A música de Maria Soromenho, apresentada como Callaz, pseudónimo com o qual assina o seu percurso artístico desde 2017, aprendeu a misturar sons sozinha, dando à sua linguagem musical o barulho de fundo próprio da autonomia.
Callaz conta já com dois LPs e dois EPs, compostos e produzidos em diversos pontos da Europa e Estados Unidos, que têm subido aos palcos de tantas cidades como as que fazem parte da sua geografia afetiva e da história de cada uma das suas obras.
No primeiro EP, “Beer, Dog Shit & Chanel N__°__5” (2017), coleção de cinco faixas produzida por Filipe Paes, estreia-se com um enredo aparentemente solarengo no qual picos de ansiedade, memórias turvas e afetos sobem ao palco sob um filtro retro. Sentem-se ecos do pesar melancólico de Nico e indícios de uma vontade pop experimental a que assistiríamos com The Space Lady.
Depois um ano da sua estreia, Callaz edita o seu segundo EP “Gaslight” (2018), uma produção a cargo de Primeira Dama e Chinaskee, no qual se confirmam as ambições do primeiro EP. Tanto são aprofundados os devaneios e conclusões tirados a partir de experiências na primeira pessoa, como são poetizadas em canções, figuras como Florbela Espanca ou Mary Landon Baker.
Após o lançamento de “Gaslight”, Callaz toca pela primeira vez fora de Portugal, em Los Angeles. É nesta viagem que começa a desenvolver a matéria prima que mais tarde se torna o seu primeiro disco. Inicia um longo processo de experimentação: as músicas são escritas ao longo de vários meses e exploradas ao vivo em vários sítios da Europa.
É nesse panorama que edita o auto-intitulado disco de estreia, “Callaz” (2020). Produzido em Lisboa por Adriano Cintra, agrupa dez temas numa cativante e imaginativa fusão de pop eletrónico e indie rock, com refrões incisivos e canções enraizadas na escuridão dançante a que já nos habituou.
No seu último disco, “Dead Flowers & Cat Piss” (2021), percorre o espectro que liga o pop eletrónico da pista de dança à sonoridade contemplativa de quem compõe sozinha no quarto. Produzido por Helena Fagundes, numa colaboração espontânea durante o confinamento, o disco junta 10 temas que revelam a vontade de experimentação, não só de ritmo e melodia, mas também de constante remodelação do seu processo criativo.
Esta é a lista de 10 músicas de autores portugueses que a cantora partilhou connosco com uma nota que justifica as suas escolhas:
«No meio das diferentes texturas sonoras existe, para mim, um fio condutor entre estas canções na sua essência, vulnerabilidade, honestidade e força. Um sentido de urgência, liberdade, resistência e uma vontade de dançar. No meio da intensidade, da inevitável tragédia e do absurdo, esta lista deixa em mim uma sensação de esperança e de que, apesar de "haver algo muito errado'', "vai tornar-se interessante" porque "cantar uma canção foi o que sempre curou».
usof - “Transmute”
Nídia - “Playboy”
Sónia Trópicos e João Pissarro - “Recreio de Vampiros”
Concha - “Qualquer dia, Quem Diria”
Astrea - “Noémia”
Odete - “Invocação da Lama”
Sheri Vari - “Funkkaotik”
Sequin - “Milvus”
Caroline Lethô - “Good Kiss”
Maria Reis - “Elefante na Sala”
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