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Maria Giulia Pinheiro representa Portugal no campeonato mundial de Poesia Falada, em Paris

Desde 2004, realiza-se, em Paris, de 19 a 22 de Maio, a Coupe du Monde…

Texto de Raquel Rodrigues

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Desde 2004, realiza-se, em Paris, de 19 a 22 de Maio, a Coupe du Monde de Poetry Slam, onde um(a) poeta é distinguido/a com título de campeão/ã mundial de poesia falada, num universo de vinte vozes de várias partes do mundo. Neste ano, o campeonato será online e Maria Giulia Pinheiro representará Portugal, com a vastidão da língua, que também vem do Sul, dentro de si.

Em 2019, a poeta atravessou um oceano, partindo do Brasil para encontrar a palavra mais bonita. Essa palavra será a que o pai ficou por dizer. A Esclerose Lateral Amiotrófica, antes de lhe roubar a vida, roubou as palavras, que deixaram, também, de lhe chegar. Maria Giulia cuidou dos três últimos anos de quem a "criou" e, no último ano, foram só os corpos que falaram. A "pessoa da palavra", como se descreve, passou um ano a amar sem elas. O espectáculo A Palavra Mais Bonita partiu daí, desse silêncio que não é vazio, mas possibilidades infinitas, que a fazem louvar cada uma. Nada pode deixar de fora, porque a última palavra do pai estará algures. "Como não sei qual é, tenho que escrever com todas", partilha. Esta procura estreeou em 2019 e aspira chegar a todos os países que falam português, erguendo "um grande documento do inarrável, o grande documento das palavras mais bonitas desse momento histórico". Neste trânsito de palavras, a performance já escutou com o Brasil, Portugal, Moçambique e Espanha. Sim, escutou com, porque parte da plateia, tratando-se de um gesto comunitário. Esta lança palavras, que Giulia recolhe, acolhe e trata com poesia.

A poeta, dramaturga e actriz, vive entre versos. Colabora com diversos eventos, como o poetry slam "Todo o Mundo Slam", a "Ginginha Poética", "uma tertúlia itinerante que mistura poesia e bebidas típicas de cada lugar" e o “Ciranda: Jogo de Palavra Falada”, ao redor de autores já falecidos, do qual é fundadora, e dá aulas de dramatrugia feminina, bem como de poesia falada.

O poetry slam surgiu em 1986, com Marc Smith, poeta norteamerciano. Giulia, reparando na forma como esta arte se foi espalhando pelo mundo, nota a sua força em florescer, enquanto abordagem específica. Por isso, descreve-se como poeta e slammer. No Brasil, conseguia subsistir a partir do seu ofício de "poeta que pensa a palavra falada". Em Portugal, isso não é possível. Contudo, sente que "acontece um movimento muito intenso, em que as pessoas estão a entender que o poetry slammer é um tipo de artista, como um músico" e a sua participação no Festival Iminente, no ano passado, reflecte-o. "Eu gosto muito de usar uma expressão que, para mim, é muito cara: sou uma operária da palavra." Não é voluntariado, é uma profissão. Esta confusão não é exclusiva do público, mas também entre poetas, pois muitos encaram a profissionalização desta arte como uma "vulgarização". "Quando você entende que é a sua profissão, você cuida daquilo com a ferocidade que fazia com um grande amor. Não tem a ver com ser amador, no sentido de você apenas amar, mas de ser profissional, no sentido de fazer aquilo com amor, no entendimento que aquilo é a sua vida. Sempre brinco que a culpa é do Esopo. Aquela historia da cigarra e da formiga, sabe? As pessoas entenderam errado, porque não tem a ver com a cigarra não ter trabalhado durante o Verão inteiro. Ela cantou. Ela também merece o descanso no Inverno."

Giulia ficou em segundo lugar no Campeonato Nacional de Poetry Slam, onde concorrem os/as representantes eleitos em cada uma das organizações autónomas desta expressão artística, segundo o mesmo formato, a apresentação de três poemas autorais de 3 minutos, sem acompanhamento musical, sem figurino, sem objecto cénico. Deste, é apurado/a o/a representante nacional no Campeonato Munidial, no qual o mesmo esquema se mantem, em três fases de selecção. O concorrente que ficou primeiro lugar, não teria disponibilidade para comparecer. Assim, será uma voz feminina e feminista que levará "poemas d' A Palavra Mais Bonita, uns poemas de amor, que nunca cansa, e poemas sobre o imaginário feminista." Em relação a estes últimos diz: "minha forma de abordar esse assunto é falar sobre a opressão do imaginário, de como as opressões estão nos detalhes das coisas que são ditas e nas compreensões".

Uma vez que o Campeonato Mundial de Poetry Slam decorrá em formato online, devido às circunstâncias que atravessamos, novas complexidades surgem para os participantes. Giulia é "uma artista do encontro" e, no lugar do público, terá um ecrã. O tipo de preparação também mudou e, neste momento, concentra-se em "entender o artefacto, a relação com a câmera", através de "encontros virtuais".

O júri é francês. Por isso, disporá de uma tradução em inglês e francês dos poemas. Porém, esta não é feita pelos próprios poetas. "O poetry slam tem muito a ver com a musicalidade, não só com conteúdo, considera que a forma como o poema é dito é muito relevante. Mesmo que não entendam a língua, entendem a forma", que a "operária da palavra" esculpirá com a língua portuguesa, que nunca venceu este concurso, até então.

Aqui podes consultar o programa e, aqui, assistir.

Texto de Raquel Botelho Rodrigues
Fotografia de Luana Cavalcante


 


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