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Jornal O Negro: “É uma reedição necessária, não só pelo silenciamento a que a geração de ativistas foi votada mas também pela atualidade”

A 9 de Março de 1911, era lançado, em Lisboa, o jornal “O Negro: Órgão…

Texto de Patrícia Nogueira

A closeup shot of several newspapers stacked on top of each other

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A 9 de Março de 1911, era lançado, em Lisboa, o jornal “O Negro: Órgão dos Estudantes Negros”, uma iniciativa de estudantes e ativistas negros que lutavam contra o racismo. 110 anos depois, os três números desta publicação foram reeditados em papel e estão disponíveis numa versão online gratuita.

O Negro, foi o primeiro de onze jornais dirigidos por afrodescendentes, em Portugal, entre 1911 e 1933, teve três números e foi lançado meses depois da implantação da República. No dia 9 de Março de 2021, Cristina Roldão, José Pereira e Pedro Varela lançaram uma reedição comemorativa em parceria com o projeto Falas Afrikanas, fruto de vários anos de pesquisa.

Este movimento jornalístico foi um marco no início do século XX, pois era representado por uma geração de ativistas que se consagrou em nome da dignidade, igualdade e defesa por mais autonomia em territórios africanos, até então ocupados por Portugal. Surgiu logo após a proclamação de uma República que se auto proclamava mais livre e igualitária mas que, ao mesmo tempo, continuava a praticar um nacionalismo colonialista que acabou por implicar o reforço da ocupação militar das colónias e uma submissão violenta dos nativos. Ao longo de três números, O Negro denunciou situações de racismo e injustiças praticadas nas colónias africanas, divulgou marcos importantes da cultura negra e do pensamento anti racista, e acompanhou as revoltas negras no Brasil. O jornal ergueu-se para lutar contra "iniquidades, opressões e tiranias", exigindo da 1ª República o fim da desigualdade racial, reivindicando uma África que fosse "propriedade social dos africanos".

Em declarações ao Gerador, um dos responsáveis pela reedição, José Pereira, contou que esta reedição é fruto de um trabalho de investigação sobre a origem do O Negro e da, imprensa e organizações em Portugal, não só organizações contra o racismo mas também, na área de intervenção social pelos direitos das mulheres e organizações políticas. A participação da investigadora e professora Cristina Roldão, surgiu pelo estudo que tem feito ao longo do seu percurso sobre as mulheres negras ativistas ao longo do séc.XX. "Foi uma reedição necessária, não só pelo silenciamento a que a geração de ativistas foi votada, mas também pela atualidade que vivemos", acrescentou José Pereira.

Imagem cedida pela equipa de reedição do Jornal O Negro

Questionado sobre se este é um grito contra tudo o que se tem passado em Portugal, relativamente ao racismo nos últimos tempos, José respondeu: "Não é por acaso que a primeira palavra da primeira página, no primeiro número do jornal, é: Reflitamos. Acredito que, naquela altura, a geração de ativistas não estaria apenas interessada em refletir mas sim, em transformar o mundo, lutando pela igualdade. Era um grito de alerta e apelo à mobilização. Sentimos que ainda há uma grande atualidade na intervenção do que diziam. A questão do racismo está presente, sim, e é também verdade que o racismo estrutural marca a história de Portugal desde há séculos, o que acaba por refletir o acolhimento que a edição tem tido.".

Contudo, esta não foi só uma mera comemoração de uma efeméride, mas também uma homenagem ao trabalho de Mário Pinto de Andrade, que deixou um legado para que as gerações seguintes pudessem conhecer a sua presença em solo português, e a resistência histórica da qual são herdeiros, sendo um exercício do direito à memória para um combate antirracista na atualidade.

Imagem cedida pela equipa de reedição do Jornal O Negro

"Não pretendemos substituir o trabalho da imprensa. Uma das áreas onde se tem sentido o vigor dos ativistas negros em Portugal é, precisamente, nos media alternativos que depois se desenvolvem nas redes sociais. Esses media alternativos, pretendem veicular uma mensagem de emancipação e apelar à reflexão e mobilização contra o racismo pela igualdade e liberdade Mas não gostaria apenas de falar dos media, queria falar, também, da comunidade artística negra que tem feito um trabalho enorme de sensibilização através da arte, para a necessidade de toda a sociedade de mobilizar contra o racismo", salientou ainda José Pereira.

Ainda que esta reedição tenha esgotado, para já, será única e os três investigadores não apontam para um novo número, contudo não excluem a possibilidade de poderem surgir outros projetos ligados á luta contra o racismo em Portugal.

Lê, aqui, a edição online grátis do jornal O Negro.

Texto de Patrícia Nogueira
Fotografia disponível via Pexels
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