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Luís Alcatrão (Iminente): “Queremos proporcionar diálogos entre pessoas que vêm de realidades diferentes”

Entre os dias 9 e 19 de setembro, o Panorâmico de Monsanto vai tornar-se numa…

Texto de Carolina Franco

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Entre os dias 9 e 19 de setembro, o Panorâmico de Monsanto vai tornar-se numa Oficina Iminente. Numa altura em que se pede para nos afastarmos, o Iminente decidiu aproximar — cumprindo as regras e repensando o conceito de “aproximação”. Se nas edições anteriores o panorâmico se enchia de pessoas para, durante três dias, ver e ouvir uma série de concertos, conversas, battles e criações artísticas, este ano o foco está na proximidade com os artistas. Como? Partilhando com eles o processo criativo, como se de uma residência artística se tratasse.

Chullage, Wasted Rita, MaisMenos, Os Espacialistas, Inês Tartaruga Água, Piny (Orchidaceae) e Trypas Corassão vão estar próximos mantendo o distanciamento necessário. A proximidade cria-se na partilha. Nas pausas dos seus workshops há concertos, conversas e outros artistas a criar no espaço.

O Gerador conversou com Luís Alcatrão, diretor do festival, para perceber o que mudou, o que se pode esperar e o que sobressai este ano. Nesta “aposta num regresso a uma vida minimamente normal”, sobressaem os assuntos urgentes que sempre estiveram lá, mas que, mais do que nunca, têm de passar  da margem para o centro.

Gerador (G.) - Antes de mais, tenho de começar por te perguntar como é que se toma a decisão de passar do Iminente para a Oficina Iminente. Apesar do tempo pedir para as pessoas se afastarem, na verdade, vocês estão a criar proximidade que, se calhar, não teriam no festival normal, com esta ideia dos workshops
Luís Alcatrão (L.A.) - Bem, como passamos do Iminente como o conhecemos para a Oficina, é claro: por causa da pandemia, porque as restrições não nos permitiam fazer o festival acontecer como antes. A ideia da Oficina é quase uma aposta num regresso a uma vida minimamente normal, em que trazemos o público para junto dos artistas.  Nós sempre tivemos uma intimidade grande entre artistas e público, que é característica do Iminente e que é possível por ser um festival de média dimensão, e o público sempre percebeu que os artistas estão muito perto da organização e as equipas misturam-se facilmente. Quisemos levar isso um bocadinho mais além trazendo o público para um processo que normalmente não se vê, o processo de montagem do festival todo no Panorâmico de Monsanto — através dos workshops, mas também acompanhando o processo de montagem das peças dos artistas com curadoria Underdogs, que vão ficar cá no Panorâmico, e, ao mesmo tempo, tudo o que de resto se vai passar ao longo destes dez dias de Oficina Iminente, vai ser possível de acompanhar por quem cá estiver. 

G. - E continuam a ter concertos, talks, arte pública. Na verdade, o ADN do Iminente acaba por estar lá na mesma. 
L.A. - Sem dúvida. E mesmo esta parte dos workshops sempre esteve, de alguma forma, presente. A diferença este ano é que esse é o maior foco, em vez de ser naqueles 3três dias de concertos. O foco, este ano, é mesmo o processo criativo, de experimentação, e de algumas pessoas poderem partilhar o processo criativo com os artistas dentro da área que lhes interessar mais. O objetivo disto tudo estar a acontecer no mesmo espaço, primeiro é aproveitar esse mesmo espaço, que é incrível, e depois, como são todos de áreas diferentes, que as pessoas se conheçam entre si nos intervalos, nos dias em que não há Oficina, mas podem vir aqui passear (quem tem inscrição para os workshops), e aproveitar estas sinergias e estes diálogos. No fundo, aproveitar estes 10 dias, com um culminar nas conversas, que também estão todas relacionadas com os temas que vão ser trabalhados nos workshops, criando diálogos entre todos os momentos de programação.

G. - E a localização acaba por funcionar bem, para que se consigam seguir as regras de higiene, segurança e distanciamento decretadas pela Direção Geral de Saúde.  
L.A. - A localização continua a ser o ponto de partida para tudo o que fazemos. Mesmo os convites que fizemos aos artistas que estão connosco nas Oficinas, o ponto de partida é esse: vamos ocupar o Panorâmico de Monsanto, quase em formato de residência, e é daí que virão os temas que eles vão trabalhar nas suas oficinas — umas mais diretamente e em relação com a arquitetura do que outras. O objetivo é mesmo ocupar este espaço durante 10 dias, deixarmo-nos absorver por ele e permitir que o processo criativo também o seja. É um lugar que está um bocado fora da cidade, num ponto alto, num parque florestal, e isso acredito que seja diferente de estar numa escola ou noutro sítio no meio da cidade. Mesmo nos intervalos não podes sair do espaço. Apesar de não ser uma residência per si, a partir do momento em que entras, estás sempre no mesmo espaço e não há outros fatores de influência ou distração. Não podes sair e ir ao café da esquina, ir almoçar a outro sítio; estás aqui o dia todo em convívio com todos os artistas, com todas as pessoas do teu workshop e com a equipa toda. Queremos criar este ambiente de residência artística e é esse o motivo de termos este período alargado de oficinas.

G. - E falavas há pouco das talks, que na verdade têm um caráter muito político. Interessa-vos convocar sempre esta reflexão que puxe pelo underground também nos temas das conversas? Levar temas que normalmente não estão no centro, para o centro da sala. 
L.A. - A ideia, e isso sempre foi uma característica do Iminente, é dar uma plataforma de visibilidade e de oportunidade a muitos tipos de arte, a muitos artistas e a muitos temas que normalmente não o têm, e as conversas normalmente são o reflexo disso e da nossa sensação de, depois de seis meses de covid-19, parecer que não se fala de outra coisa e o resto dos assuntos perderam a importância; mas, do nosso ponto de vista, não é assim, continuam (ou são ainda mais) urgentes. Foi por isso que escolhemos os temas que escolhemos e as pessoas que estamos a convidar, porque são pessoas que têm de fazer a sua voz ser ouvida, e os temas que queremos tratar têm de continuar na ordem do dia, apesar de haver uma pandemia.

G. - Essa ideia de trazer a margem para o centro, este ano, também se reflete no sistema de bolsas que vocês criaram. Como é que funciona e como perceberam que seria importante existirem?
L.A. - Nós tínhamos três bolsas para atribuir para cada workshop e era através de um formulário de inscrição, muito simples, que foi criado entre nós e o artista de cada workshop com umas perguntas mais gerais e outras mais específicas. Depois, foi feita uma avaliação das respostas e foram escolhidas as pessoas com quem a organização e os artistas se identificavam mais para participar. No ano passado, tivemos 5cinco mil pessoas por dia, este ano cada workshop leva no máximo 15 pessoas, e não quisemos que todos esses lugares fossem mediante bilhete pago, então decidimos abrir as bolsas. Não conseguíamos fazê-lo de outra forma, porque o Iminente sempre foi um festival bastante acessível, com um preço relativamente baixo, e as bolsas foram a forma que encontramos de continuar com essa acessibilidade.

G. - Além dos artistas da Underdogs, que têm sempre uma presença vincada no festival, como é que escolheram os artistas para os concertos - tendo em conta que só terão quatro
L.A. - A seleção musical tem sempre a curadoria do Vhils. Mas sendo uma altura difícil para toda a gente que trabalha na cultura, nos espetáculos, na música, quem tinha menos concertos, terá ainda menos. Por isso, além de termos essa realidade em conta, pensámos em artistas próximos da nossa linguagem, que achámos que iam criar uma boa relação com o resto da programação.

G. - E esperam que o Iminente também possa assumir um espaço para públicos que não se revêem noutras estruturas ditas mais clássicas, e que nem sempre contemplam o underground
L.A. - Não acho que substitua esses espaços, mas sem dúvida que o Iminente tem vindo, ao longo dos últimos anos, a criar espaços para essas subculturas e para outros agentes de arte. Mas tem havido, por parte de outras plataformas artísticas ou instituições, um aproximar ao underground cada vez mais evidente. O Iminente sempre se guiou por essa linha de dar plataforma e dar espaço a outros tipos de arte que não a têm noutros lugares, mas não como “vamos agarrar este espaço só para nós”. A missão vai além disso: ao darmos este espaço, todos os outros à nossa volta vão perceber que há muito valor que pode ser aproveitado e os intercâmbios entre diferentes plataformas e diferentes tipos de arte fazem surgir as coisas mais iminentes. E a nossa programação, este ano, também é reflexo disso, temos muitas áreas diferentes dentro das oficinas, que vão ser exploradas, e ao estarmos a juntar no mesmo espaço essas pessoas, como dizia há pouco, queremos mesmo proporcionar diálogo entre pessoas que vêm de realidades diferentes, mas que certamente terão muito em comum.

Texto de Carolina Franco
Fotografia de Vera Marmelo
O Gerador é parceiro do Iminente

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