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Learning to learn

Nas Gargantas Soltas de hoje, Margarida Freitas fala-nos da necessidade do tempo para reflexão.

Opinião de Margarida Freitas | Youth Cluster

©Rita Almeida

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A vida acontece: novas oportunidades, novos problemas e novas soluções. Vivemos sem parar e chegamos ao fim de ciclos na nossa vida sem tempo para reflectir sobre a nossa experiência e definir os próximos objectivos. Depois de acabar um projecto tendemos a sentir que temos que procurar incansavelmente o próximo. Empregos, estudos, voluntariado e hobbies. Tudo a acontecer em paralelo. Se por um lado cada vez mais podemos ter experiências fora do comum no nosso CV, por outro, é necessário que estas venham acompanhados de uma boa justificação: “um ano sabático para encontrar a nossa vocação”, “uma viagem com a mochila às costas para fomentar o desprendimento de bens materiais”, "formações e intercâmbios internacionais para desenvolver novas competências-chave”, “voluntariado internacional para promover a nossa multiculturalidade”. A lista não acaba. 

Tendemos a ter muitas experiências, muitos certificados, um CV e uma agenda que reflectem falta de tempo para respirar, para reflectirmos sobre nós e sobre o mundo à nossa volta. Não temos tempo para perceber quem somos e como as nossas experiências impactam a nossa vida. Não sabemos bem como desenvolvemos novas competências e como podemos definir novos objectivos.

Sentimos constantemente que o importante é escolher oportunidades e projectos alinhados com os objectivos profissionais. Estamos totalmente formatados para listar competências que adquirimos nesta correria da vida, mas que estão desprovidas de uma reflexão profunda: criatividade, comunicação, autonomia, trabalho em equipa, problem-solving, leadership. Se numa candidatura ou entrevista nos pedem um exemplo de como desenvolvemos determinada competência ou quando a colocamos em prática recentemente, já temos todo um discurso ensaiado. Um discurso eloquente, mas pouco reflexivo das nossas experiências e de quem somos.

Somos todos tão diferentes enquanto pessoas, na forma como nos relacionamos com os outros e na forma como experienciamos. Vivemos condicionados pelas nossas experiências e por quem somos e, ainda assim, os certificados que recebemos de cursos superiores, cursos online, workshops ou seminários são iguais para todas as pessoas. Um certificado centrado na nossa participação e em algumas competências estandardizadas. Mais um certificado para adicionar aos restantes que se acumulam no nosso email e na nossa secretária.

Desde que somos crianças a reflexão sobre a nossa diversidade é posta de lado por uma suposta justiça. No final de cada período lectivo lá vinham as típicas fichas de auto-avaliação. Um processo que, na sua teoria, fazia todo o sentido para reflectirmos sobre o nosso desempenho, mas na prática a nossa reflexão contava para 10% da nota que era dedicada ao comportamento e, a restante, já estava totalmente definida pelas classificações que tínhamos tido em testes, fichas e trabalhos.

Este processo acaba transposto para a nossa vida. No momento em que começamos a trabalhar o foco centra-se novamente em desempenho e resultados que pesam mais na nossa vida e auto-estima do que tudo o resto que fazemos com os nossos dias. Não temos espaço para falhar ou ter dias maus. Não temos espaço para reflectir, mudar de tarefas ou definir novos objectivos. O tempo nunca parece suficiente. 

Na última vez que me perguntaram “what are you good at?” não estava numa entrevista de emprego e, por isso, o discurso pré-fabricado e praticado vezes e vezes sem conta não estava na minha mente. Congelei. Na verdade, não consegui listar nada nesse momento. Não me lembro da última vez que tive tempo para reflectir realmente sobre as minhas competências. Sinto que faço muitas coisas e não paro. É essa a sociedade em que vivemos. Queremos mais mais mais e andamos sempre sem espaço na agenda, mas até que ponto é que toda essa ocupação nos define e impacta realmente? 

Esta situação foi um alerta para mim. Entrei em contacto com o mundo da educação não-formal através da participação em intercâmbios, formações e projectos de voluntariado e, foi nessas experiências que contactei com o Youthpass, um certificado de competências centrado em cada pessoa e na importância de aprender a aprender - learning to learn. Através de várias sessões de reflexão conseguia colocar cada vez mais ênfase na importância de reflectir individualmente e em grupo sobre cada dia e cada experiência. Nestes contextos havia sempre espaço para colocar aprendizagens e competências em palavras e transferi-las conscientemente para as nossas vidas. Em 2013 o Youthpass Impact Study13 concluiu que o valor do Youthpass centrava-se nisso mesmo: no facto de cada participante ter tempo e ser guiado a reflectir sobre as suas aprendizagens.  

Mas, na vida normal, encontramos espaço e tempo para isso? Precisamos urgentemente de colocar ênfase na importância de reflectir sobre cada experiência para que possamos compreender o seu valor educacional, definir objectivos e tornar as aprendizagens visíveis para nós e não apenas para os outros. Precisamos de mais tempo.

-Sobre a Margarida Freitas-

Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais, queria mudar o mundo pela diplomacia, mas depressa percebeu que o seu caminho era junto das pessoas a fazer voluntariado nos mais variados contextos, logo adoptou o lema do ano sabático para a sua vida e já andou um bocadinho pelo mundo. Com um desejo de trabalhar em intervenção humanitária, mas com um grande cepticismo sobre as práticas das grandes organizações no Sul Global está a concluir o Mestrado em Estudos de Desenvolvimento no ISCTE. 
Em 2020, juntou 9 amigos e fundou a Associação Youth Cluster com o objetivo de dar as mesmas oportunidades que já teve a outras pessoas jovens residentes em Portugal. Através do seu trabalho na Youth Cluster e, em cooperação com outras organizações, tem reivindicado por igualdade de oportunidades e melhores políticas para a juventude. 
Nos tempos livres adora googlar sobre coisas improváveis.

Texto de Margarida Freitas
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

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