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Mudar é fácil, dizem, mas não “socialmente”

Há quem não contenha o excitamento quando está nas vésperas de uma grande mudança, outros…

Opinião de Ana Pinto Coelho

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Há quem não contenha o excitamento quando está nas vésperas de uma grande mudança, outros há que se sentem sem chão só por pensar numa alteração à sua rotina. As pessoas não são iguais, e ainda bem, mas vivemos numa época de mudanças (plural) que podem ter até um ritmo diário.

Das mais pequenas alterações de agenda às decisões mais importantes, temos de ser resilientes, fortes, astutos e muito pacientes para conseguir sobreviver a todas elas sem ficarmos afectados. E isto tem muito que se lhe diga.

Há mudanças de todos os feitios, tamanhos e importâncias. Mudar de casa é uma das maiores, mas imaginem mudar de país com toda a logística que obriga com a certeza que deixamos para trás quem gostamos e quem nos fez vida.

E são exactamente os amigos e conhecidos que não nos deixam dar o passo para uma grande mudança, desta vez social e digital: sair das redes sociais onde estamos conectados há tantos anos.

Sinceramente, façam-vos a pergunta: estão ou não fartos, cansados, moídos, saturados de estar constantemente conectados, disponíveis, à distância de um simples click, plim, ou toque? Já vos falei do F.O.M.O. (Fear of Missing Out) que agora tem diversas ramificações, mas as queixas de muitos utilizadores acumulam-se porque estão fartos de estar ligados a redes que se transformaram em receptáculos de ódio, violência verbal, guerras sobre tudo e nada a que se explode à mínima discordância.

Sim, as pessoas estão cansadas, desmoralizadas, ansiosas e, muitas vezes, num estado depressivo. Mas este sentimento contra as redes sociais já vem de trás. Somos subjugados pela vontade e capricho das grandes empresas e de quem lhes está à frente. Somos piões num jogo de poder que nos coloca em situações absurdas, como se fossemos um exército contra um outro da rede social adversária. E quase nem pensamos ou hesitamos em entrar nessa batalha.

Contudo, os sinais estão aí: as redes sociais mais conhecidas e usadas estão a entender que o futuro não será tão brilhante quanto o passado, e presente em alguns casos, e o cenário “digital social” está a mudar à velocidade da própria Internet.

Surgem novas soluções e práticas, algumas que combatem o figurino das mais instaladas como, por exemplo, não poder comentar sem dar a cara (ou voz) o que significa que deixa de haver espaço para os mais instigadores de violência.

Portanto, seria fácil fechar a conta numa e abrir na mais recente. Mas não. Não é nada fácil, é um passo complexo que, mesmo que o queiramos dar, temos sempre dúvidas e receios. Afinal, não é só mudar de casa, é também abandonar todos os amigos que lá estão, os reais e os sociais, os grupos de conversa e partilha, as memórias, tantas memórias, fotografias, vídeos, sentimentos, derrotas e vitórias.

Ao olharmos para o botão de cancelar e apagar o histórico, surgem em catadupa todos esses momentos e aventuras, partilhas e gargalhadas, momentos maus e bons, reencontros de colegas e familiares, enfim, toda a história de vida de uma grande família, não é?

O nosso problema é que essas grandes empresas sabem mais de nós do que, muitas vezes, nós próprios. Essa data acumulada coloca-nos um número e um perfil de consumidor. Somos alvo para publicidade e vendas, vontades e credos, listas políticas e movimentos sociais. E, agora que percebemos isso, queremos sair do barco, mas esquecemos que aceitámos as normas sem as ler. E este contrato é leonino contra nós.

Mais recentemente, tem-se falado muito (e tentado) retirar este poder às grandes Big Tech, punindo-as com multas, obrigando-as a uma maior transparência, tudo em busca de um certo equilíbrio.

Um dos caminhos é obrigá-las a ser “compatíveis”, ou seja, que estejam abertas às outras para que nós possamos caminhar entre todas a nosso bel-prazer. Afinal, temos os mesmos amigos e conhecidos em todas elas, porquê estar a perder tempo a entrar e sair de cada uma para ver o que se passa?

É aqui que entra a já badalada Web 3.0 com a sua fórmula DWeb (o D vem de “descentralized”, ou seja, descentralizada) e que busca conectar as pessoas de forma mais privada, segura e aberta. Um regresso ao conceito da verdadeira World Wide Web que passa por pontos de encontro (a que chamam Nodes) organizados localmente e que convidam à comunhão e troca de conhecimento.

O crescimento destas novas comunidades é físico, mas têm o coração digital. É uma mudança drástica, um pouco à semelhança dos encontros em cibercafés nos anos 90 após grandes noitadas a falar pelos Chat dos Mirc e IRC.

Resumidamente, é o encontro pela alegria da comunhão, o que não vai ao encontro dos desejos massificados das Big Tech que tentam, por todos os meios legais e ilegais, controlar quem vemos e com quem conversamos. Chamam-lhes “algoritmos” mas, se forem ler e perceber toda a dinâmica, percebem que já somos controlados por bots, coisas sem alma, apenas concentradores de dados que decidem em milésimos de segundo o que vai ser o nosso dia social/digital.

Está chegada a hora da despedida? De deixarmos para trás esses casulos que foram a nossa casa tanto tempo? E as memórias e o histórico e os amigos, reais ou digitais?

Cada um saberá de si. Mas um detox pode fazer parte do renascimento para o tal “novo normal” em que tudo terá de ser, forçosamente, diferente. A começar pelos nossos velhos hábitos para que continuemos a ter liberdade para optar por alguns.

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

-Sobre Ana Pinto Coelho-

É a directora e curadora do Festival Mental – Cinema, Artes e Informação, também conselheira e terapeuta em dependências químicas e comportamentais com diploma da Universidade de Oxford nessa área. Anteriormente, a sua vida foi dedicada à comunicação, assessoria de imprensa, e criação de vários projectos na área cultural e empresarial. Começou a trabalhar muito cedo enquanto estudava ao mesmo tempo, licenciou-se em Marketing e Publicidade no IADE após deixar o curso de Direito que frequentou durante dois anos. Foi autora e coordenadora de uma série infanto-juvenil para televisão. É editora de livros e pesquisadora.  Aposta em ajudar os seus pacientes e famílias num consultório em Lisboa, local a que chama Safe Place.

Texto de Ana Pinto Coelho

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