

A edição 39 da Revista Gerador tem, na sua capa, uma ilustração da Mariana Duarte Santos, que, contando com vários murais espalhados pelas ruas do nosso país, nos pareceu ter a paleta certa para dar cor à capa desta edição.
Mariana nasceu em 1995, em Lisboa. Fez o secundário na Escola Secundária Artística António Arroio e, mais tarde, completou o curso de Desenho, o curso avançado em Artes Plásticas e o projeto individual no Ar.Co. Tem participado em várias exposições coletivas e individuais em Portugal, Espanha, Estados Unidos da América, Reino Unido e Irlanda. Em 2019, realizou o seu primeiro mural inserido no projeto Arte Pública, da Fundação EDP e, desde aí, tem participado em festivais como o Conversas na Rua, Fazunchar, VIA e até à data tem murais espalhados por Lisboa, Fundão, Belmonte, Torres Vedras, Praia do Ribatejo, Figueiró dos Vinhos, Coruche, Dublin, Valongo entre outros. O seu trabalho, de natureza figurativa, é centrado maioritariamente na pintura e na gravura e bastante influenciado por áreas artísticas, como o cinema e a literatura.
Após a Mariana ter partilhado connosco o resultado da resposta ao nosso desafio, fomos falar com ela para descobrirmos mais sobre o processo criativo por detrás da ilustração da capa desta Revista.
Gerador (G.) – Foste a autora da ilustração que apresentamos na capa desta edição da Revista Gerador. Podes partilhar connosco o raciocínio e processo criativo que te levaram até esta imagem?
Mariana Duarte Santos (M. D. S.) – Segundo o tema que me foi proposto – a habitação –, quis focar-me principalmente no fator humano e nas histórias que cada um de nós tem, bem como aludir ao problema da habitação nos centros históricos das cidades que está a ficar cada vez mais difícil, se não impossível para as pessoas que lá habitam ou habitaram. Grande parte, entretanto, foi despejada ou não conseguiu acompanhar os preços. Vivi, durante uns anos, mesmo no centro de Lisboa e tive exatamente a mesma situação.
G. – O foco da ilustração que partilhaste connosco são as janelas de um prédio e as histórias que nelas se espelham. O que te levou a aproximar o nosso olhar destas janelas?
M. D. S. – Desde pequena, sempre tive curiosidade sobre a vida e os pensamentos das outras pessoas, muitas vezes observava alguém na rua e tentava imaginar toda a sua vida, as suas preocupações, medos, alegrias, etc. É também, um pouco, isto o que costumo fazer nas minhas pinturas – questionar-me sobre as pessoas e tentar transmitir algo delas para quem as observa, sejam estes sentimentos reais ou imaginários.
G. – Nas várias personagens que encontramos nesta ilustração, encontramos diferentes formas de se habitar um espaço. O que define, para ti, este verbo – habitar?
M. D. S. – Para mim, habitar é sentir-me confortável num espaço e fazê-lo, até certo ponto, uma extensão de mim própria, refletindo aquilo que gosto, as coisas que me pertencem, para o melhor e para o pior, bem como as pessoas mais próximas de mim, que habitam em conjunto comigo, seja permanente ou temporariamente.
G. – Em alguns dos teus murais, despes as paredes dos prédios como que revelando o que poderá existir para além delas. Nesta ilustração, mostras-nos uma fachada que é visível para um transeunte. O que distingue, para ti, estas intimidades – a que está dentro de quatro paredes e a que se revela, um pouco, através das janelas de uma fachada?
M. D. S. – Neste caso, aquilo que o público consegue ver é aquilo que escolhemos revelar – alguns de nós de maneira mais tímida, outros mais despreocupadamente. Aquilo que se esconde é o nosso espaço mais íntimo, guardado no espaço em que habitamos e que pode estar mais ou menos em linha com aquilo que revelamos ao mundo. Também, sempre achei interessantes estes pequenos espaços onde podemos observar as pessoas sem elas saberem necessariamente que estão a ser observadas, revelando, assim, diferentes partes delas próprias.
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