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Made in Chelas

-“És de onde? – Sou de Chelas” Creio que “Sou de Chelas” é das frases…

Texto de Redação

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-“És de onde?

- Sou de Chelas”

Creio que “Sou de Chelas” é das frases que mais gosto de dizer na vida. Sou de uma zona que é conhecida a nível nacional e, por força do trabalho que muitos de nós, filhos de Chelas, temos feito, acredito que em Tokyo ou num qualquer bairro de Miami, alguém saiba onde fica Chelas.

De facto, isto é um mix de sensações... porque, por vezes, em determinadas situações, dizer que se era de Chelas podia gerar muitos problemas! Algo que hoje em dia, felizmente, já não se vê. Parece existir uma paz em grande escala para todos os “chelenses”.

Há tempos falei com um grande amigo meu sobre várias pessoas que são de Chelas e os seus percursos, seja a nível académico, como a nível profissional, ou mesmo no âmbito do seu desenvolvimento como indivíduo, o que me fez pensar que, o facto de estarmos praticamente no centro da cidade, é uma grande ajuda e avanço.

Vejo ainda que, para algumas pessoas de fora, Chelas é visto como um grande bairro, mas nós, por cá, vemos como realmente é: vários bairros sob um só nome, todos com fronteiras invisíveis, mas onde todos se conhecem e todos se dão bem. Aqui, o Sam The Kid é da Zona I, o Varela é da Zona M e o Beto di Ghetto é da Zona J, mas para quem é de fora, nós somos todos Chelas, unidos e misturados.

O orgulho que todos temos em Chelas é algo que ultrapassa gerações. Isso é visível nos grupos de Facebook que juntam a comunidade, onde vemos adultos, pessoas mais velhas e adolescentes a expressar o seu amor por Chelas. Ou até mesmo na forma como o meu filho fala com os seus amigos sobre ter crescido e ter vivido em Chelas. Hoje, apesar de não morar lá, diz a todos que é de Chelas.

Uma coisa que sempre gostei de mostrar e defender, é que ninguém é assaltado quando aqui vem, nem lhe acontece nada de mal. Simplesmente, acontece aquilo que também acontece em qualquer parte do país. Julgo que se assim não fosse, esta zona não seria utilizada para fazer o Rock in Rio, onde se encontra a RTP, onde milhares de crentes da Igreja Universal do Reino de Deus vêm orar todos os dias e onde é feita a lendária Feira do Relógio, que vem desde do meu antigo bairro, o Camboja.

Sinto que, inicialmente, as pessoas entram em Chelas com um certo sentimento de medo e adrenalina, mas depressa acabam por ficar apaixonados e ver que, o povo de Chelas, é diferente. Não sei explicar no quê, exatamente, mas somos diferentes. Tanto é que muitos dos que se dedicam a estudos sociais e análises de indivíduos, ao lidar connosco, dizem-nos: “Desculpa és de Chelas, certo?” ou, “Vi logo que eras de Chelas”.

Sinto-me verdadeiramente especial por ser daqui, não trocava Chelas por nada, mas por um dia, gostaria de estar na pele de outra pessoa que não seja de Chelas, só para saber como é visto um filho de Chelas aos olhos de outra pessoa.

Aqui chegado, vou por fim tocar num assunto que me entristece muito, que se tornou num verdadeiro lavar de uma identidade, o camuflar de uma zona, ou o despir de uma essência, isto, o que estão a tentar fazer com o nome de Chelas. Acho, sim, que se deve tentar mudar o que está mal e, sinceramente, depois de ler e estudar todos os argumentos usados, não consigo perceber onde está o problema do nome Chelas, um nome de que todos nós gostamos e queremos que continue. Honestamente, quando mudaram o nome da minha zona, de Zona M para bairro do Armador, não fiquei muito preocupado, até porque eu e a maior parte das pessoas que lá vivem, continua a dizer Zona M. Lembro-me de dizer Bairro do Armador quando preciso colocar a morada nalgum documento, mas se necessitar de apanhar um táxi digo: Zona M.

Como disse o Sam The Kid sobre este assunto, “... estão a tentar limpar o pó para baixo do tapete”, e não é por aí, claro que não! Vamos deixar o nome e trabalhar com as pessoas daqui, que são únicas, especiais, um pouco como aconteceu com o Harlem, mas sem o escorraçar das pessoas dos seus locais. Queremos que continue tudo igual. Esta é a nossa identidade, mas queremos que as comunidades sejam trabalhadas, acompanhadas, o que, de facto, não acontece. As próprias entidades têm promovido (ainda que indiretamente) uma verdadeira separação, as agendas devem ser outras. Com tudo isto, penso que o amor e respeito pelo nome Chelas só aumentou. Acho que vai ser desta que vou fazer a minha tatuagem... Chelas. Se depender de mim, das minhas plataformas e de todos os meus projetos, este nome estará sempre presente, independentemente do que venha a acontecer no futuro, mas o povo de Chelas é muito forte e unido. Por isso, Chelas vai continuar aqui, firme e sempre presente.

É claro que tudo isto tem que ver com certos interesses, sejam económicos, sejam outros. Da mesma forma que muitos dos residentes de Chelas já hesitaram em dizer que são de Chelas numa entrevista de emprego, ou numa reunião, as imobiliárias devem pensar muito no assunto. Chelas não vende. Com isto então, imagino. Atenção, isto sou eu a imaginar um grande vendedor de casas em Chelas, que até já deve ter vendido algumas coisitas a pensar: “bem, se já vendi dez e há sempre aquela coisa com o nome Chelas, imaginem se o nome fosse outro”... e, como sabemos, quem tem o poder consegue tudo, não é? Acredito que a pressão para esta alteração do nome de Chelas, que é uma ideia completamente ridícula, passe por aí. As pessoas têm o direito de vender as suas casas e qualquer pessoa a pode comprar, como é óbvio, mas não venha para uma zona de Lisboa, com mais de 40 anos de história, tentar mudar o que os locais tanto valorizam — a sua própria identidade, o seu nome!

A cada filho desta zona: peço que digam sempre o nosso nome com orgulho, sem medos e em voz alta! Saibam que as pessoas têm muito respeito pela nossa zona e nome,

VIVA A CHELAS!

-Sobre Nuno Varela-

Nuno Varela, 36 anos, casado, pai de 2 filhos, criou em 2006 a Hip Hop Sou Eu, que é uma das mais antigas e maiores plataformas de divulgação de Hip Hop em Portugal. Da Hip Hop Sou Eu, nasceram projetos como a Liga Knockout, uma das primeiras ligas de batalhas escritas da lusofonia, a We Deep agência de artistas e criação musical e a Associação GURU que está envolvida em vários projetos sociais no desenvolvimento de skills e competências em jovens de zonas carenciadas.Varela é um jovem empreendedor e autodidata, amante da tecnologia e sempre pronto para causas sociais. Destaca sempre 3 ou 4 projetos, mas está envolvido em mais de 10.

Texto de Nuno Varela
Fotografia de Lucas Coelho

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