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José Luís Garcia: “Não se estudam as figuras negras na nossa História e isso é muito grave”

*Esta entrevista foi inicialmente publicada a 21 de fevereiro, a propósito do lançamento do livro “Mário Domingues – A Afirmação Negra e A Questão Colonial”.

Texto de Sofia Craveiro

Fotografias da cortesia de José Luís Garcia

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Jornalista, cronista, tradutor e escritor de quem ainda pouco ouvimos falar. Mário Domingues desenvolveu uma obra vasta em diferentes áreas, destacando-se enquanto voz crítica do colonialismo português. Viveu entre 1899 e 1977, durante um período decisivo da história de Portugal que, aliás, tarda em fazer-lhe justiça. Esta é, pelo menos, a opinião do investigador José Luís Garcia que agora nos traz o livro Mário Domingues – A Afirmação Negra e A Questão Colonial.

A obra é uma compilação de textos que Mário Domingues publicou entre 1919 e 1928 em títulos como A Tarde, Avante!, Século Ilustrado, ABC, Repórter X e, sobretudo, no jornal anarcossindicalista A Batalha e mostra um retrato do colonialismo português naquele período.

As crónicas combativas de Mário Domingues mostram o olhar crítico sobre o domínio supostamente “civilizador” que Portugal imprimia aos países africanos e denuncia a realidade que muitos insistiam em não encarar. “Estes textos mostram claramente que o Mário Domingues é um precursor da afirmação negra, da crítica contra o racismo e da revolta contra o colonialismo em Portugal”, diz o investigador José Luís Garcia.

Este livro, editado pela Tinta da China, inclui ainda um ensaio que contextualiza o período histórico e descreve a importância da figura que foi Mário Domingues. A intenção é não apenas valorizar o trabalho deste intelectual português do século XX, como destacar a importância da herança africana na nossa identidade e provocar a reflexão sobre o colonialismo. “Pretendo, acima de tudo, que o livro contribua para que haja um melhor convívio e uma maior igualdade entre toda a gente”, diz o docente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.


Gerador (G.) – Este livro centra-se nas crónicas de Mário Domingues, algumas que assinou em nome próprio outras sob pseudónimo. Os textos têm um caráter combativo e de denúncia do que se passava nas colónias portuguesas. Podemos dizer que traduzem o início de um período de insurgência dos negros?

José Luís Garcia (J. L. G.) – Sim. O livro Mário Domingues – A Afirmação Negra e A Questão Colonial contém textos escritos entre 1919 e 1928. A quase totalidade dos textos que estão aqui transcritos são da sua autoria e assinados por ele. Há apenas um ou outro texto que não foi assinado, mas que eu julgo ser ele o autor. E depois há um texto que é assinado por um colega dele, que o é o Cristiano Lima, que eu inseri porque é muito importante para perceber um conjunto de textos que ele vai escrever em julho de 1922.

Portanto, esta obra recolhe esses textos, do período em que ele tem entre 20 e 29 anos mais ou menos. São textos da juventude dele, quando ele era um anarcossindicalista e jornalista profissional d’A Batalha, embora fizesse colaborações também noutros periódicos da altura.

O que aqui está realizado é uma seleção de textos nestes tópicos: crítica anticolonial, luta contra o racismo, afirmação negra. Eu coligi os textos e fiz um ensaio introdutório ainda bastante desenvolvido – que aliás era mais desenvolvido [e foi reduzido] – de cerca de 80 páginas sobre esta personalidade no contexto daquele tempo. Também traço um esboço biográfico para além deste período, digamos assim, da sua juventude. Estes textos são, como disse, combativos. São textos que eu designo como fazendo parte de uma rebelião ou de uma rebeldia negra na altura.

G. – Mas podemos dizer que eles refletem o início de um movimento contrário [ao sistema vigente]?

J. L. G. – Exato. Esses textos marcam claramente – mas muito claramente e eu sou muito categórico a dizer isto – que o Mário Domingues é um precursor da afirmação negra, da crítica contra o racismo e da revolta contra o colonialismo em Portugal. Ele é, digamos assim, um pioneiro deste processo nos anos 20, porque ele escreveu estes textos num jornal de grande circulação ligado às massas trabalhadoras, que era o Jornal A Batalha, que estava associado à CGT (Confederação Geral do Trabalho), que era a organização principal dos trabalhadores naquela época.

Isto significa que, não só o Mário Domingues é um crítico da colonização, um crítico do racismo, um homem favorável à afirmação negra, como também as elites ou os dirigentes de uma boa parte do movimento operário e do Movimento dos Trabalhadores, estão solidários com esta perspetiva. Porque estes artigos saem neste jornal e saem até na primeira página. Além disso, havia outros escritores, outros jornalistas que acompanhavam esta perspetiva do Mário Domingues. Um caso notório, que eu indico no livro, é o de Ferreira de Castro, por exemplo. Mas há mais...

G. – No seu ensaio – e até no seguimento do que está a referir sobre o anarcossindicalismo – diz que os ativistas intelectuais negros tendiam a ver esta questão colonial articulada com a reprodução do capitalismo. Portanto, estas “interdependências africanas”, conforme descreveu, eram postuladas num contexto de luta anticapitalista. Isso significa que na visão de Mário Domingues a sociedade livre de preconceitos seria necessariamente uma sociedade sem classes?

J. L. G. – É verdade que quando ele escreveu estes textos ele era um anarcossindicalista e os anarcossindicalistas tinham um programa antiestatista, portanto, contrário ao Estado, simultaneamente anticapitalista e também contrário ao próprio nacionalismo, à ideia de nações. Portanto, eram antiestatistas, antinacionalistas e anticapitalistas e também – já agora – antimilitaristas.

G. – Portanto, a ideia era mesmo a anarquia.

J. L. G. – Exatamente. Eles imaginavam um mundo que era uma confederação livre de pessoas. Quando o Mário Domingues defende a independência de África, isso não significa [que defenda] estados-nação independentes, como veio a acontecer, mas uma confederação africana independente, livre da dependência colonial que havia na altura face às grandes potências europeias. Ele pensava – e era assim a doutrina anarquista na altura – que a libertação do jugo colonial aconteceria depois da libertação também do jugo capitalista ou do jugo estatista. Era esta a perspetiva que ele tinha.

G. – Ou seja: não se podia dissociar uma coisa da outra?

J. L. G. – Não se podia dissociar, não.

G. – ... o domínio colonial do capitalismo?

J. L. G. – Não se podia dissociar. Na segunda geração de dirigentes pela independência em África, a geração que o seu filho vai ter conexão, o António Pimentel Domingues, como eu digo no meu ensaio – que foi um pintor muito importante do neorrealismo e do surrealismo português –, a geração do filho e dos amigos do filho (que eram o Agostinho Neto, o Zito Van Dunem, o Amílcar Cabral por exemplo), também acreditava que o fim do colonialismo seria concomitante ou derivado do fim de uma sociedade capitalista mas, aí, a doutrina deles era marxista-leninista. Há uma pequena coincidência, realmente, com o ideário do Mário Domingues, mas só nisso, porque depois, essa geração já não quer uma confederação africana geral apenas, eles lutam pela existência de estados-nação independentes, ou seja, uma Angola independente, Moçambique independente, etc.

G. – Todos estes movimentos resultam um pouco, também, da descrença que se tinha vindo a verificar na República? Ou seja, desde que houve a implantação da República notou-se que, no fundo, aquilo que seriam os valores que foram “prometidos” não se estavam a concretizar e começou a haver uma descredibilização por parte dos intelectuais...

J. L. G. – Exato.O que acontece é que, no período em que Mário Domingues escreveu estes textos é no período em que o movimento anarcossindicalista foi muito forte e que o jornal A Batalha também era muito lido por dezenas de milhares de pessoas e trabalhadores. Esse período é um muito turbulento. É um período em que, na segunda metade dos anos 10, vamos encontrar o quadro da Primeira Guerra Mundial, que trouxe milhões de mortos para a Europa e, no caso português, houve um número muito significativo, também, de pessoas que morreram.

Nesse período também existiu a gripe espanhola, ou seja, uma pandemia muito letal com várias vagas e várias ondas que atingiu vários países europeus (e Portugal também). Nesse período, no caso português, houve um golpe político dirigido pelo Sidónio Pais, que foi um golpe de caráter autoritário, protofascista até, e que foi seguido por um plebiscito, por uma espécie de populismo. É uma época de greves grandes e de grandes dificuldades económicas e, realmente, o Partido Republicano divide-se, os governos caíam e eram sucedidos uns aos outros, o protesto popular era muito forte.

O movimento anarquista tornou-se muito importante e, realmente, era uma época de crise, de uma grave crise. Mas o que origina também a essência destes textos, é o facto de o Mário Domingues acompanhar os processos de conflitos raciais que existiam nos Estados Unidos depois da Primeira Guerra Mundial, em que os veteranos norte-americanos negros, que regressaram às suas terras, pensavam que iam poder ter um contexto favorável à sua própria vida e perceberam que o derramamento do seu sangue não fez muito para que sua condição deixasse de ser de subalternidade na sociedade norte-americana. Nesse período, em 1919 e nos anos seguintes, houve motins muitíssimo importantes que vão culminar em massacres como o Massacre de Elaine em finais de setembro de 1919 ou, mais tarde, no massacre de Tulsa. O período em que se passou o massacre de Elaine, setembro de 1919, é precisamente aquele em que o Mário Domingues começou a escrever.

O primeiro texto que escreveu, chamado Colonização, articula os conflitos raciais nos Estados Unidos da América com o problema da colonização portuguesa. É, portanto, este o contexto em que ele escreve. Mas ele não estava sozinho, inclusive como negro. Existiam na altura movimentações muito importantes do chamado internacionalismo negro nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França, na Bélgica e também em Portugal que davam origem aos chamados Congressos Pan-Africanos. Em Portugal, existiam também várias organizações políticas negras, sendo duas delas o Partido Nacional Africano e a Liga Africana. E havia também vários tipos de jornais negros (houve 11 títulos durante esse período).

Estes líderes negros, afro-luso-descendentes, vão estar nessas reuniões internacionais. Ao mesmo tempo, o principal líder destes Congressos Pan-africanos, o norte-americano [William] Du Bois vai vir a Lisboa também, para ter contacto com eles. Portanto, temos aqui um contexto muito alargado de crise e de afirmação dos negros que existiu em Portugal. Mário Domingues é, digamos assim, a figura, o publicista mais interveniente e conhecido na esfera pública, na medida em que os jornais lhe davam uma grande visibilidade, obviamente.

G. – No primeiro texto que referiu, na crónica intitulada Colonização, é bastante notória a revolta perante a atitude “civilizadora” dos europeus face aos africanos. Ele refere e passo a citar: “exterminar um povo, enfraquecê-lo e bestializá-lo com o álcool; obrigá-lo a crer num Deus inverosímil; fornicar-lhe as mulheres e as filhas; viciar o meio puro dos sertões: eis que tem sido a missão civilizadora da Europa, eis a sua cultura”. Estas acusações e estas situações que ele aqui denuncia são, no fundo, o que acaba por explorar durante essa “campanha” como ele próprio diz, de crónicas, porque ele vai depois relatar a fundo cada um desses temas.

J. L. G. – Ou seja, ele pratica um jornalismo que está muito baseado em factos e vai reportando nas suas crónicas, nos seus artigos, factos que lhe chegam através de relatórios, através de denúncias, através da correspondência que tinha, através das informações que recolhia também nos partidos negros e noutros jornalistas em Angola, em Moçambique e em São Tomé e Príncipe.

Portanto, está baseado em factos que ele vai reportando e vai denunciando e vai tentando, no fundo, mostrar que a propalada missão “civilizadora” da colonização – a razão que era usada pelas potências ocidentais e também por Portugal – era uma ideia falsa, porque não se civilizava os chamados “indígenas” [como o próprio Mário Domingues descreve nos textos] com bestialidade, com violência, com analfabetismo, com prostituição, com álcool.

A questão da prostituição e do álcool, que ele foca muitas vezes, deriva do facto de os anarquistas fazerem grandes campanhas de denúncia destas situações junto das classes trabalhadoras. Eles consideravam a prostituição e o álcool algo que tinha uma função alienante das classes trabalhadoras e também das populações dominadas de África.

De certa forma, ele insinua que isso lhes tira um pouco o espírito crítico que já era baixo, tendo em conta que muitos eram analfabetos e, apesar de Portugal se considerar civilizador, a taxa continuava alta.

G. – Ele dizia que o uso de álcool era, no fundo, um reforço dessa “estupidificação” imposta?

J. L. G. – É isso mesmo. Tinha uma função alienante. Cabe pensar se hoje em dia não acontece o mesmo (isto aqui é uma nota de rodapé). Quando as pessoas estão muito subordinadas, quando estão muito exploradas, quando têm horizontes muito pouco auspiciosos, podem abrigar-se nas drogas com alguma facilidade.

No caso dos anarquistas, eles falavam também muito da prostituição, que era realmente um flagelo na altura (se é que não é também hoje em dia). Sobretudo nas antigas colónias portuguesas, as mulheres negras eram tratadas como prostitutas. Ele também era muito sensível a estas questões, porque a mãe dele foi levada à força para Angola com 15 anos, para a extração e cultivo do café e do cacau. Ele foi trazido depois, com 18 meses, para Portugal. Nunca mais soube da mãe. Disseram-lhe que a mãe tinha morrido, e essa foi, evidentemente, uma marca psicológica muito profunda. Isso nota-se em vários textos dele.

Há um texto que eu transcrevo, em que ele se dirige diretamente ao leitor, dizendo que era mulato, dizendo o que se passava com a mãe, etc. E depois, o livro dele de cunho autobiográfico, que ele escreve quando tem cerca de 60 anos [intitulado] O Menino Entre Gigantes, é dedicado à memória da mãe. Ele considerava a mãe e toda a vicissitude que teve, de afastamento, como um símbolo da África mártir, da África dolorosa, a África explorada.

G. – No fundo, ele vivia um pouco nesta dualidade porque havia essa situação com a mãe, mas depois...

J. L. G. – ... tinha família branca...

G – Sim, a família e o facto de viver na “metrópole” mostrava que ele próprio encarnava esta dualidade de realidades.

J. L. G. – Tinha essa dualidade. Dualidade essa que pode ser instauradora de uma própria dupla consciência. Essa é a ideia do [William] Du Bois, ou seja, que os negros colonizados e mesmo os negros nos países “metropolitanos” das colónias têm uma dupla consciência. No fundo têm uma consciência em que pertencem e não pertencem à sociedade. Estão dentro e estão fora. Estão dentro da cultura africana e fora da cultura africana. Dentro da cultura ocidental e fora da cultura ocidental. Há este processo de dualização muito grande. [...]

G. – Uma coisa que me pareceu curiosa é que, apesar dos textos serem sempre muito combativos e de denúncia de situações concretas, a verdade é que a independência não é uma coisa que seja mencionada muito frequentemente. Há, de facto, uma crónica intitulada “O Ideal da Independência”, mas essa independência é descrita mesmo num sentido abstrato, ou seja, não é uma reivindicação concreta. É quase como se fosse inalcançável, não é?

J. L. G. – Sim, exato. A primeira geração dos negros – em Portugal e não só – não colocava a questão da independência dos territórios de onde eram originários enquanto estados-nação.

G. – Pois.

J. L. G. – Não colocava as questões desta maneira. Geralmente pensavam no quadro de confederações, no quadro de relações federais com as metrópoles... Não colocava as questões dessa maneira. E devo dizer-lhe que, por exemplo, o Partido Comunista Português – que nasce por esta altura – também não.

Portanto, estamos a falar de textos e de acontecimentos que têm um século. E mais: esta geração não formula a questão da independência como uma questão fundamental, mas isso só valoriza mais o Mário Domingues porque ele chegou a formular a ideia de independência. Não [o fez], realmente, de uma forma concreta, ou seja, fê-lo de uma forma abstrata, em termos de confederação africana, em termos de liberdade para os africanos.

Esta noção de independência mais ligada à luta de Estado-nação para Estado-nação só vai acontecer algumas décadas mais tarde dando origem aos movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas e de outros países também.

G. – Ou seja, no fundo, só o facto de ele referir isso, mesmo que seja como uma abstração já é...

J. L. G. – Muito valioso.

G. – E disruptivo?

J. L. G. – Disruptivo também. Só a palavra independência era disruptiva naquela altura obviamente. Repare que nós estamos habituados a perceber o mundo a partir da ideia de Estado-nação, mas essa ideia é uma construção recente na história da humanidade. É uma construção que remonta ao século XIX para cá. A conceção de Estados-nação não era anterior ao século XIX, nem os movimentos nacionalistas. Portugal, realmente, tem uma circunstância muito precoce do ponto de vista da formação do seu Estado-nação, mas muitos outros territórios não a têm. E mesmo hoje em dia, o quadro do Estado-nação está por cumprir em muitos territórios, evidentemente. Pensemos no caso da Catalunha, por exemplo. A Catalunha é uma nação, mas não é um Estado-nação. E este é só um dos casos que nós podemos ver na Europa e em vários outros países do mundo.

Temos de perceber que, desse ponto de vista, a questão de reivindicar que um antigo território colonial deveria ser transformado num Estado-nação é algo que só vai suceder em finais dos anos 10 e no princípio dos anos 20, dentro da própria consciência anticolonial e dos próprios movimentos marxistas-leninistas.

G. – Esta ideia de soberania nacional é posterior.

J. L. G. – E a própria ideia de soberania nacional era vista em vários dos quadrantes de revolta política – em particular dos marxistas-leninistas ligados à Terceira Internacional Comunista e aos partidos comunistas, mais tarde – como parte de um processo mais geral de revolução, que poderia vir a abolir os próprios Estados-nação, porque a ideia principal era a ideia de internacionalismo.

Recorde-se de que as palavras de ordem da Primeira Internacional de Karl Marx era “Proletários de todo o mundo, uni-vos!”. E, no quadro da Primeira Guerra Mundial, os marxistas revolucionários foram avessos a lutar pelos seus próprios países contra os países adversários e os anarquistas também, dizendo que os trabalhadores de um país não podem matar os trabalhadores do outro país. Ou seja, a ideia que aqui havia era de internacionalismo operário, de internacionalismo dos trabalhadores, não se confinando com a ideia de Estado-nação que consideramos ser uma categoria, digamos, burguesa. [...]

G. – Queria agora focar em concreto a questão do racismo, que é recorrente neste livro. Há pouco falávamos da prostituição... há um texto chamado “A Prostituição em Luanda”, no qual Mário Domingues criticava uma expressão utilizada n’O Mundo, em que se alegava que a prostituição da mulher e das filhas não podia causar grande sofrimento ao negro, ao “selvagem”, porque este não possui – e cito – “nenhuma noção de dignidade pessoal”. Este argumento de desumanização era usado como justificação para perpetuar a violência?

J. L. G. - Nós estamos dentro de um quadro mental racista, apoiado na ideia de hierarquização das raças, ou seja, de que havia raças superiores e raças inferiores. Este racismo tinha a pretensão de ter bases científicas. Ele é herdeiro das teses de neospencerarianas ou neodarwinistas, também. Consideravam que aqueles povos, os povos de África e outros, estavam num grau de inferioridade racial e cultural. E, desse, ponto de vista, a missão das raças superiores era de civilizá-los.

A atitude racista face à questão por exemplo da mulher – faço notar que o Mário Domingues é um defensor também precoce da dignidade das mulheres – era de que a prostituição não lhes faria grande mal, às mulheres negras, porque elas ainda não estavam civilizadas. Portanto, a prostituição só causaria problemas às mulheres civilizadas. Veja só isto! Isto é uma perspetiva que hoje em dia parece-nos completamente injustificável, abstrusa, completamente ilegítima, mas esse era o quadro mental da época. Era o quadro mental daqueles que se viam superiores do ponto de vista racial. Não é apenas superior do ponto de vista da cultura, mas era da raça.

G. – É quase biológico...

J. L. G. – Era biológico, exatamente. Era uma conceção biológica que hoje em dia é considerada não científica, mas que, na altura, era considerada científica. É nesta altura, também, e anos antes, que surgem as conceções eugenistas, muito importantes na legislação norte-americana e noutras legislações europeias. A ideia que certos grupos podiam transmitir características biológicas e genéticas nocivas aos seus descendentes e que essas pessoas teriam de ser proibidas de procriar e deveríamos levá-las a serem eliminadas mesmo. O nazismo vai levar esta ideia a circunstâncias de assassinato sistemático, mas estas ideias também existiram nos Estados Unidos da América e na legislação norte-americana, em muitos setores da medicina, na Inglaterra e em setores intelectuais e também no colonialismo. Esse colonialismo moderno, deste período, alicerça-se nesta ideia de racismo científico, que hoje em dia está completamente abandonada e criticada.

G. – Mário Domingues refere também, em mais do que um texto, a figura de Anastácio. É uma figura claramente arquetípica de um cidadão português racista que, mesmo vendo a vida sob o binómio preto-branco, diz não ser racista, mas antes ter uma missão civilizadora. Podemos dizer que o Anastácio ainda existe atualmente, já que vemos muitas pessoas a pensar desta forma e a desvalorizar o colonialismo o seu impacto negativo e o sofrimento que este infligiu?

J. L. G. – É isso mesmo. Quer dizer, o Anastácio no fundo, é uma figura arquétipo como estava a dizer, que o Mário Domingues constrói de uma forma digamos, Queirosiana, se quisermos e exemplifica o “racista não-racista” ou seja, aquele que não se assume como racista. O racista que não se compreende a si próprio como racista, embora o seja. Esta figura é construída pelo Mário Domingues a partir de uma circunstância histórica que ele constrói em três crónicas, num jornal da altura chamado Imprensa Livre. Constrói em circunstâncias históricas, que são a derrota espanhola na Batalha de Annual, que foi uma batalha que opôs tropas marroquinas a tropas espanholas e em que o líder das tropas marroquinas tinha sido um antigo funcionário de Espanha.

Mário Domingues ficciona uma conversa com uma figura como a do Anastácio e a partir daí ele vai mostrar como este racista não se compreende a si próprio como racista. Ignora que com quem está a falar – que é ele, Mário Domingues – é negro porque de negro só tinha a cor da pele, no resto não era “negro”, o que indica que pensa que os negros são, todos eles...

G. – Que não podem ter capacidades intelectuais...

J. L. G. – ... e, portanto, quem tem capacidades intelectuais não é verdadeiramente negro, embora da cor da pele possa ser. A ideia de “negro” é uma ideia que não tem a ver apenas com a cor da pele, simboliza, no fundo, aquele que é inferior. É isso que ele está a denunciar mas, ao mesmo tempo, esta crónica é genial porque aqui também há o problema da independência.

É que os marroquinos estavam, no fundo, a afastar as tropas colonialistas de Espanha, ali do Magrebe, e a conversação entre o Mário Domingues e o tal Anastácio, no fundo, é em redor do problema da independência. Porque o que o Anastácio diz, é que o líder marroquino devia ter estado ao serviço dos espanhóis, porque ele era um funcionário espanhol. E o que o Mário Domingues diz para o Anastácio é “mas ele assim estava longe do seu povo, estaria a trair o seu povo. Ele está junto do povo marroquino, porque é aí que pertence, ele tem nada que estar ligado ao povo espanhol”. É também um texto não só antirracista como anticolonialista claramente. E depois todas estas três crónicas elas têm uma feição satírica também, muito forte.

G. – É curioso porque – pelo menos tendo em conta a organização dos textos – primeiro nota-se um foco no trabalhador, no “indígena”, depois ele passa a crítica para os comissários, governadores...

J. L. G. – Sim, Norton de Matos e depois o Rego Chaves. São dois alvos muito importantes.

G. – É curioso ver essa evolução pois, no fundo, a crítica e a denúncia que faz, atravessa os vários extratos sociais e dá uma visão alargada da realidade da altura.

J. L. G. – É uma visão desde, digamos assim, os dirigentes, através de atitudes racistas que existem muitas vezes noutros colunistas de jornais e até também algumas atitudes preconceituosas que uma parte da população pode ter, como o caso do Anastácio, digamos assim. Era preciso ter bastante coragem para atacar... É claro, ele era jovem e temerário mas... está a imaginar: em 1926, vem a ditadura militar, a seguir é estabelecido o Estado Novo e este jovem com vinte e sete anos já tinha família e filhos, vai ter diante de si umas décadas de ditadura muito sérias.

G. – Tanto que ele chegou a interromper a escrita, correto?

J. L. G. – Ele sai depois do anarquismo. O anarquismo é muito destroçado. No quadro da ditadura militar as máquinas d’A Batalha são destruídas, os militantes e jornalistas são perseguidos. Mais tarde, eles vão ser enviados para o Tarrafal, para um campo de concentração nas ilhas de Cabo Verde. Vários são mortos, outros são perseguidos e ele era uma pessoa muito conhecida, negro e ele é obrigado a abandonar este tipo de combate político que tinha feito e dedica-se a um jornalismo de causas sociais. Vestia dois ou três trapos e passava por vagabundo e por pedinte, deixava-se prender e depois fazia reportagens sobre o que se passava nas prisões, fazia reportagens sobre o que era ser pedinte em Lisboa, o que era ser pobre, etc.

Mas, voltando ao que tinha dito, ele, realmente, critica asperamente os governadores em particular de Angola. O Norton de Matos e o Rego Chaves. Repare: o que se passava é que os governadores, nessa altura, tinham uma política de fixação das populações dos territórios e da organização do mundo do trabalho de uma forma consentânea com imposições que vinham da Conferência de Berlim. Portanto, tinham de desarticular todo o mundo rural e todo o mundo tradicional das populações indígenas e conduzi-las ao trabalho, que geralmente era um trabalho forçado. E quem resistisse era, evidentemente, perseguido, morto, alvo de represálias e de brutalidade.

É um período muito terrível neste processo de alteração violenta, drástica, rápida da vida tradicional daquelas populações, para as adaptar a um mundo mais urbano, mais industrial, o mundo do trabalho de tipo ocidental, para trabalhar em plantações coloniais, etc. Esta mudança foi feita com enorme violência, com ausência de direitos por parte destas populações. Se quer um paralelismo, em parte isto é o que se passa hoje em dia, por exemplo, na Amazónia, ou seja, a destruição dos habitats da população indígena, a destruição das suas formas tradicionais de viver, violência sobre os seus costumes e sobre a sua cultura, incompreensão da diferença cultural, considerando-os também inferiores.

De alguma maneira, este processo é o processo que ainda existe nalgumas partes do mundo. E já agora foi o processo que aconteceu na Europa, no mundo rural e camponês dos finais do século XVIII e nos princípios do século XIX. Também os camponeses e o mundo rural foram como que obrigados, conduzidos a emigrarem para as cidades para trabalhar em fábricas do quadro da Revolução Industrial. Foi também um processo muito violento.

Portanto, o que o Mário Domingues está sistematicamente a combater são estes processos de violência levados a cabo por esses governadores.

O caso do Norton Matos é um caso extremamente importante porque o Norton de Matos era um republicano muito importante, um homem também do mundo militar, de grande importância. É um maçom e vai ser até um protagonista da oposição ao Estado Novo. O Mário Domingues, ao criticar asperamente o Norton de Matos, está a “comprar” uma guerra, está a ver-se colocado num conflito que vai ser, não só com os líderes republicanos e depois com os líderes autoritários do Estado Novo, mas com a própria oposição do que vai acontecer devido ao Estado Novo. E isto tudo quando tinha 23, 24 anos...

G. – Na última parte, dedicada ao pan-africanismo, a crítica desvia-se muito para a parte cultural, para o mundo das artes e para a forma como começavam a surgir artistas negros proeminentes noutras partes do mundo e como, em Portugal, isso não era valorizado ou...

J. L. G. – Não, não era valorizado, nem nos outros países do mundo. Não era muito valorizado. Talvez outros [países] estivessem um pouco mais à frente, mas precisamente o que ele o que faz...

Há aqui uma dupla questão: por um lado, o Mário Domingues é alguém que está a referir-se e ao mesmo tempo é um expoente da modernidade negra. Portanto, ele é um expoente e, simultaneamente, um divulgador da modernidade negra. Ou seja, aquelas tendências que vão aparecer nesta altura, no mundo musical, no mundo da dança, no mundo da poesia e da literatura, são formas modernas da própria negritude cultural.

G. – No fundo, ele queria mostrar que os negros também tinham relevância no mundo artístico.

J. L. G. – Isso é a segunda questão. A primeira é que ele é um expoente deste processo, um divulgador disto. Ele é um expoente porque também é um novelista, também é um jornalista etc. E divulga os outros: o René Maran, Josephine Baker, Louis Douglas, Florence Mills e já agora podíamos continuar: o Louis Armstrong no jazz, e por aí fora. Mas, por outro lado, o que ele quer é precisamente mostrar que estas formas de literatura, de música, enfim de arte e de cultura negra indicam que os negros e a condição negra é igual a toda a condição humana. São capazes dos objetos culturais mais sublimes, como os brancos ou como os amarelos ou como os vermelhos (para falarmos como ele falava também). E, já agora as mulheres, porque ele defendia precisamente as mulheres também.

Por mais incrível que nos pareça no princípio do século XXI e à sua geração, a verdade é que se pensava que as mulheres e os negros e outras populações não eram capazes de ser expoentes da cultura, da literatura, da música, etc. Quando, na verdade, o que estava era vedado o acesso a essas práticas. No caso das mulheres nós sabemos isso perfeitamente e no caso dos negros também. O que estava era vedado às mulheres ou aos negros irem à escola, praticarem música ou, quando praticavam, era escondido. Muitas vezes as mulheres até adotavam pseudónimos masculinos, como sabemos.

G. – Ele refere muitos nomes internacionais para mostrar que isso em Portugal ainda é uma falha. Depois, na última crónica – cujo título é “Como Gualdino Gomes demonstrou que Eça de Queirós fez uma literatura colonial” – é também referido que o Eça de Queirós tinha uma noção que o nosso pensamento português, em relação ao estrangeiro, é quase como um pensamento de colónia relativamente a outros países da Europa porque...

J. L. G. – Nem mais. Captou exatamente a questão. É isso. O que há aí é uma grande ironia. Éramos colonialistas que, afinal, tinham uma mentalidade de colonizado. É isto que ele está a dizer, e o Eça de Queiroz percebeu isso muito bem, porque precisamente vivia no estrangeiro. E ele coloca isso na boca do Gualdino Gomes, que era o diretor da Biblioteca Nacional na altura.

G. – Esse pensamento ainda existe, de certa forma? Nós, enquanto portugueses, continuamos a olhar muito para o que se passa lá fora como melhor do que aquilo que é feito cá?          

J. L. G. – Creio que sim e estou de acordo. E não é só você a dizer isso ou eu. Creio que vários vultos das artes o têm dito. Por exemplo, o Fernando Pessoa dizia isso claramente: nós tendemos a ter, no fundo, um pensamento provinciano ou se quisermos, um pensamento próprio do colonizado. Em várias matérias se verifica isso.

Por um lado, tendemos a enaltecer tudo o que vem de fora. Em segundo lugar, tendemos a apreciar muitas vezes os nossos conterrâneos só quando triunfam lá fora. Em terceiro lugar parece que temos uma ansiedade muito grande de mostrarmos que somos tão bons como os outros. Quem tem essa ansiedade é porque, realmente, tem um complexo de inferioridade face aos outros. Em vários domínios, nós percebemos isso.

Finalmente, também pelo facto de que, geralmente, importamos e damos atenção a tudo o que vem de fora e muitas vezes temos muita desatenção em relação à nossa própria produção artística, cultural, etc. É ouvir o que se passa na programação radiofónica ou mesmo na programação das televisões, onde nós verificamos que o espaço musical por exemplo, para os artistas e para a língua portuguesa é muito rarefeito, muito residual face à música anglo-saxónica. E nem há espaço, muitas vezes, para a música, por exemplo, francófona ou espanhola ou italiana. Não há mais nada do que a música anglo-saxónica. De facto, esse último texto tem algo que permanece ainda hoje. A história tem sempre uma respiração lenta.

G. – Considera que este livro também sendo publicado nesta fase – em que nós vemos movimentos de questionamento dos símbolos históricos, das estátuas, etc., e, por outro lado, vemos também os movimentos extremistas, que fazem ressurgir o racismo – pode ser também um instrumento que permite interpretar este tipo de fenómenos?

J. L. G. Sim. Eu procuro que, neste livro, os portugueses – e já agora também os descendentes de africanos em Portugal e também os autóctones dos Países de Língua Portuguesa – tenham memória histórica do movimento negro, desta personalidade e destes escritos do Mário Domingues. Essa memória histórica é extremamente importante por um lado, para termos uma relação feita de verdade com a história, em que nós tenhamos em consideração todos os elementos, sem negligenciar aqueles que são mais, digamos assim, difíceis de conhecer. Isto é em primeiro lugar. Em segundo lugar, resgata, ainda neste enquadramento histórico, a memória dos que são mais oprimidos dos que se situam em condições de grandes dificuldades na sociedade. Muitas vezes a história não os reporta. A história não lhes dá protagonismo. E desse ponto de vista eu também pretendo que este livro reponha, no fundo, no primeiro plano estes movimentos e estas dinâmicas.

G. – Até porque Mário Domingues, tendo uma atividade tão diversa, a nível jornalístico, literário, cultural, é um nome que não é ainda muito conhecido.

J. L. G. – É um nome muito negligenciado e não só o Mário Domingues mas também todo aquele período da Lisboa negra e de movimentos negros dos anos 20, que tinha muitas personalidades negras muito importantes: advogados, médicos, jornalistas, organizações políticas, etc. Precisamente tudo isso está na negligência. Tudo isso é algo que nós não estudamos na nossa História de Portugal. Nós não estudamos nas nossas escolas. É um assunto muito importante.

Repare que os próprios norte-americanos, apesar de todos os problemas que existem lá e conflitos raciais terríveis, eles têm por exemplo, agora no mês de fevereiro, o mês da história negra que é uma comemoração anual que está reconhecida oficialmente por vários governos como nos Estados Unidos, no Canadá nos Países Baixos e no Reino Unido. Em Portugal, não há nada disso. Em Portugal, não há nenhum mês da história negra.

G. – A nossa visão do colonialismo continua a ser a visão externa.

J. L. G. – A nossa visão do colonialismo é bastante abstrata. Não temos em consideração a herança africana que temos no nosso país, mas também muitos portugueses não têm a mínima ideia que, na sua herança cultural, têm raízes africanas muito importantes e também na sua própria herança genética. Os descendentes atuais de Mário Domingues são mais brancos do que eu, entende? Muitos brancos, porventura alguns racistas, não têm a mais mínima ideia que, se fizessem uma análise genética, tinham sangue “negro” (para falarmos desta maneira). O fenómeno no nosso país é que a maioria branca absorve a minoria negra e depois as pessoas ficam “esbranquiçadas”. E os portugueses não têm ideia disso, não têm ideia que, muitas vezes os seus cabelos encaracolados já foram “carapinhas”. Eu conheço vários casos desses, inclusive em partes da minha família. [...] As pessoas não se interrogam sobre estas questões.

Não há um mês, digamos assim, da História Negra, não há uma semana da história negra. Não se estudam as figuras negras na nossa história. Isso é muito grave porque, apesar de hoje em dia nós vivermos numa situação em que as normas e as leis vigentes são contrárias ao preconceito racial e à hierarquização dos grupos humanos, a verdade é que a interiorização dos valores igualitários, universalista e a erradicação do preconceito e da discriminação racista exige muito mais do que a existência de leis. Exige uma compreensão da nossa história, uma compreensão profunda no plano cultural e psicológico do que é que isto tudo significa. E uma democracia nunca é sólida se os seus fundamentos continuarem a ser discriminatórios ou racistas ou não igualitários.

G. – Isso até uma das coisas que refere no seu ensaio inicial.

J. L. G. – É exatamente isso e depois no final. É por isso que quando eu faço os meus agradecimentos eu também digo que pretendo, acima de tudo, que o livro contribua para que haja um melhor convívio e uma maior igualdade entre toda a gente. Branco, negro, amarelo ou vermelho, como dizia o Mário Domingues.

Fotografias cedidas por José Luís Garcia

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