Zé Menos é um músico renascido no seu novo álbum o chão do parque. Anteriormente conhecido como Kap, neste registo Zé liberta-se e experimenta uma paleta outonal em que canta e declama a sua identidade, questionando o processo de maturação humana, enquanto observa a queda das folhas da árvore caduca que habita no seu parque. Num trabalho inteiramente criado por si, desde a escrita à produção, a poesia de Zé Menos é acompanhada por instrumentais que se sentem vivos através duma sequenciação cuidada e dum sampling criterioso.
Fica com a sua seleção de 10 músicas, aqui:
José Mário Branco, "Inquietação"
"Penso várias vezes no quão imortal é este poema. É sobre o que nos move. Vou cantá-la para sempre."
Sérgio Godinho, "A Noite Passada"
"Desencontros com um travo nostálgico, um compromisso bonito entre angústia e paz. Poema enigmático, visual. Há noites em que toca em loop."
Sérgio Godinho - Amigos do Gaspar, "Canção dos Abraços"
"É a primeira música que me lembro de ouvir. A minha primeira memória musical é ouvir esta música (a cassete toda) em viagens de carro. Isso e a minha mãe cantar-me para adormecer."
José Afonso, "Coro da Primavera"
"Difícil escolher uma música do Zeca. Este disco (Cantigas do Maio) é um marco. Acho genuinamente que não se é dado o crédito musical devido à obra do Zeca. A quantidade de músicas completamente únicas, o vibrato especial da voz dele, a estética muitas vezes a roçar o experimental e acima de tudo as melodias sem igual."
Manel Cruz, "Ainda Não Acabei"
"Não sei se o Manel o disse numa entrevista, mas esta música partilha algo com 'A Mulher do Fim do Mundo' da Elza Soares, em que ela canta repetidamente 'eu vou cantar até ao fim, deixem-me cantar até ao fim'. Acho que é acima de tudo a ideia de que tem de ser, é inevitável para eles. O Manel é um artista especial e que se limita por aquilo que lhe vai apetecendo que o limite."
Carlos Paredes, "Divertimento"
"Mergulhei na obra do Paredes há uns meses. Criou e transportou o repertório de um instrumento com peças lindíssimas, muito interessantes do ponto de vista mais analítico musical e parece-me transportar uma espécie de identidade musical nacional. Uma personalidade vertical e simples. Incontornável."
David Bruno, "Mesa para dois no Carpa"
"Este beat podia ser uma faixa do primeiro disco que ouvi do dB, [Beat]erapia. Desde então, através de Conjunto Corona e depois com 4400OG, a mudança para David Bruno e os três discos lançados consequentemente, o David tornou-se uma referência nacional (e não só, a meu ver) no que diz respeito a idealizar narrativas, conceitos, paisagens para os seus discos e executá-las de forma sublime. Desde a escolha dos samples até à forma especial como prepara todas as edições físicas, tornou-se num caso de estudo no que diz respeito ao álbum conceptual. E a sua obra vive disso."
Johnny Virtus, "Caminho de Volta"
"A minha escola de rap é acima de tudo a obra do Virtus. Iluminou para mim o caminho mais poético do rap. Há poucas escritas sem igual, a dele é uma delas. Ninguém consegue ser o Virtus, nem vale a pena. O Universos faz 10 anos em janeiro de 2021. Estou à espera que ele descubra o caminho de volta."
Bernardo Sassetti, "Reflexos Movimento Circular"
"Este In Motion é provavelmente o meu disco preferido do Sassetti. Parece-me que deixou muita coisa por fazer. Fica uma obra linda."
HAĒMA, "ILHA"
"Descobri esta dupla esta semana. O disco preamar saiu em 2018 e espero que tenham mais coisas a caminho. É um projeto muito fresco, com toques experimentais de muito bom gosto. Um take bonito sobre o que pode ser parte do futuro da música portuguesa. Não vos conheço, mas voltem."