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Lugares do humano para a humanidade

Neste tempo sem distância entre o acontecimento e a notícia, a informação chega-nos “em bruto”,…

Opinião de Sara Barriga Brighenti

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Neste tempo sem distância entre o acontecimento e a notícia, a informação chega-nos “em bruto”, despolida, entra sem permissão, é produzida, é consumida, mas não é suficiente para gerar crítica ou criatividade. O contexto onde o muito é pouco serve para distrair mais do que para informar. Por isso, creio que um dos maiores desafios das instituições com responsabilidade perante os públicos é o de capacitar os cidadãos para pensar, para interpretar e criar, gerando oportunidades de participação muito além da fruição passiva. Urge diversificar projetos que incluam práticas colaborativas, que sejam inovadores na forma como comunicam o conhecimento e como envolvem as pessoas, combatendo a indiferença e a apatia, humanizando conteúdos e relações.

Nas instituições culturais, promover atividades de cocriação com os públicos é um ato de democracia cultural, é um ato político, no sentido geral e estrito da palavra, é uma ação que emancipa (não instrui), e que pressupõe o envolvimento direto dos indivíduos num compromisso de cidadania, que não “serve”, “troca”; não “oferece para...”, “constrói com”.  Esta forma de relação requer a inclusão de vários pontos de vista que, em conjunto, podem definir novas missões para as instituições mais alinhadas com a sociedade e o papel que desejam ocupar no espaço público, com vista a um futuro derelações fluentes e autênticas.

As cinzas

Das instituições públicas, as que guardam memórias e património apresentam palimpsestos e histórias tão antigas que são novas; o passado, o presente e o futuro condensados em matéria e ideias. O intrincado do que fomos e seremos pode nelas ser percebido através dos sentidos e da razão. Aí, mais do que conhecimentos e epifanias, descobrimos quem somos, além da escala humana, na escala da humanidade.

No Sermão de quarta-feira de cinza, em Roma, em 1672, Padre António Vieira pregou:

“se quereis ver o futuro, lede as histórias e olhai para o passado; se quereis ver o passado, lede as profecias, e olhai para o futuro. E quem quiser ver o presente para onde há-de olhar? Não o disse Salomão, mas eu o direi. Digo que olhe justamente para um e para outro espelho. Olhais para o passado e para o futuro e vereis presente. Se no passado se vê o futuro, e no futuro se vê o passado, segue-se que no passado e no futuro se vê presente, porque o presente é o futuro do passado e o mesmo presente é o passado do futuro”.

Ora, para ativar a consciênciado que fomos e seremos, e a relevância da arte e da cultura na vida presente, e para que estas manifestações possam verdadeiramente servir de caixa de ressonância do mundo global, é essencial que as instituições culturais decidam e atuem a partir do lugar de outros, e não do seu lugar de poder. Sobretudo, não podem assumir-se como no passado: lugares de silêncio, mas como lugares de ação e de representatividade.

As instituições culturais são espaços de confronto que nos ampliam porque amplificam conteúdos, atribuindo “vozes” às manifestações simbólicas. Apresentam o mundo a partir da pluralidade que o caracteriza e da liberdade que representam. Esses lugares da cultura e das artes permitem imaginar, sair de si e projetar-se no outro, sem preconceito, mas em consciência da possibilidade de “ser outro”, e de daí nascer novo. Esta dimensão libertadora da arte e da criação faz-nos falta. Humaniza-nos.

Nesta semana que passou, a transitoriedade da vida é lembrada através do símbolo das cinzas, na mancha em cruz deixada na testa do crente e que se mantém até ao pôr do sol. Penso neste ritual litúrgico, na quarta feira de cinzas, como um momento inicial para afirmar onde queremos chegar e o que temos que fazer para preparar esse caminho.

– Sobre Sara Barriga Brighenti –

Museóloga, formadora e programadora nas áreas da educação e mediação cultural. É subcomissária do Plano Nacional das Artes, uma iniciativa conjunta do Ministério da Cultura e do Ministério da Educação. Coordenou o Museu do Dinheiro do Banco de Portugal e geriu o programa de instalação deste museu. Colaborou na elaboração de planos de ação educativa para instituições culturais. É autora de publicações nas áreas da educação e mediação cultural.

Texto de Sara Barriga Brighenti
Fotografia de Ana Carvalho

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