bem com isso, é uma boa estratégia. Gosto bastante e se tivesse dinheiro para o fazer e apoio das empresas como eles tiveram, também fazia, mas não me venham com coisas.

Por isso, eu acho que nós devemos, dentro daquilo que for a nossa capacidade, ser o mais explicativos e honestos com as pessoas possível, na redação dos nossos artigos, às vezes até numa certa transparência em relação aos nossos processos, que não é preciso ser radical, mas uma certa transparência, uma certa honestidade, em relação aos processos, em relação às pessoas que constituem os processos e tudo o mais. Podemos fazer projetos pontuais que sejam focados nessas matérias, de ensinar as pessoas a ler os media, ou ensinar as pessoas a compreender o mundo digital, mas também temos de aprender a saber lidar com o facto de que vai haver sempre quem não saiba. Vai haver sempre pessoas que vão estar nessas franjas e está tudo bem com isso. O que eu acho que é muito importante, é criar uma espécie de honestidade de base na relação, para que quando as pessoas não saibam possam perguntar, dialogar. O jornalista, por exemplo, também não ser aquela figura inquestionável de arrogância e de “estou sempre certo”. Acho que nessas pequenas nuances é que nós podemos ter um grande papel. Depois há outra coisa fundamental que é — e que tem que ver com aquilo que tu falavas da representatividade — se nós começarmos a trabalhar numa dimensão, as outras dimensões vão-se tornar lógicas, fáceis, óbvias. Nós podemos dizer que um leitor, quando pega no Gerador, não sabe distinguir uma reportagem de uma crónica. Mas se pegar em três Geradores seguidos, ao fim de três Geradores vai saber, e tu não precisaste de lhe ensinar, ele aprendeu sozinho e simplesmente conquistaste-o para a tua leitura. Um exemplo que costumamos no Shifter dar é que se a nossa mãe compreendeu a nossa notícia — a minha mãe às vezes também me chega aqui com desinformação e com coisas assim, mas eu posso tentar contrariar isso —, então estou a cumprir o meu papel porque estou introduzir a pessoa a este assunto.

Temos é de é tentar que o nosso trabalho responda a essas perguntas naturalmente, porque eu acho que — como já disse várias vezes — esta perspetiva moralista que nós tendemos a ter sobre as coisas, também é um bocadinho paternalista e afasta as pessoas do jornalismo. Portanto, nós até estamos com boas intenções, mas estamos a tratar as pessoas como se fossem crianças, e ninguém gosta de ser tratado como criança. As pessoas gostam de desafios e de sentir que são capazes de os cumprir. É a tal história do Nietzsche, se calhar não vais compreender à primeira, mas se compreenderes também não era o Nietzsche, era esse o exercício. Portanto, a ideia não é fazer um resumo do Nietzsche para totós, é criar condições, através do tempo e espaço, para que a pessoa queira ler aquilo e queira realmente envolver-se com aquilo. Acho que isso é que é fundamental. E se o jornalismo começar a envolver mais todas as pessoas, a falar mais sobre todos os assuntos, a representar mais geograficamente — é um ponto importantíssimo de que falaste — todas as áreas do país, vamos começar a ter uma sociedade muito mais informada e emancipada nesse sentido, porque não podemos ignorar que em Portugal aquelas questões todas que eu disse anteriormente são perfeitamente visíveis, por exemplo, nos escaparates das livrarias em que os livros de não ficção que vendem em qualquer lado são os que têm asneiras no nome. Livros de não ficção decentes não vendem em Portugal e livros de ficção decentes praticamente não são editados em Portugal. Estão a começar agora a ser editados por uma série de editoras que estão agora a surgir, mas a lista de nomes sonantes, intelectuais, que em Portugal não estão editados é uma lista infinita. Isso explica tudo. Num país em que a palavra intelectual é uma ofensa, nós não podemos estar à espera de que as pessoas sejam especialistas em ler notícias. Não dá.

G. – Gostava que escolhesses uma reportagem que tivesses feito e que me descrevesses que processo de trabalho esteve por detrás dela, desde o momento em que te cruzaste com o tema até que a publicas.

J. R. – Pode ser a reportagem dos NFT. Na verdade, eu posso reconhecer que comecei a escrever essa reportagem, sem a ter começado a escrevê-la, em 2018, porque a minha relação com o tema começou em 2018 e, desde então, é um tema que tenho apontado e, portanto, vou-me informando constantemente e mantendo atualizado sobre as coisas que estão a acontecer e vou lendo notícias e aí é aquilo que eu dizia há pouco, de eu ter espaço para mim próprio, para ter esse exercício de pensar sobre o mundo, pensar sobre as coisas que acontecem e, portanto, eu não poderia tentar entender, por exemplo, os NFT ou a loucura dos NFT em duas semanas. É impossível, autenticamente impossível, especialmente porque quando as coisas têm hype é geralmente pelo pior motivo. Portanto, se eu tentasse entender a coisa agora, ia ser altamente enviesado, ia ser ofuscado por coisas que não interessam assim tanto. Essa reportagem começou há muito tempo com o interesse na blockchain e a parte tecnológica toda.

Depois, curiosamente, nesta reportagem, o que também é interessante, nós fizemos uma coisa que não costumamos fazer assim tanto, que foi pedir aos nossos leitores que partilhassem a sua experiência na área — isto porque é uma área extraordinariamente nova e é uma cultura um pouco distinta e são pessoas um bocadinho difíceis de identificar. Deixámos um caminho aberto para perceber também, no nosso público, o que havia ali. De repente, descobrimos que havia pessoas incríveis. Eu já acompanhava os NFT desde 2018, porque nós fizemos um artigo nessa altura, uma vez que no Técnico havia um programador que era o primeiro a programar na blockchain material, e, portanto, o primeiro a fazer um NFT. Eu mantive contacto com esse programador desde então e, de vez em quando, íamos falando e sempre que eu tinha dúvidas sobre o blockchain era a ele que eu recorria e, ainda hoje, quando tenho alguma dúvida é a ele que eu recorro. É uma relação que foi mantida ao longo do tempo.

Mas voltando à parte do processo, perguntámos a pessoas se tinham experiências, muitas falaram connosco. Descobrimos que existe um rapaz em Portugal que tem um museu de criptoarte, no criptomundo, que tu podes visitar com o rato e teclado, uma cena incrível. E a juntar a isso, nós temos sempre alguma audácia de tentar [incluir] pessoas que sejam, eu não quero dizer reconhecidas lá fora, porque não é bem esse o critério que nós escolhemos, serem reconhecidas ou não, mas não ficarmos restritos à discussão que se está a ter em Portugal e não precisamos de ir ouvir sempre as mesmas pessoas que estão a falar em Portugal.

Nesta reportagem o que fizemos foi: perceber dentro da nossa comunidade quem é que teria histórias interessantes para participar — entretanto surgiu uma pessoa que tinha uma história incrível, era esse rapaz, o artista, que é o oficinasTK, o Rodolfo, e que está superdentro da cena desde 2017. Depois, contactámos com quem estava mesmo na crista da onda e acabou por se tornar numa reportagem imersiva porque fui incluído em alguns grupos.

Nós, jornalistas, não podemos abdicar de pensar sobre o assunto e ser só coletores de citações, e, de repente, mandarmos para ali as citações, e nós, se calhar, nem percebemos bem aquilo sobre o que escrevemos e somos a última pessoa com quem é possível ter uma conversa sobre aquilo. Nós temos de tentar evitar um bocadinho isso, e é isso que tentamos fazer e, sem querer, fizemo-lo desde o princípio, porque viemos parar ao jornalismo de paraquedas. Mas é tentar também envolver-nos um pouco no assunto, não em demasia, para também perceber as nuances que estão dentro desse tema. O caso dos NFT é paradigmático. Tu se fores ver a minha reportagem vês que tenho duas pessoas que dizem muito mal e duas pessoas que dizem muito bem [daquilo]. Se eu fosse só ouvir uma pessoa, ou outra, e não fosse construir a minha perspetiva, fazer a minha leitura dos argumentos, corria o risco de só pôr as pessoas a chocar uma contra a outra e não sair nada dali e o meu leitor não ia perceber nada; ou de ser sequestrado por qualquer uma das posições e também não era essa a minha intenção. Portanto, foi preciso tempo para perceber o desenrolar das coisas e para não ter uma perspetiva que é só sobre a espuma dos dias. Por vezes, é preciso escrever o artigo para ontem e, com esse prazo, se calhar não consegues ir ler o texto que se escreveu há três anos sobre isso na Internet. A informação parece estar cá toda, mas há informação que há muito tempo ficou lá para trás. É preciso trazer essa perspetiva e essa liberdade para fugir um pouquinho aos formatos, e conseguir ter mais nuance e para também chegar a sítios onde se calhar não era tão fácil chegar.

Depois, eu acho que há uma coisa muito importante que nós fazemos no Shifter que é transversal a algumas reportagens — que sinto que alguns media podiam fazer mais e não fazem — que é tentar que umas reportagens se alimentem a outras, e que a coisa vá fluindo.

G. – Para terminar, e embora já tenhas referido alguns, quais são os projetos que te inspiram no âmbito do jornalismo lento?

Sou muito fácil de inspirar e as minhas referências são muito dispersas. A referência máxima em que gosto de ler todos os textos é o The Baffler. É uma revista norte-americana. Se achas que nós fazemos jornalismo lento, desafio-te a ler artigos da The Baffler, porque são autênticos livros num artigo. E são muito interessantes, porque trazem sempre perspetivas diferentes. Também gosto do The Atlantic, porque acho que faz muito bem o trabalho de jornalismo de profundidade e pensamento. Depois, tens projetos mais recentes. Há uma revista, a Rest of World, que se dedica a cobrir os países que não são cobertos pela maioria da Internet, assim como as línguas e culturas. É superinspirador. O The Markup, que são um novo media sobre tecnologia e que estão a fazer algo completamente disruptivo. O Jornal Mapa também é sempre uma referência, e digo este para não dizer os outros que, mesmo assim, acho que são um bocadinho mais mainstream.

Texto de Andreia Monteiro
Fotografia da cortesia de João Ribeiro

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