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Miguel Araújo: “Sou mesmo eu a falar, sem pudor nem filtro”

“Talvez se eu dançasse” é a nova canção de Miguel Araújo, lançada no dia 11…

Texto de Rita Dias

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“Talvez se eu dançasse” é a nova canção de Miguel Araújo, lançada no dia 11 de novembro de 2019. Canção e não single, que remete para uma “fração de qualquer coisa” como referiu o músico na entrevista que deu ao Gerador, uma vez que Miguel Araújo está agora a iniciar um caminho independente em que cada canção vive por si, sem elo com as que passaram e com as que virão

Videoclipe da música “Talvez se eu dançasse", realizado por André Tentugal

A Ilha do Farol, no Algarve, foi a paisagem que André Tentugal (realizador do videoclipe) e Miguel Araújo escolheram para dar corpo visual à canção, numa “sincronia mágica” que o músico ilustra nesta entrevista. Na dança contínua e livre das várias personagens que surgem no videoclipe, está subjacente a magia de “Talvez se eu dançasse”, que nos incita a ser a versão mais alta de nós próprios/as.

Depois de canções tão marcadas pelo pormenor, como foram “Os Maridos das Outras” (2012), “Balada Astral” (2013) ou “1987” (2017), chega-nos agora a singularidade enquanto autor e compositor que se apresenta na primeira pessoa. Miguel Araújo, “sem pudor nem filtro”, entrega-se à música para falar de si, das suas reflexões e das danças que ainda estão por dançar. É com este mote que avançamos para uma conversa com o músico do Porto.

Gerador (G.) – Nas tuas palavras, “Talvez se eu dançasse” mostra-nos o Miguel Araújo na primeira pessoa. Tens uma visão de ti sempre em supervisão de ti?

Miguel Araújo (M.A.) – Todos temos. Há sempre um “eu” plural. Basta analisar a frase: “Eu tenho de me controlar para não comer chocolates.” É o “eu” contra o “me”.

G. – Enquanto compositor e criador de novas realidades, dás um pouco da tua história camuflada às personagens das tuas canções?

M.A. – Não necessariamente, nem mesmo quando o narrador fala na primeira pessoa. Mas neste caso, sou mesmo eu a falar, sem pudor nem filtro. A autoconsciência inibe, boicota, eu só tive coragem para me entregar sem reservas à música com 34 anos, até lá tive vergonha. Mas avancei, muita gente não avança. No meu caso, era a música.

G. – Quando afirmas que geralmente as canções têm um parto sofrido, ao contrário deste single que saiu "de um jorro", é por seres exigente na forma como compões, pela obra em si ou pelo que julgas que os teus ouvintes esperam do Miguel Araújo?

M.A. – As canções é que exigem tudo de mim. Elas é que sabem quando estão prontas, elas avisam “já está”, habitualmente. Pode demorar oito anos ou oito minutos. As minhas músicas são o que elas quiserem ser, eu procuro não me meter. Se não é o tal policiamento, a tal autovigilância de que esta música fala. “Ai meu Deus, o que é que as pessoas vão pensar.”

G
. – Nesta nova forma de edição independente de singles, sem a pressão de “ter de andar a pastorear 12 canções em rebanho”, podes descrever-nos o que representa para ti a liberdade artística e criativa que alcançaste?

M.A. – A hegemonia do álbum durou várias décadas, mas nem sempre foi assim, no mundo do songwriting. Começa logo que eu sou isso mesmo, não sou um album-writer. O álbum, as 12 canções por atacado, nasceu mais por razões de comércio do que por outra razão qualquer. Já lancei vários em que o imperativo, o motor, o contexto, era o conjunto das canções. Mas também por isso me furtei a dar importância a canções que não pediam companhia para o serem. Está a ser libertador para mim encarar canções como objeto artístico em si, fim em si. Pensar na capa, no vídeo, em tudo o que um lançamento envolve, mas sem ter de sujeitar as canções a uma norma qualquer que as obrigue a sujeitarem-se umas às outras. Sai é muito mais caro, ao fim de 12! Mas o comércio não pode interferir com os caprichos da arte.

G
. – Tens mais singles guardados na gaveta, que já sabes que editarás em 2020, ou vais deixar em aberto o que editar, em função da tua vontade em cada momento?

M.A. – Estou a gravar várias canções (não gosto sequer de chamar singles, isso pressupõe que será uma fração de qualquer coisa). Vou gravando, gravando, sem me sentir como o equilibrista que vai rodando 12 pratos ao mesmo tempo (sempre senti isso a cada álbum). Gravo, experimento… Agora tenho um estúdio em casa, faz parte da minha vida doméstica, com naturalidade, tempo, fluidez… Ainda não sei quando sairá a próxima, mas provavelmente já a tenho gravada. Ou então se calhar ainda nem sequer a fiz. Não me vou obrigar a nenhuma cadência, nenhum horário.

G
. – O videoclipe de “Talvez se eu dançasse” foi gravado na Ilha do Farol, no Algarve. O André Tentugal, realizador do videoclipe, na sua partilha nas redes sociais, afirmou que esta já era uma vontade antiga tua. Queres contar-nos melhor a história desta combinação de vontades?

M.A. – Nunca lá tinha ido, mas já a tinha visto ao longe, aquele farol misterioso, as histórias que me contaram, as estradas estreitas sem carros. Algo ali me chamou, andei a falar na Ilha do Farol enquanto local mítico e encantado a todos os meus amigos. Quando o André me sondou sobre essa hipótese foi daqueles momentos de sincronia mágica.

G
. – Sentes que se dançássemos mais como se ninguém nos visse ou nos medisse os passos, chegaríamos a um ponto em que estaríamos inteiros e inteiras na alta versão de cada um/a de nós

M.A. – Não tenho qualquer dúvida disso. Dançar e cantar são apenas metáforas. Pensar na consequência acaba por aniquilá-la quase sempre. Como diz o Dave Chapelle ao Seinfeld na brilhante e inspiradora série Commedians in cars getting coffee, a ideia, ela própria, é que tem de ir a guiar o carro. A ideia encosta, pergunta se queremos entrar e informa que ela é que vai ao volante. Para onde? Não faço ideia, diz ela. Vens ou não vens? O mal é quando decidimos que nós é que devemos guiar. Dá em nada. Não somos nós que temos de ter as ideias, julgo eu. São as ideias que nos têm de ter a nós, inteiros, disponíveis.

G. – Sabendo que o Gerador é uma plataforma de promoção da cultura portuguesa, dos projetos com menor visibilidade aos de maior visibilidade, do litoral ao interior, e tendo em conta que já trabalhaste com editoras, mas que agora optaste por trabalhar de forma independente, que sugestão deixarias a um/a artista que esteja agora a dar os primeiros passos?

M.A. – Neste mundo de grandes mudanças a cada dia, o mais importante é os artistas (autores) serem donos exclusivos da sua obra criativa. Qualquer hipótese que não contemple esta regra de ouro é absolutamente inaceitável aos meus olhos. Isso exclui qualquer hipótese de colaboração com editoras multinacionais que operem em Portugal. Nem sequer têm margem para aceitar esse cenário, os contratos vêm de lá de fora já prontos, numa base de pegar ou largar.

 

Texto de Rita Dias
Créditos: Fotografia de Paulo Bico

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