Luís Trigacheiro tem o Alentejo na voz e no coração. Natural de Beja, o jovem cantor de 23 anos diz que a cidade e a região estão enraizados na sua personalidade e que provavelmente será sempre assim. “É minha intenção fazer com que o cante [alentejano] esteja sempre presente no meu percurso”, diz, em entrevista, ao Gerador. “Será sempre uma coisa genuína da minha parte e não uma obrigação, por assim dizer, porque faz parte daquilo que sou e, por isso, inconscientemente vai estar sempre presente”, acrescenta.
O seu novo single, Meu Nome É Saudade, marca o lançamento do primeiro álbum em nome próprio e já está disponível nas plataformas digitais.
Escrito por João Direitinho, Syro, Eduardo Espinho, Bruno Chaveiro e José Ganchinho, Meu Nome é Saudade é também “uma espécie de cartão de visita” de Trigacheiro e do seu Alentejo. A canção aparece “como uma fotografia em que se eternizam os vazios que se criam entre nós”, segundo informação divulgada pela Universal Music Portugal, que o representa enquanto editora, management e agenciamento.
A canção tem a participação de um coro de cante alentejano, elemento que não estava previsto aquando da composição, mas que irá “dar outra força à música”, de acordo com o cantor. “Este novo single passa muito por uma amizade, porque foi daí que surgiu. É escrito e composto por amigos meus e só por isso tem alguma importância”, diz Luís Trigacheiro.
O cantor, que ficou célebre após entrar no concurso televisivo The Voice, diz que a sua participação aconteceu “por acaso” e que não esperava que acabasse por resultar em vitória.
Antes do concurso, seguir a música numa perspetiva profissional “talvez fosse uma possibilidade mais distante”, para Luís Trigacheiro. “Nunca estive à espera, sequer, deste momento que estou a viver agora. A música sempre esteve presente na minha vida, mas mais num contexto de diversão e de cantar porque gosto de cantar, do que talvez ser uma vocação minha, mas agora a realidade é outra e vamos ver o que acontece daqui para a frente”, explica ao Gerador.
Por agora, Luís Trigacheiro afirma que deixou o curso de Agronomia para aproveitar um dos prémios que o programa lhe deu: um curso superior de Jazz e Música Moderna, na Universidade Lusíada de Lisboa onde espera aprender o máximo possível. “Sou uma pessoa muito ambiciosa. As ambições que tenho são sempre as melhores, são sempre conseguir alcançar os meus objetivos, fazer por isso e chegar o mais longe possível e mostrar tudo aquilo que sou e todas as envolvências que tenho”, explica o jovem cantor que não exclui a possibilidade de terminar a licenciatura em agronomia numa fase posterior.
Apesar de ser reconhecido pelo público pela sua ligação ao cante alentejano, o jovem artista diz não se considerar um cantor específico deste género musical. “Tenho outras referências, outros géneros de música que consumo e que oiço que talvez me visse a cantar ou a implementar essas referências no meu género de música e até criar algo novo. Não sei...eu acho que vou fazer fusões de várias coisas”, explica destacando o jazz, pop e fado como algumas possibilidades futuras.
O facto de se ter tornado num “embaixador” do Alentejo não será, por isso, um impedimento para experimentar outros rumos. “As imagens que se criam também se alteram, portanto, se daqui a uns tempos começar a dar ao público outro género de música que possam consumir e que que gostem, acho que essa imagem vai deixar de existir, pelo menos assim. Vai deixar de estar tão entranhada, talvez”, explica.
Admite, no entanto, que a sua herança cultural estará sempre presente no seu trabalho, por ser algo “inevitável” e sempre presente em quem nasce naquela região. Ali sempre foi frequente cantar modas em reuniões e convívios. “A alegria do momento proporcionava-se para se cantarem modas alentejanas e cantava-se e pronto. E hoje em dia acontece ainda imenso. É uma realidade presente cá em baixo, no Alentejo”, diz Luís Trigacheiro que afirma que cada vez mais as novas gerações querem honrar esse património imaterial.
O destaque que a sua prestação no The Voice trouxe ao cante alentejano é, para Luís Trigacheiro, um dos pontos positivos do reconhecimento que obteve. Para o jovem este tipo de programas pode até desempenhar um maior papel enquanto veículo dinamizador de elementos da cultura popular, porque "têm bastantes audiências e, de todas as pessoas que vêm, há sempre alguma que não conhece e passa a conhecer uma realidade que existe há anos mas que não está tão presente, ou seja, que não tem assim um acesso tão facilitado”, afirma o cantor que diz ainda que um dos seus sonhos passa por “levar a nossa portugalidade além fronteiras”.
Para breve estão alguns concertos pelo país, que envolvem a colaboração com artistas de renome e que deixam no ar a expetativa. "Espero estar à altura do desafio", acrescenta.